quarta-feira, abril 21, 2010

Balança infiel

Ipojuca Pontes

A julgar pela cobertura política dos jornalões do eixo Rio-São Paulo, o candidato José Serra já ganhou as eleições (embora uma discutível pesquisa do Instituto Sensus indique, no que diz respeito à corrida presidencial, empate técnico entre o ex-governador de São Paulo e Dilma Rousseff - 32, 7 contra 32, 4, respectivamente, nas intenções de voto.

Só para dar uma amostra de como trescala o aroma da perpétua: no tocante a atuação dos dois candidatos em campanha, as matérias que vêm sendo publicadas pelo jornal “O Globo” (desde, pelo menos, a convenção do PSDB) primam por um tratamento “áspero” dispensado à candidata de Lula, em contraste com o trato “macio” oferecido de bandeja ao político tucano. De fato, na percepção mais sofisticada da “grande imprensa”, em geral de esquerda, Serra representaria hoje uma linha mais palatável para se chegar ao socialismo do Terceiro Milênio.

Em duas edições, de 10/04 e 04/11/2010, “O Globo” lança críticas veladas ao desempenho da candidata de Lula, por ter ela, em primeiro lugar, se declarado “firme em suas antigas convicções” (presumivelmente de guerrilheira), sem jamais ter “abandonado o barco” - uma alusão frontal ao candidato do PSDB, exilado no Chile durante os “anos de chumbo”. Em seguida, o jornalão ironiza o fato de Dilma ter associado o seu nome ao do candidato a governador de Minas, o tucano Antonio Anastásia, criando a frente “Dilmasia” - uma coligação impossível. Logo adiante, um dos escribas do jornal condena a candidata por ela ter visitado, em Minas, o túmulo de Tancredo Neves, um “ato oportunista”. Por fim, censura a candidata petista por ter ela, ao lado de Lula, atropelado a legislação eleitoral ao fazer campanha burlando as regras do jogo.

O fato concreto é que o “fiel” da balança dos jornalões, no momento, pende em favor do candidato Serra. Quando a isto, em caso de dúvida, basta o leitor examinar o tratamento gráfico, os títulos e os subtítulos, o texto do noticiário e subtexto dos editoriais dispensados aos respectivos candidatos.

Curiosamente, a postura midiática não parece ser de ordem ideológica, visto que, tal como Lula, os “grandes jornais”, intramuros, também se deliciam com o fato de terem ajudado a banir os “trogloditas da direita” (leia-se liberais e conservadores) do cenário político nacional.

Por outro lado, ao menos na aparência, a atitude não parece ser alimentada por razões de ordem econômica, levando-se em consideração que Lula, embora tenha pulverizado uma nota preta entre mais de 5 mil periódicos em todo do país, numa clara estratégia de “cooptação” política da imprensa, também ajudou, e muito, com o repasse de bilionárias verbas publicitárias, a tirar os jornalões do “vermelho”

A bem da verdade, não é difícil encontrar motivos que justifiquem o atual comportamento da mídia “formadora de opinião”. Em primeiro lugar, destaque-se o perfil duro e de escassa credibilidade da candidata petista. Em seguida, o fim próximo do segundo mandato de Lula, prenúncio do ponto final na farta distribuição de polpudas verbas publicitárias entre as empresas mantenedoras da “segunda profissão mais antiga do mundo”. Em terceiro lugar, aponte-se o “estilo britadeira” de Lula, apurado em maciças doses de álcool, muito transparente no trato boçal dispensado aos adversários políticos e demais representantes das instituições públicas. Por fim, mas não menos importante, ressalte-se a armação, conduzida pelo governo, do famigerado Programa Nacional de Direitos Humanos, o PNDH-3, um pacote de maldades que, entre outras barbaridades totalitárias, propõe a criação de “conselhos populares” para controlar a mídia e punir jornalistas tidos como recalcitrantes – uma prática 100% totalitária.

