quarta-feira, março 10, 2010

DE JK A LULA

Aline Alexandrino

A rádio CBN tem apresentado neste mês uma série sobre a história de Brasília, com dados bem interessantes. É a série Casos e Causos do Cinqüentenário de Brasília e tem sido bem produzida, trazendo informações de bastidores às quais poucos teriam acesso. Fica patente, em todas as reportagens, a figura ímpar na política nacional que foi JK e algumas destas reportagens estão à disposição no site da CBN.

Quando eu era “aborrecente” (e como eu era...) prestava muita atenção em tudo pra poder dar os meus pitacos, em geral completamente despropositados. Um assunto muito recorrente na minha casa era o Juscelino, personagem do qual meu pai, para dizer o mínimo, não era muito fã. Por tabela, também comecei a pichar o dito cujo sem a menor base, a não ser os comentários que ouvia quando me deixavam escutar a conversa (naquela época criança não se metia em conversa de adulto). Por conta disso, foi um frisson lá em casa quando eu, que era bandeirante (porque queria ter liberdade para sair com as amigas que ninguém é perfeito...), fui destacada para fazer parte de um comitê de recepção ao presidente que vinha inaugurar alguma coisa perto do Cabo, se é que a memória não falha.

Fui pra lá com todos os preconceitos possíveis e imagináveis que se agravaram quando, sem direito a lanche, ou mesmo a água, ficamos esperando por mais de duas horas que o presidente chegasse. Aquele atraso me deixou ainda mais furiosa. Quando finalmente ele chegou, eu estava com a pior disposição do mundo. Aí aconteceu algo que não esperava. Estávamos formando como que um corredor, e ele parou junto à primeira menina, cumprimentou-a e falou alguma coisa que não pude escutar porque eu era a última. Éramos umas 30 e ele veio fazendo a mesma coisa com cada garota. Quando finalmente chegou a minha vez, apertou a minha mão, perguntou o meu nome, em que série estava, se já sabia o que queria ser quando chegasse na faculdade (não quando crescesse...) e, pasmem, desculpou-se pelo atraso. Tudo isso com aquele sorriso de chinês que tinha, com olhinhos bem apertados. Pronto, me ganhou. Cheguei em casa apaixonada pelo homem e achando que o Brasil não podia ter melhor presidente do que aquele. Escusado dizer que meu pai ficou uma “arara” e fez de tudo para me desconvencer, inutilmente.

Hoje, com a distância do tempo e do espaço, quando ouvi a notícia da CBN me lembrei do homem que conheci por breves minutos, mas que me impressionou tanto. A diferença dele para o que hoje está aí é que, JK nos fazia crer que podíamos fazer e ser qualquer coisa, mesmo depois que ele encerrasse o mandato (naquela época não tinha reeleição, lembram?). Isso elevou a moral do país a um ponto que só posso comparar à época em que Tancredo foi eleito. Não é a toa que foram chamados de "anos dourados". O de hoje nos quer fazer crer que só com ele, ou com um seu pau-mandado, chegaremos a algum lugar. Caso contrário, vamos penar no inferno de Dante, com um destino pior que o de Prometeu, pois não fomos capazes de reconhecer e dar valor ao salvador da pátria e à sua obra monumental. Ninguém merece, pô !!!...

Um comentário:

Carlos Mello disse...

Eu também tenho essa imagem do JK, apesar do crime hediondo que é Brasília. Mas quando a gente compara aquela grande figura com esses anões, militares e civis, que o sucederam, PQP! Viva JK! Carlos Mello