terça-feira, outubro 14, 2008

"Sarapatel de lombriga"


Elpídio Navarro

Quando Paulo Pontes preparava aqui em João Pessoa o texto da peça "Paraí-Be-A-Bá", perguntei que título ele daria ao trabalho. Ele respondeu que o título de uma peça é a última coisa a se pensar. Geralmente surge do próprio texto, de algum fato narrado ou ação contida. Um tempo depois disse-me pensar em "Paraí-Bê-A-Bá" porque o que estava tentando mostrar era um "be-a-bá" da Paraíba, desde a sua fundação até aos dias atuais. Isso sem envolver a "quartelada" de 1964, pois sabia que se o fizesse o espetáculo não seria apresentado. Ainda lembro da sua esperança de que um dia, num tempo melhor, pudesse escrever o "Paraí-Bê-A-Bá II", quando evocaria os nossos heróis camponeses assassinados por fazendeiros, usineiros e militares. Naquele momento só poderia chegar até à "Revolução de 30". E mesmo assim, ainda fomos atacados pela censura oficial. (Vide Sucedido 45) Mas a denominação pegou e posteriormente aproveitada até por veículo de comunicação.

Fomos à cidade de Rio Tinto apresentar, pela Juteca, a peça de Altimar Pimentel "Cemitério das Juremas". Ao término do espetáculo ficamos à porta de saída do teatro a ouvir os comentários, quando um chamou mais atenção: "Pior que isso só preá com melancia". Eu que não tolerava melancia (até hoje) e já havia experimentado preá e não gostado, concordei inteiramente. Não que o espetáculo fosse aquilo, mas que aquilo só podia ser um ajuntamento muito ruim. Mas Mirócene Amorim rebateu afirmando que existia um casamento pior: fruta-pão com bofe. "Preá com melancia" e "Fruta-pão com bofe" bem que poderiam ter sido denominações de alguma banda de forró ou de rock.

Depois apareceu uma banda não sei de que bandas que denominou-se "Mastruz Com Leite". Aí eu vomitei! Bateu com a minha infância quando eu era obrigado a tomar aquele "purgante" para logo em seguida vomitá-lo e ato contínuo apanhar da minha santa mãe. Toda mãe é santa até que se prove ao contrário...

Agora vai acontecer aqui, em João Pessoa, um festival de rock. "Com treze anos de carreira o insano quarteto capixaba desembarca no III Festival Aumenta que é Rock cercado de expectativas. Apesar da longa estrada e da numerosa quantidade de adeptos em João Pessoa, o poderoso arsenal sonoro do Mukeka di Rato nunca subiu aos palcos da capital paraibana."

Os senhores podem imaginar uns ratinhos fatiados, cozidos ao leite de coco, com azeite de dendê, pimenta e todo o tempero que é usado numa moqueca bem baiana? Degustarias?!... Caso sim, vai lá ouvir o som (?) desses jovens da banda "Mukeka di Rato".

E ainda tem gente que acha as posições de Ariano Suassuna ultrapassadas!

Mas querendo colaborar, que tal uma nova banda de alguma coisa com a denominação de "Sarapatel de lombriga"? Ou "Ensopadinho de baratas"? Ficam as sugestões.

PS - No mesmo festival vai se apresentar uma outra banda com uma denominação enganosa: CERVA GRÁTIS, título que é destacada nos cartazes. O cara vai lá pra tomar cerveja de graça e o que toma é no... deixa pra lá.

Elpídio Navarro é professor universitário,
dramaturgo e diretor teatral, além de editor
do www.eltheatro.com

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