sábado, abril 18, 2009

Vestida Para Matar

Da série "Meus Tipos Esquecíveis" - Do Que Deslembrar!





Hugo Caldas


"Vestida para Matar,”do diretor Brian de Palma, com Michael Caine e Angie Dickinson, é um filme dos anos 80. Lançado com título original de "Dressed To Kill," é fortemente influenciado pela obra de Alfred Hitchcock.

Mas aqui a história é outra. Hitchcockiana, porém outra. Na rua onde moro, "Vestida para Matar" não foi propriamente um filme, se bem que teria todos os ingredientes para se transformar em um belo argumento e terminar bem melhor do que muita historieta que foi parar nas telas dos cinemas do mundo inteiro.

Quando certa jovem se vestia com uma roupa elegantíssima de cor preta a moçada da rua já sabia... "hoje alguém vai entrar bem." Ela se vestia mesmo pra "matar," a carteira de algum otário.

Pois é, existia na rua, essa garota... filha de uma amiga minha, mãe de mais três filhos. Todos tiveram a mesmíssima educação. Todos tiveram acredito, a mesma criação, a mesma dose de amor, todos terminaram se formando, um é médico, outro é funcionário público de alto escalão, outro, engenheiro. Ela virou uma meliante de fazer inveja a "Lili Carabina". Inexplicável!?

Para tentar entender chega-se até mesmo a dar um certo crédito à Cesare Lombroso, famoso médico psiquiatra, professor universitário e criminologista italiano que defendia idéias bastante exóticas acerca do "criminoso nato" e preconizava pela análise de determinadas características que seria possível antever indivíduos que se voltariam fatalmente para o crime.

Pela análise que fazíamos ela nunca apresentou nada de anormal na sua aparência.Também nenhum de nós era um emérito estudioso do assunto lombrosiano.

Por vezes acontecia de presenciarmos o vexatório espetáculo do banana do seu pai chorando no meio da rua a se queixar da filha que lhe havia falsificado a assinatura e sacado somas vultosas deixando sempre um buraco na conta bancária difícil de ser reparado. Com esse dinheiro em suas mãos era normalíssimo vê-la passar fins de semana na Europa. Ora, convenhamos que ir para Amsterdã não é a mesma coisa que passar o fim de semana em João Pessoa. Tinha uma certa queda por jogadores de futebol. Houve um feliz zagueiro do Sport que recebia mimos caríssimos.

Tudo começava com telefonemas que ela dava na casa dos amigos alegando que o telefone de casa estava com defeito. No final do mês a conta acusava chamadas para a Europa, Rio de Janeiro, Argentina e por aí vai! De certa feita apoderou-se de um punhado de dólares que a minha mulher guardava e somente pagou anos depois, mediante insistentes tentativas junto à sua mãe que honestíssima, saldou até o último centavo. Pagou e caiu doente.

Agora, golpe mesmo bem dado, foi na Casa Civil do governador. Conseguiu ela, sabe-se lá como, se infiltrar de tal maneira, tinha até transporte oficial para levá-la e trazê-la, numa mordomia de fazer corar um senador da república. O golpe foi tão estupendo que o escândalo seria catastrófico se tudo viesse à luz. Tiveram que abafar. Seria um prato feito para a oposição.

Virou mãe solteira. Mais uma carga, mais um desgosto para os pais. Terminou por se casar em grande estilo com outro meliante. Foram presos os dois após golpe mal dado lá pelas bandas do sul do país. Passou uma temporada no Bom Pastor, onde ficou bastante tempo sem culpa formada nem julgamento. Hoje já está na rua novamente. Tem dado uns telefonemas esquisitos para a minha casa. Prenuncio nuvens negras no horizonte. Queira Deus eu esteja errado.

newbulletinboard.blogspot.com
hucaldas@gmail.com

2 comentários:

Hebert Diomeli disse...

Abre o olho, Hugo! Lá vem o golpe...

Abs.
Hebert

VALDEZJUVAL.COM.BR disse...

Oi, meu Tenente:
Esta história (com h mesmo), ACHO que conheço.
Melhor ainda é a do SUPREMO. Ai vem Rui Barbosa: "De tanto ver triunfar as ..."
Grande abraço.
Valdez