sábado, junho 06, 2009

ALIENO CULO PIPER REFRIGERIUM EST*

Aline Alexandrino

Ultimamente dei para exercer meu lado sado-masoquista. Explico: ando assistindo, com uma certa consistência (ou será insistência?), a TV Senado. Mermão (de vez em quando adoto gírias infanto-juvenis) é irado! Só aí você consegue entender porque o gigante pela própria natureza vive deitado eternamente em berço esplêndido. É o programa mais didático deste país. As TVs educativas deveriam imitá-lo.

A última, esta semana, foi a questão ambiental. Estavam a decidir (por nós) como fariam para legitimar a grilagem nas terras amazônicas, quando ascendeu à tribuna um digno representante do povo de Roraima, auto-intitulado Mozarildo Cavalcanti. Sua senhoria se mostrou indignado com o fato de que davam mais atenção ao meio-ambiente e aos bichos, em detrimento do homem. Deu como exemplo o fato de que nas notas do nosso "rico" dinheirinho, só se viam figuras de animais, e não de personagens impolutos (?!) da nossa história, como antigamente. Como é então que o brasileiro ia aprender história?! Sugeriu então que sempre se deveria priorizar a seguinte ordem: homem, meio-ambiente, animais. Ô excelência, tem alguma idéia do que anda acontecendo com o planeta, exatamente porque sempre se privilegiou o chamado Homo sapiens?

Bom, outras excelências também se manifestaram a favor da MP que tratava do assunto, mas quem realmente roubou a cena foi uma representante do Tocantins, uma excelência chamada Kátia Abreu, relatora da matéria. Mermão, a mulher é um trator! Jovem, bonita, verbaliza bem o que defende e, pequeno detalhe, é a presidente da CNA - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Ou seja, não tem nenhum interesse em defender os seus confederados, não é? Ela é do tipo que tem presença e carisma, a ponto de ninguém prestar muita atenção ao fato de se o que ela diz faz sentido. Vários representantes da ala masculina fizeram coro ardente à fala da senadora e a pobre da ex-ministra Marina Silva ficou sendo considerada aquela ambientalista xiita, atrasada, que vai fazer o país continuar sem poder se desenvolver, porque não se tem agricultura nem pecuária na Amazônia brasileira.

Depois do ápice do feminismo, e também durante o mesmo, sempre fiquei muito desconfiada com essas mulheres que primam por imitar os homens, geralmente no que eles tem de pior. Não conseguia muito bem botar o dedo na ferida até que um dia, não me lembro aonde, li uma frase que para mim dizia tudo: "uma mulher que aspira se comportar como um homem tem, no mínimo, falta de imaginação". Isso descreve a excelência citada acima às mil maravilhas. Entendo que para sobreviver num ambiente masculino é preciso dar umas cotoveladas, de vez em quando, mas é de vez em quando, gente! Quando isto se torna um hábito, sai de baixo, que o bicho tá pegando (preciso me policiar, ando usando muitas expressões fora da minha faixa etária, mas acho que é a idade...).

Enfim, isso tudo foi escrito para justificar a frase do título destas breves considerações, usada com muita propriedade numa das crônicas de João Ubaldo Ribeiro, e da qual me aproprio sempre que posso. A dita cuja quer dizer, em Latim que fica muito mais bonito, "pimenta no fiofó dos outros é refresco". É assim que me sinto toda vez que assisto a TV Senado e testemunho certas sumidades a deitar falação e decidir o destino da pátria amada. O diabo é que o fiofó é o nosso...

Um comentário:

Carlos Mello disse...

Aí vem de novo a musa do blog, cheia de verve e verdade, para gáudio dos que se arriscam e vergonha dos que se omitem. Apareça sempre Aline, você é um dos motivos de nossa alegria. Carlos.