Hugo Caldas
Fez um ano agora no mês de Junho passado que nos mudamos da casa, onde morei por 35 anos e que se tornou inoportuna para uma pessoa da minha idade. Fui muito feliz naquela casa. Apesar das muriçocas. Apesar do calor insuportável. Apesar de nos últimos anos maldizer o sr. Jarbas Vasconcelos que imaginou e perpetrou o famigerado "Binário da Rua Barão de Souza Leão", providência que nos brindou com a possibilidade de conviver com 38 linhas de ônibus passando na minha porta, quando antes eram apenas duas. Isso praticamente me expulsou da minha casa. Era uma casa relativamente espaçosa onde havia lugar para tudo e mais alguma coisa. Tinha o meu gabinete onde dava as minhas aulas. Pequeno recanto em um dos terraços que funcionava como oficina com um arremedo de bancada que me servia muito bem. Sem falar nos jardins aonde tempos atrás ousei criar umas tantas penosas. Não esquecer da piscina, naturalmente. Todos os dias invariavelmente às 5 da tarde me aparecia de visita um belo beija-flor. Sobrevoava a água, dava uns rasantes se molhava, pairava no ar, olhava pra mim e ia embora para recomeçar o mesmíssimo ritual no dia seguinte. Quando, por alguma razão eu não estava em casa e perdia a sua visita o dia ficava incompleto para mim. Onde andará hoje o lindo beija-flor a quem apelidei de "Geninho"?
Sinto falta da minha casa, dos seus espaços da história impregnada naquelas paredes. Lá nasceram e se criaram dois dos meus filhos. Lá, tivemos em tempos alternados, a oportunidade de conviver com Frida e Juma duas lindas e amorosas cadelas. E ultimamente com o Ipiranga, um gatinho aleijado das perninhas traseiras mas que era uma alegria só. Lá, a minha mãe viveu quatros dos seus últimos anos conosco, se queixando das formigas das muriçocas, do calor e do Ipiranga, até finalmente voltar para Brasília onde ano passado ela se foi para o outro lado.
Sinto falta da minha casa. Aqui neste apartamento onde hoje moramos não existem as miríades de muriçocas lá da casa, nem o calor escorchante mas, não sei bem a razão sinto-me meio aprisionado, sufocado, apesar da brisa que sopra do mar. Aqui não tenho lugar certo para mim e as minhas coisas. Onde colocar a prancha da minha pequena oficina. Tudo está ainda meio bagunçado desde a mudança há um ano atrás. Vivo disputando com os filhos o espaço do pequeno quarto onde despejam e guardam entulhados o que não pode aparecer às vistas das pessoas que nos visitam.
Sinto-me isolado mas sei que na hora precisa não me vão faltar amigos com quem possa conversar e conviver. Se bem que de vez em quando algum ou alguma desaparece me deixando no ora-veja! Dói, como o diabo! Sábado passado casal de velhos amigos me apanhou para assistirmos no Cine São Luís a "La Dolce Vita", de Fellini. Fiquei muito grato pela lembrança que tiveram pois nós assistimos juntos quando a fita por aqui chegou em 1961. Belo filme. Impacto igual ao causado quando o vi pela primeira vez.
Sei que estou nostálgico hoje. Estou convalescente eis tudo, tentando me restabelecer de uma excomungada de uma gripe, agravado com a minha proverbial dificuldade em respirar, e com uma cirurgia de catarata marcada para o dia 17 deste. Há todo um procedimento para a operação no que se refere à medicamentos. Torna-se então difícil superar a gripe.
Este texto servirá como uma espécie de "até breve". O Blog deverá continuar por obra e graça dos amigos, enquanto estiver de férias. Assim espero. Não tenho idéia de quando estarei liberado para leituras.
A gente se vê ...
9 comentários:
Belo texto, consideradíssimo amigo Hugão! Eu me sentiria assim, se de repente tivesse que deixar este sítio Maravalha, refúgio dos últimos 34 anos.
