Hugo Caldas
Não estou querendo me referir a cachoeiras, ou quedas-dágua como a Niagara Falls, ou a Sete Quedas do Iguaçu, e sim a doença. A perda progressiva da visão. A catarata em questão, de acordo com os médicos, é uma patologia dos olhos que consiste na opacidade parcial ou total do cristalino ou de sua cápsula que pode ser desencadeada por vários fatores, como traumatismo, idade, diabetes, ou até mesmo o uso de medicamentos. Tipicamente apresenta-se como embaçamento visual progressivo que pode levar à cegueira.
No meu caso, o inexorável ônus da idade é que começou a complicar a minha vista. Há muito agendada a cirurgia finalmente foi marcada. Para poupar o nosso tempo, deixarei de lado todo o procedimento de exames pré-operatórios e que tais. Vamos logo aos finalmentes.
Dia aprazado, chego ao hospital às 7hs da manhã e em jejum desde a meia noite. Fui conduzido junto com outros "operandos" à uma sala onde tive que trocar a roupa por uma batinha de tecido leve e calçar sapatos e colocar chapeuzinho que me parecia aquelas toucas que a minha mulher usa para tomar banho. Ainda bem que fui de cuecas samba-canção. Com a bata na altura dos joelhos devo ter ficado uma figura bem ridícula. Sou então encaminhado para uma outra sala com ar condicionada ligado no máximo e aí começa realmente todo o procedimento.
Contei umas oito ou nove pessoas sentadas cada uma em uma espécie de cadeira do papai com um suporte de ferro ao lado de onde pendia um recipiente com soro, e lá fiquei tomando soro e vendo alguém anotar de vez em quando alguma coisa em uma papeleta pregada na parede logo atrás de mim. Ao sentar uma atendente pudicamente me cobriu as pernas com um cobertor: ao lado uma menina de uns quinze anos chorava desesperadamente. Ia fazer uma cirurgia de correção de estrabismo: uma outra atendente vinha de vez em quando e a consolava... uma mulher ao meu lado direito falava pelos cotovelos... veio fazer a operação do segundo olho e relatava em voz alta pormenores da primeira cirurgia dizendo que não doía nada, etc... eu não lhe dei a mínima atenção a fim de não encorajá-la a falar mais ainda...em minha frente uma senhora já idosa era o contrário, calada feito uma porta... outra, ostentava um tapa-olho denotando que já havia feito a cirurgia e continuava a tomar soro, aliás estávamos todos tomando soro e colocando colírios vários.
Pronto, chegou a hora H. Levaram-me para a sala de cirurgia e me deitaram em uma espécie de cadeira de dentista a fim de iniciarem o procedimento. Cobriram-me com vários panos e plásticos deixando apenas um buraco, na altura do olho esquerdo, por onde iriam trabalhar.
Uma voz feminina me disse: "vou lhe dar duas picadinhas no olho, vai ser desagradável mas não vai doer nada". Realmente não doeu nada mas o desagradável ficou por conta de ver a agulha sinistra se aproximando para a picada e lógico, a conseqüente anestesia. Em segundos o meu olho cresceu tomando forma e tamanho de uma manga espada.
Ouvia constantemente uma voz metálica em inglês, oriunda de alguma máquina, gravada suponho, dando instruções... ao final do processo lavaram o meu olho, acho que espremendo um chumaço de algodão com àgua ou soro, não sei bem... O que senti na hora foi meio fantasmagórico, meio irreal, mas eu garanto a veracidade. Eu juro que vi quando aquela água derramada no olho me parecera alguém despejando um imenso balde com água em um enorme salão.
Daí a pouco o "consumatum est"... Pronto acabou... Estava livre para ir para casa....faço o caminho inverso... minha acompanhante trouxe a roupa e foi aí que percebi que realmente não doía e com um tampão no olho operado eu estava vendo por apenas um, o olho direito.
Dia seguinte voltei ao hospital para a retirada do tampão. Foi-me receitado uma bateria de colírios com horários absolutamente inflexíveis. O pós-operatório está seguindo seu rumo com seus colírios e com um acontecimento absolutamente inusitado. Nunca pensei que este mundo velho sem porteira fosse tão bonito. O cristalino novo me deu a chance de ver as cores bem mais vibrantes. O verde é mais verde, o vermelho é mais vermelho e o azul é mais azul formando uma aquarela do Brasil que eu cantei de norte a sul.
Não é nada agradável um olho vendo tudo na maior claridade enquanto que o outro apresenta um cenário meio amarelo desbotado. No mais é agradecer o empenho dos amigos, a perícia dos médicos e a expectativa da volta no próximo dia 21 quando terei mais um encontro com o médico cirurgião. Marcaremos a segunda operação? Assim espero!
Um comentário:
Caro Hugo...Li o relato de sua cirurgia....Estou fazendo os pre-operatorios para catarata do meu olho esquerdo talvez
ainda este mes...Estou ansioso para as cores mais vivas, a minha cnh com 3 anos (fiz renovação agora e so me deram 1 ano, com a promessa que me dariam 3 anos após a operação...
Espero que na lavagem pos cirurgia não me joguem um balde agua...ok? um abç, té mais ver... Luna
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