terça-feira, abril 14, 2009

Todo velho quando se senta faz ai, quando se levanta faz ui.




Elpídio Navarro

Foi W. J. Solha que me mandou a frase, que diz ser de Jessier Quirino. E o pior que ela é verdade! Eu havia lhe respondido não ter ido assistir à "Paixão" de Tarcisio Pereira, devido a falta de condições físicas que me impõe uma coluna defeituosa. Precisaria ter à minha disposição uma cadeira onde eu pudesse me recostar. Como não sou autoridade em nada, não teria essa regalia. Na arquibancada ficar, nem pensar.

Comecei a prestar atenção e até fiquei um tanto surpreso com os meus ais e uis quando sento e levanto.

Aí as pessoas dizem: "vá ao médico, faça exames..." Ta louco que eu entro nessa! Só se eu fosse maluco! O moço vai descobrir que eu estou com uns dezoito problemas e me condenar a não comer o que sempre como: tudo, e a não beber o que sempre bebo: tudo. Isso se os exames não determinarem uma cirurgia, sei lá! Mas não faço mesmo. A essa altura do campeonato eu ainda tenho amídalas e apêndice. Tá tudo inteirinho...

Se tenho medo de morrer? Claro que tenho. Quem não tem? Mas também tenho a certeza certinha de que vou morrer. Que ninguém escapa da "bicha caetana", como denomina a terrível figura negra, o mestre Ariano Suassuna.

O amigo Mirócene Amorim sempre dizia: "Nunca vi defunto de morte morrida, gordo!" Morrem tudinho magrinhos e chupados. Ele estava certo. Morreu magro! Eu, enquanto estiver gordo, sem fazer qualquer regime, sem praticar o tal de caminhar, vou me segurando.

Por falar nisso, há alguns anos estava caminhando pela calçada de Tambaú, seis hora da manhã. Aí me deparo com Marcos Tavares sentado na mesa de um bar, uma cerveja aberta e um copo cheio. Dirijo-me a ele dizendo que àquela hora ele deveria estar como eu, caminhando. Levantou a cabeça, olhou para mim e disse: "vai morrer magrinho!" Nunca mais caminhei.

Bem, isso tudo eu não faço. Não a regimes, não a exames, não a médicos. Quando eu arriar, alguém vai me levar para para tudo isso. Mas eu não vou. Vão me levar!

Morrer é consequência de viver. Não tem saída. "Tudo que é vivo, morre", decretou Chicó de "A Compadecida". Como não acredito noutra vida, só me resta esperar. E enquanto isso vou vivendo do jeito que gosto. Uma coisa eu tenho certeza: esse negócio de dieta, de exercícios, só serve para apressar a morte e se viver os últimos dias como não se gosta.

PS - A minha coluna foi que me levou ao médico pela última vez. Já faz tempo. O resultado foi que eu não tinha hérnia de disco, não tinha desvios, nada que justificasse o incômodo que acontece em determinadas situações. A única coisa recomendada foi perder peso, ficar magro. Ou seja: lutar contra a minha própria natureza. Outra coisa: sorte de quem consegue chegar aos ais e uis quando senta e levanta!

Elpídio Navarro é Professor Universitário e Teatrólogo
eltheatro.com

Um comentário:

Anônimo disse...

GRANDE ELPÍDIO, MUITOS AIS PRÁ VOCÊ...
...SAUDADES DE MIRÓCENE...