terça-feira, março 30, 2010

Paraíba: O Tapetão ou a síndrome do Zé Pequeno

José Virgolino de Alencar

Começo com uma frase de Chico Xavier: “Ninguém pode voltar atrás para mudar e fazer um novo começo; mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim”. Não estou interessado em voltar ao passado, para desfazer a decisão que retirou do governo do Estado da Paraíba o candidato eleito e empossou o derrotado.

O problema nem está no fato jurídico duvidoso, estranho, com um sabor de neojurisdicionalidade. O grave está no novo governador empossado. Já tendo dirigido o Estado durante sete anos e alguns meses, seu período administrativo caracterizou-se por irregularidades, beneficiamento de financiadores, de áulicos, como da parentela, em atos de nepotismo explícito.

Antecipando-se ao sistema lulista de governar, o Sr. José Maranhão, um político que nunca conseguiu sair, em mentalidade, das limitadas fronteiras de Araruna, onde domina um caciquismo dos seus ancestrais, aquela velha política municipal do interior brasileiro, onde o chefe político toma conta do patrimônio público, rateia com seus aliados, amigos e parentes, e a população que se lixe.

Chegando ao governo do Estado em cima da trágica morte de Antônio Mariz, em 1995, o cacique ararunense, pensando que estava sentado na cadeira de alcaide de sua atrasada cidade, deu por início os procedimentos típicos do gestor tupiniquim, tribal, cuidando dos seus, não esquecendo que primeiro os teus.

Focou seu objetivo na reeleição e todo o seu projeto de governo convergia para o pleito de 1998, quando poderia continuar aboletado no Palácio da Redenção, morando na Granja Santana, para ele um Castelo de Versailles tabajara. Amoldou a legislação constitucional, econômica, orçamentária, financeira e administrativa a um só objetivo: garantir voto em 1998 e ser reeleito.

Aí valia tudo, menos a legalidade. Os atos, as normas, os procedimentos foram todos ajustados a seus desígnios, tomando conta da cena política e sendo, infeliz de nosso Estado que tolera pacificamente isto, a maior liderança da Paraíba.

Foi reeleito, e já no dia seguinte mirou a eleição de 2002, quando pretendia ser Senador. Lá se foi a máquina administrativa trabalhar para assegurar a senatoria para o homem. E haja irregularidade, licitações duvidosas, obras superfaturadas, emprego para apaniguados e, obsessiva renitência, para os parentes.

E foi eleito Senador, tendo recebido mais votos do que o candidato a governador que então venceu o pleito. Mas não estava satisfeito. Abriu rápido os olhos ambiciosos para voltar ao governo em 2006. Disputou, perdeu, mas não se conformou. Juntou, então, um bando de juristas chicaneiros e entrou com ação para anular a eleição. Contando com a ajuda e a conivência de áreas da justiça, numa longa pendenga, conseguiu assumir o cargo de governador, mesmo tendo sido derrotado.

Aboletado no cargo, volta aquela velha figura que continua atrelado aos hábitos do caciquismo e da mentalidade de prefeito da ainda pequena Araruna. Trás de novo os mesmos asseclas, os mesmos parentes, para adotar os mesmos procedimentos, forçar a lei para satisfazer seus desígnios, que é de se reeleger governador em 2010.

O dinheiro do Estado, cuja conjuntura nacional favorece um bom volume de receitas, está sendo gerido a sete chaves, com números e balanços escondidos, maltratando os servidores públicos, negando-se a pagar as dívidas que, inclusive, vêm do seu período anterior. Mas, para injetar recursos no caixa dois de quem trabalha por sua reeleição não faltará a irrigação do necessário vil metal.

Nosso Estado, com seu passado, com as figuras que honraram a sua história, registrando-se episódios de heroísmo e coragem, apesar de seu mau governo é um Estado grande. Contudo, com sua política baixando de nível por seu governador e por sua troupe, está passando por uma circunstância que lhe ameaça tornar pequena.

E está exatamente sendo dirigida por um Zé, que assumiu no tapetão, de mentalidade sem estatura, dentro de procedimentos que só lhe reduzem a dimensão, vivendo, assim, uma síndrome, a síndrome do Zé Pequeno.

O Autor: Auditor Fiscal Tributário – aposentdo
Professor Adjunto da UFPB – aposentado
Ex-Secretário das Finanças do Estado
Ex-Secretário Executivo(Subsecretário e Diretor Geral) da Secretaria das Finanças do Estado
Ex-Secretário de Finanças da Prefeitura de João Pessoa
Ex-Auditor Geral do Estado
Consultor Autônomo de Finanças Públicas

Um comentário:

Hugo Caldas disse...

Virgolino
O artigo esta ótimo, lúcido, verdadeiro e que é melhor, pegando fogo. Como alíás não poderia ser de outra forma.
Que venham outros. Abraço. Hugo