De fato, os motivos são mais que sólidos, mas convém indagar o seguinte: por que os jornalões escolheram Serra como “o candidato”? Por acaso ele, Serra, com aquela cara de quem chupou limão azedo, não é uma figura tão sombria e autoritária quanto Dilma Roussef?

E, por sua vez, tal como a candidata de Lula, não pertenceu Serra a uma organização radical da igreja comunista, a famigerada Ação Popular, responsável, no aeroporto Guararapes do Recife, em 1966, pelo atentado a bomba que exterminou vidas inocentes e iniciou os anos da “Guerra Suja”?

Por acaso não é também José Serra, talvez mais do que Dilma Rousseff, um entusiasta do “Estado ativo e presente” (leia-se empreendedor, indutor, condutor, regulador e fiscalista), panacéia assimilada pelo tucano nas lições do comuna-estruturalista Raul Prebisch, o feiticeiro que levou o Chile de Allende à falência?

E não é ele quem, “avesso aos militares”, mas querendo “melhor proteger os brasileiros”, pretende criar o Ministério (mais um) da Segurança Pública para cuidar de nossas fronteiras, no firme propósito de esvaziar - não se sabe com quais intenções - as Forças Armadas da nação?

Não é José Serra o mesmo sujeito que fez de São Paulo um laboratório de proibições punitivas, especialmente contra o ato de fumar, ao mesmo tempo em que encara (tal qual FHC) o vício da maconha - fonte de espantoso índice de criminalidade - como uma questão de saúde pública - ameaçando, caso eleito, criar fundos públicos para financiar a distribuição controlada da droga?

Mais ainda: não é ele quem, na sua visão cega de “materialista dialético”, desprezando o lado moral e religioso da questão, considera o abordo tão somente um problema de saúde pública?

De fato, políticos como José Serra e Dilma Rousseff, com alguma diferença de temperamento e estilo, são rigorosamente idênticos: nutridos ambos em firmes convicções de natureza ideológica, cevados na retórica de “promessas transformadoras” que jamais se cumprem, pretendem colocar o mundo nos eixos pela força do Estado centralizador e punitivo, conduzido por eles próprios e suas respectivas burocracias partidárias. O próprio Serra, aliás, naquele que passa por ser o seu melhor discurso de campanha, se deixa trair ao confessar que sente “um prazer enorme em servir pessoas” – claro está, “governando-as”. Mas, diabos - e quem não teria!? Stalin, Hitler, Mussolini, Fidel Castro, Lula, FHC, Chavez, Ceausescu, etc., tarados públicos em circunstâncias diversas, diziam e dizem a mesmíssima coisa.

Num Estado “ativo e presente”, o sujeito mandar em milhões de pessoas, regular seus salários e impostos, alimentar os anseios e ilusões da plebe ignara (e depois traí-las), sentir-se diariamente ovacionado pelo entourage palaciano, comer, beber, viajar, acumular fortunas (não precisa roubar, basta economizar os gordos salários e as generosas verbas de rep1resentação), tripudiar em cima dos adversários e ainda por cima (ou por baixo, não importa) papar as mulheres periféricas... caramba!, se o usufruto de tudo isto não representasse um “prazer enorme” o sujeito seria considerado uma besta quadrada ou um monstro de insatisfação!

Para finalizar, aviso que este breve comentário não pretende fazer a cabeça de quem quer que seja, nem muito menos sugerir que se vote em Dilma Roussef, uma invenção despótica do Camarada Lula. No entanto, ele repudia a vil doutrinação repassada pelos jornalões de que o “ponderado” companheiro Serra representa para a democracia (sem adjetivos) um mal menor do que a candidata Dilma.

O propósito aqui, reconhecidamente vão, é apenas o de lembrar que os dois candidatos são irmãos em atos e crença: ambos representam, no poder, a certeza de novos e crescentes impostos, mais controle do Estado, mais expansão da violência e da pobreza, aumento galopante da nomenclatura partidária e, seguramente, a redução das liberdades individuais – ou seja, em duas palavras: mais socialismo.

Em caso de dúvida é só esperar 2011!

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