terça-feira, outubro 05, 2010

Heil!

Marcelo Alcoforado

Empolgado, como sói ser, mais ainda quando no palanque, o senhor Luiz Inácio da Silva, presidente da República, talvez como corolário de excessiva veemência e transbordante ódio, decidiu, segunda-feira 13, decerto baseado na sensação de plenipotência, que o Democratas, o DEM, deve ser extirpado da política nacional. O poder, como se vê, é maravilhoso.

A reação, contudo, foi imediata. E fortíssima. E em resposta à extirpação pretendida veio uma estripação verbal que deixou à mostra as vísceras presidenciais. Jorge Bornhausen, presidente de honra do DEM, aconselhou ao presidente não faltar com a verdade, a não inaugurar obras inacabadas e a não ingerir bebidas alcoólicas antes dos comícios. Concluiu registrando que a manifestação presidencial foi chavista, incompatível com a democracia. Já seu filho, o deputado Paulo Bornhausen, foi ainda mais incisivo, dizendo que o presidente é acobertador contumaz da corrupção que grassa no seu governo e no seu partido, reputando-o sem moral nem direito de agredir o povo de Santa Catarina. Referiu-se, ademais, a uma retórica e a uma truculência nazifascista que, segundo disse, tentou dividir o Brasil em dois países, de pobres e ricos. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, o ex-prefeito daquela capital César Maia lembrou que o termo extirpar era usado por Hitler para se referir à eliminação dos judeus. É verdade, porém ao menos nas palavras setembrinas o “Führer” foi mais brando.

Explica-se: a fala de Luiz Inácio da Silva, presidente do Brasil, aconteceu no dia 13 de setembro de 2010, enquanto Adolf Hitler, então chanceler da Alemanha, no dia 14, só que há 75 setembros. Em 1935, Hitler dirigiu-se a 50 mil jovens nazistas e deixou registrada uma frase muito diferente das palavras iracundas do presidente brasileiro. Disse então o austríaco: “Vamos no nosso caminho e deixemos os outros em paz. Não devemos fazer mal aos outros, desde que não recebemos mal dos outros".

Palavras melífluas, mais ainda se contrapostas ao ideal de extirpação do senhor Luiz Inácio da Silva, concorda?

Tudo bem: diante de tanta brandura você pode alegar que naquele ano Hitler não era, ainda, o ditador que viria depois, o que é verdade, mas em contrapartida pode-se dizer que, da mesma forma, Luiz Inácio da Silva também não o é.

Ainda?

A Propósito - 16/9/2010 - Número 624, ano 9

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