Estaremos aqui, os da família Japiassu, seus amigos desde a infância paraibana, a torcer por sua saúde.
Receba aquele abração sempre saudoso e afetuoso do seu fã, Japi/Galego/Moacir-de-Neusa
Hugão.
Não se avexe! Há coisas que não tem jeito mas esse não é o seu caso. Voce é um amigo leal, um paraibano arretado, um pernambucano honorário, e com honras, e não vai ser uma cataratazinha que vai lhe derrubar, muito menos um apartamento sensaborrão, que praticamente quase todos eles são. Assim que voce tiver alta, e não ficar em baixa, apareço no citado imóvel. Já pensou a negaline ser uma das primeiras coisas que voce vai ver com os dois olhos perfeitos?! Ninguém merece... Até lá conte com a minha solidariedade, minhas orações, meus votos de pleno restabelecimento, tudo que a minha mãe me ensinou que uma moça educada devia dizer numa situação destas. Ela vai ficar orgulhosa em saber que eu aprendi, depois de tantas palmadas (muito bem dadas por sinal, apesar do que dizem atualmente. Na verdade apanhei pouco, quando penso no que aprontei...). See you when I see you.
Negaline
Amigo Hugão: Receba a solidariedade de quem enfrenta idêntica circunstância à sua, no campo da moradia e da saúde.
Deixei minha casa no Bessa, estou engaiolado em Tambaú(mesmo a 500 metros da praia, não vejo o mar), em permanente tratamento da velha carcaça.
Sofro de uma neuropatia crônica que torna o prazer da navegação na Internet num suplício, fiz cirurgia de catarata, por conta do excesso de remédios apanhei a bactéria "elitobacter pilori" e uma gastriste, fiz check up urológico com medo da próstata(essa tá normal, graças), tenho que tomar medicamento permanente para controle da pressão, submeter a uma dieta alimentar rígida e não dispensar o ansiolítico diário, para não cair na depressão.
Vou começar um tratamento para o sono e para o "ronco", antes que minha mulher tenha que mudar de quarto.
Mesmo assim, não perco o bom-humor, busco as coisas divertidas na rede virtual, embora perca a esportiva quando se tata de analisar o quadro político do Brasil.
Cést la vie, amigo, c'ést la vie!
Abraços Virgolino
Esse, decididamente, não é o meu Cachorro Camurim: rabugento, cheio de carrapato... Imagine só: com saudades das muriçocas e do calor!... Ainda por cima, preocupado com uma cirurgia de catarata que até Zé Arigó fazia usando a lâmina de um canivete ou de uma gilete enferrujada! Que é que é isso Camurim? Prefiro lembrá-lo dançando o passo doble nos intervalos dos ensaios de Isabel do Sertão. Esse sim é o meu Camurim!
Pra seu governo, fiz em maio, essa cirurgia de catarata e saí da clínica com a gota serena vendo tudo, sem óculos, como nos velhos tempos. Tenho, agora, olhos de lince, meu véio.
É verdade que 35 anos é uma vida e a gente se apega ao cantinho onde a gente fez o ninho. Se as intempéries acontecem o certo é procurar outra árvore, construir novo ninho e usufruir as coisas boas do novo local.
Volte logo porque adoro ler o seu blog. Bjs. Naza
Caro amigo Hugo. Minha historia parece um pouco com a sua, só que ainda estou resistindo a morar num ap. como querem meus 3 filhos... Moro desde 1976
numa casa com frente e fundos para ruas distintas, c/piscina 6 x4m area de lazer com estacionamento para 6 carros, um belo jardim que meu empregado cuida sob orientação de minha cara metade. (e que metade. Completo no dia 22 próximo 74 anos(ou 15 Anos?) e tb estou fazendo exames para catarata no olho esquerdo.
p completar minha CNH venceu no dia 3 p.p....Vou tentar renovar ainda antes de fazer a catarata....Mas como vc eu tambem sou um guerreiro como mostra uma placa na minha churrasqueira "AQUI MORA UM GUERREIRO"...SERÁ.??? uM ABÇ LUNA
Meu pai agora tocou na ferida. Passei minha vida toda naquela casa, e hoje, apesar da brisa e da falta de muriçocas, meu coração ficou na Líbia de Castro Assis, número 25. Casa onde passei minha infância, adolescência, descobrindo a vida, trelando e sendo feliz. Quando passo pela frente hoje, e vejo no que se tornou, da um aperto no peito. Mas a vida segue. Tem que seguir.
