terça-feira, novembro 03, 2009

Pro-Uni

MARCUS ARANHA


As filas da inscrição para o concurso foram quilométricas.

Quem tem filho, vendo-o crescer, cuida logo de colocar o pimpolho na escola.

Quais os pais que não querem ver um filho educado e, quem sabe, chegar à Universidade? Quem não sonha ter o filho com um curso superior?

Não é tão fácil dar educação. A gente começa gastar na escolinha maternal. Além das mensalidades, nos cobram papel A-4, massa de modelar, tintas, cartolina, giz de cera, toalha, sabonete, creme dental e escova de dente.

Aí o menino cresce... Se você conseguir colocar o filho na rede pública é melhor: o governo dá livros, cadernos e até farda. Senão, você vai pagar mensalidades caríssimas de um colégio de nível razoável. No segundo grau, mesmo colocando o filho na rede pública, você vai suar pra comprar livros, cadernos, Atlas, dicionários, réguas, compasso, triângulos e transferidores.

E se o cara chega a um curso pré-vestibular olha lá que, se brincar, é preciso que os pais diminuam a feira da semana pra poder pagar o curso do menino. Há gente que agüenta tudo isso na esperança de ver o filho doutor, bem de vida, com um emprego decente.

O diabo é que só o que está faltando neste país, é emprego pra doutor. A prefeitura do Rio de Janeiro abriu um concurso oferecendo 1.400 vagas para gari e as filas da inscrição para o concurso foram quilométricas.

Tais cenas mostradas nos jornais e TV revelam como é grave o quadro social brasileiro. Semana passada, ás vésperas do encerramento das inscrições estavam inscritas e ansiosíssimas pra ser lixeiro, 109.193 pessoas!

Para fazer a inscrição é necessário comprovar ter concluído a quarta série do ensino fundamental. Não tenho nada contra os garis, mas convenhamos que pr’o desempenho de tal função a Universidade é dispensável.

O Pro-Uni, criado pelo Governo Federal, estimulou aos empresários da Educação a promover a proliferação de verdadeiras das lojas de diplomas universitários que colocam na rua fornadas e fornadas de doutores. Tanto é que, no concurso para gari no Rio, já se inscreveram 45 candidatos com doutorado, 22 com mestrado, 1.026 com nível superior completo e 3.180 ainda cursando a Universidade. Tais títulos não garantem a aprovação para o cargo, pois da seleção constam testes físicos como corrida, flexão abdominal e exercícios na barra. Claro que na profissão de gari uma boa condição física é muito mais útil que diplomas e canudos universitários.

Diz Eliane Cantanhêde na Folha de S. Paulo que, terrível é o “mestre” ou o “doutor” reprovado na avaliação física, sair da peleja com a sensação que estudou tanto e nem pra gari serve.

Depois de concluir um doutorado ou um mestrado, o distinto aceita um emprego de gari pra “ganhar a vida”. São 44 horas semanais de trabalho, um salário de R$486,10, tíquete de alimentação no valor de R$237,90, vale transporte e plano de saúde. E doutores e mestres estão dispostos a ganhar só isso!

Sabe-se que por aí é gente com formação universitária exercendo funções de quem não tem escolaridade. Tenho um amigo que é formado em Direito e ganha a vida fabricando calhas de zinco, aliás, o que ele faz muito bem. Conheço um administrador de empresas que é porteiro de um prédio residencial e um motorista de táxi que também é advogado.

O presidente da república já se ufanou dizendo que o Pro-Uni já formou quase o mesmo número de estudantes que as universidades federais, desde que elas existem.

Faltou dizer que o Pro-Uni encheu de dinheiro os bolsos dos tubarões da educação e deixou pela aí centenas e centenas de profissionais com um diploma guardado numa gaveta, documento que não lhe serve nem para ser aprovado em concurso pra gari.

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