Carlos Mello
Deu na Internet: a Turma do Casseta & Planeta está em vias de ser processada pela Câmara dos Deputados. Os parlamentares ficaram injuriados por terem sido comparados com as prostitutas, em um programa de tv. Os humoristas responderam que não tinham a intenção de injuriar ninguém. Haviam apenas feito uma comparação “entre duas profissões em que se é pago para mudar de posição”. E assim ficou a coisa, até o momento, e certamente não passará disso, porque este belo rincão em que a Providência nos colocou é, como diz o Simão, “o país da piada pronta”. Aqui tudo termina em risada e em “é isso aí, malandro!”.
Eu, no entanto, fico amargurado diante de tão absurda injustiça. Os humoristas, no exercício de sua profissão, deviam ser mais ponderados e cuidadosos. Afinal de contas, apesar da esculhambação geral em que chafurdamos, é necessário um mínimo de respeito. As injustiças são sempre absurdas, mas se tornam intoleráveis – eu diria até covardes – quando perpetradas contra uma instituição honrada e tradicional. Pergunto: que direito têm os rapazes do Casseta & Planeta, escudados na poderosa Rede Globo, de atacar uma instituição antiga e honrada, e que nenhum mal direto lhes fez?
É isso que nos deixa amedrontados em relação ao futuro do país: assacam-se aleivosias, os prejudicados recebem a afronta, mas nada acontece e tudo continua como dantes. A coisa fica ainda mais inaceitável quando sabemos que a injúria foi assacada contra uma instituição que carece de meios para se defender publicamente, e é obrigada a engolir a afronta. Eu pergunto: O que têm esses humoristas contra as pobres prostitutas? Que mal fizeram elas ao Brasil e ao mundo, em tantos milênios de exercício de sua profissão – aliás, a mais antiga do planeta?
Acho que a frase é do Mário da Silva Brito, em seu Desaforismos: somente a arbitrariedade policial seria capaz de criar essa expressão: “mulheres de vida fácil”. Os velhos do meu tempo, que tiveram a sorte de viver no Recife dos anos 60, hão de lembrar que a antiga sede da Câmara de Vereadores situava-se no bairro do Recife Velho, o mais alegre da cidade. (Era pra lá que a gente corria, nas noites quase desertas da cidade, ainda bem longe da megalópole atual). Pois bem, um dia resolveram mudar a sede da câmara pro Parque Treze de Maio. Sábio comentário da cidade: finalmente decidiram moralizar a zona!
Vejam em quantos pontos é absurdo comparar as indefesas moças com os deputados:
1) as prostitutas nem sempre buscam essa profissão, muitas vezes são empurradas para ela pela fome;
2) em geral, não depenam ninguém, tudo o que fazem é proporcionar um pouco de prazer carnal, numa tabela que vai de uns trocados a verdadeiras fortunas (aliás, ninguém melhor que os deputados para atestar isso, com os rios de nosso dinheiro que gastam nas bacanais de Brasília;
3) elas não parasitam a nação, pelo contrário, trabalham duro, muitas vezes enfrentando o frio da madrugada, o achaque de policiais e rufiões e o risco das DST;
4) têm um comportamento moral digno, não viajam de graça, não são dadas a furtos e roubalheiras, nem gozam de qualquer imunidade, pelo contrário.
Há ainda muitas outras diferenças, que seria ocioso enumerar. Então eu, aqui do meu canto, já que ninguém falou nada, levanto meu protesto contra essa comparação injuriosa. E creio que as pessoas de bem que ainda sobraram neste país, concordarão comigo. Prostituta é prostituta, deputado é deputado. Aliás, diz a mídia que a Holanda vai ser obrigada a fechar alguns presídios por falta de presos. Garanto que passou pela cabeça de muita gente matar dois coelhos de uma só paulada: a gente manda pras vagas prisionais dos holandeses todo o congresso nacional; e assim eles não terão que demitir ninguém do seu sistema carcerário.
Claro, isso é apenas um sonho, pois quem tomaria tal decisão? O Executivo, do Lulinha paz e amor? O Judiciário do Gilmar dos habeas-corpus prontos? Respondo com a risada dos internautas: KKKKKKKKKKKKK!
Um comentário:
Supimpa esse texto de Carlos Mello.
Realmente, chamar deputado de prostituta é ofender a mulher de vida nada fácil, que o destino joga na segregação social.
O deputado se candidata conscientemente de que está procurando, ele sim, uma vida fácil à custa da sociedade.
Parabéns, Carlos Mello.
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