domingo, setembro 12, 2010

Façam alguma coisa


MARCUS ARANHA

Mas se pode envelhecer com menos dores e mais qualidade de vida.

Todo mundo sabe do provérbio “a experiência é a mãe da ciência”. Outro adágio popular diz: “o trabalho do velho é pouco, mas quem o despreza é louco”. O primeiro é um argumento insofismável e o segundo demonstra que a experiência do velho é muito mais importante que sua capacidade de trabalho. Apesar do país estar envelhecendo, parece que só os velhos acreditam em adágios, pois não se dá a eles a atenção que lhes é devida..

No Brasil o grupo de idosos aumenta rapidamente.

Em 1940, a descoberta da penicilina já fez a média de vida aumentar. E a partir dos anos 50, com o lançamento da pílula anticoncepcional, a natalidade diminuiu. Dos anos 60 em diante, a geriatria avançou celeremente dando mais vida aos idosos. Os novos métodos anticoncepcionais, principalmente nas grandes metrópoles, colocou à disposição dos homens a vasectomia, e das mulheres, pílulas, DIU, diafragma, anticoncepcionais injetáveis e até implantes subcutâneos de drogas contraceptivas. Tais métodos e o uso da camisinha contra AIDS, somados à esterilização cirúrgica massiva de mulheres, através de ligadura das trompas, diminuiu cada vez mais os nascimentos.

Resultou o envelhecimento da população e a modificação da pirâmide demográfica do país. A base onde estão os jovens se estreitou, enquanto se alargou o corpo e a ponta, com maior número de adultos e velhos. Veio uma conseqüência social imediata: mais pressão por empregos e mais necessidade de assistência médica aos idosos.

Primeiro, a geriatria tem sido uma especialidade médica relegada a segundo plano. Segundo, não existem hospitais para idosos, de construção muito cara, pois têm de ter condições especiais, como piso antiderrapante, banheiro com barras de apoio, área de lazer, cadeiras especiais, além de mais enfermeiras e médicos. A saúde pública não tem leitos para idosos e a rede hospitalar privada não se interessa por esse tipo de paciente, pois ele representa o doente anti-lucro. Custa muito e dá muito trabalho. Qual o hospital que quer internar um velhinho se tremendo e se urinando, que não consegue nem comer ou escovar o resto dos dentes, sozinho?

Existem uns poucos asilos, onde religiosas ou freiras apoiadas no amor a Deus e ao próximo, procuram fazer algo pelos idosos. Ou hospitais credenciados pelo SUS, para cuidar dos “doentes FPT” ou “doentes terminais”, que acabam se transformando em “campos de concentração”.

Doentes FPT, são os “Fora de Possibilidade Terapêutica”, chamados terminais, porque são acometidos de doenças sem cura e num estágio em que só resta manter a vida e minorar o sofrimento deles. No Brasil, mistura-se “velho” com doente FPT e tratam aos dois de forma idêntica, a pior possível.

Somos um país onde não há cidadania de envelhecimento e sim o exercício pleno do “mata o velho”.

A Paraíba tem o maior percentual de idosos do Brasil: uns poucos leitos onde morrem os nossos velhos. E não temos hospitais públicos para doentes FPT e tampouco casas de saúde especializadas em geriatria. Muitos têm obesidade, incontinência urinária e diminuição da capacidade auditiva e visual, que ainda podem ser tratadas.

O processo de envelhecimento é fisiológico e inexorável. Mas se pode envelhecer com menos dores e mais qualidade de vida. Vivemos num país onde cada qual cuida de si e Deus de todos. Mas vamos cuidar dos idosos, pois temos um Conselho de Saúde.

Faço um apelo ao Conselho Estadual de Saúde: pensem nos velhos. Debatam a questão de como amparar a Terceira Idade.

Façam alguma coisa!

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