Hugão, sei que vc está de férias. Não sei se para receber emails.Espero que receba este.
Não sabia que vc havia se mudado, muito menos para um ap. Também sinto saudades daquela casa, boas lembranças.Imagino você.Mas, vamos por partes:1-Você agora está em ambiente silencioso, isso é ótimo;2-Moro em ap e tenho muitas plantas, principalmente na varanda. Lá "crio" passarinhos soltos. Vários tipos me visitam todos os dias, inclusive os beija flores. Cantam muito para mim e me dão um imenso prazer. Coloco comida para eles todos dias e sei que se sentem em casa.Veja se vc tem condições de fazer a mesma coisa. Eles sobem mesmo em andares altos;3-Não adianta lamentar o que passou. O passado nos ensinou muitas coisas.Inclusive a manter os amigos de quem gostamos. Assim, como nós dois.Uma das coisas mais importantes desse mundo são os amigos verdadeiros. Aqueles que lhe deixaram não deviam valer a pena.O presente e o futuro é que são importantes;4-Você é um cara inteligente e lúcido. Use isso, mais sua criatividade(que não é pouca), para se adaptar aos novos tempos. Segundo a doutrina cardecista-na qual acredito- nada acontece por acaso;5-Sua cirurgia vai ser ótima. Você vai ver muito melhor( o que, aliás, é um perigo). Vamos pra frente. É pra lá que se deve andar.Dê noticias da sua saúde e das suas peripécias. Um enorme beijo, Lucinha Rosas
Bom.. sua atenção é desafio..o texto vai ser reescrito diferente, quem
sabe mais contido. Como lhe disse sentí inveja de sua saudade. Escreví
sobre o fato de nunca mais ter morada em casa, ha exatos 38 anos que
moramos em apê e em alguma época "apertamentos" para família com 4
filhos. Nunca fui visitada por beija flores ou mesmo pardalzinhos,
também não oferecí agua ou alimentos e nunca parei mais de 15 min na
varandinha do quarto. Nosso apê não tem varandas na sala é
envidraçada. Ao longo dos anos fomos perdendo o hábito de comemorações
em grandes grupos, em datas festivas, quase sempre vamos a
restaurantes e depois de 1 hora de uso e somos quase que convidados a
ceder a mesa para outras famílias. E a pressa...como vê ha coisas que
nem saudade se pode ter porque não há registros para se lembrar. Um
poeta espanhol disse que das coisas tiradas perdidas de nossas vidas
tem uma que ninguem pode apagar: é a saudade; finalmente Hugo pergunto
se a "plastica" ou substituição do nosso cristal opaco por um 100%
transparente não é uma boa troca além do (ganho de novo) brilho dos
olhos. Glauce
Hugão
Realmente esta casa tem uma história de vida que guardo na lembrança de um tempo que não voltará jamais mas não custa re-viver algumas cenas familiares...
Lembro de Eden correndo com uma galinha viva no braço presente de Leni para ser guisada mas ele a batizou de Giselda e virou animal de estimação. Lembro de Huguinho correndo atrás de Juma e de Nenena sempre pronta para o clic da sua máquina fotográfica. Lembro da alegria dos quatro tomando banho de mangueira no jardim junto a caixa d'agua. Lembro dos almoços domingueiros regado a um bom cozido que Trajaninho "adorava" e que todos sentavam em volta da mesa só pelo prazer de estarmos juntos.
Tudo passa tão rápido e com as mudanças valorizamos o ontem e amadurecemos para o amanhã.
Amei a foto da casa cedida por Cacau.
Bjs, Mary
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