quinta-feira, julho 24, 2008

UM SONHO AMEAÇADO


Djanira Silva

Nunca hoje a saudade. Ontem. À noite. No silêncio. Nunca hoje a tristeza, ontem ao entardecer. Sempre hoje a procura, o desespero, a vontade de ver de novo.
Nos sons, os pensamentos dispersos, emaranhados nos sinais luminosos de outros mundos. Como encontrar o som de que preciso? Em qual deles reconhecerei tua voz?

Hoje, encontrei um caminho aberto e me perdi das minhas certezas, dos meus medos da falta de coerência. Tanto tempo aqui e não pude, nunca, aprisionar teu som. O pássaro, a gente prende, o canto é livre. O grito solto na escuridão das masmorras desafia o algoz, liberta a dor, desencarcera a alma. Ganhaste o direito de viver. A liberdade te deu asas, livrou tua alma de um corpo estranho. O meu, é a minha prisão onde ainda canto sem saber por quê. A saudade me fez refém, deixou-me em teu lugar.

Aquartelada no silêncio, tento decifrar o que me diz o vento, o vento que assobia assustando as palmeiras. O que dizem as ondas sobreviventes das tempestades, o que me conta o sol, a lua. as estrelas, as noites de agosto, perdidas nas vozes de ventos magoados.
A manhã nasceu escura amortalhando um dia triste. Acabo de ressuscitar. Assim, todas as manhãs. Vou sem saber se voltarei. Perco-me por caminhos estranhos que me contam histórias loucas, histórias minhas, histórias esquecidas.

Nem sei o que fazem estas lembranças aqui. Chegam como ladrões e me assaltam, ferem-me e vão embora prometendo voltar. Ponho minha alma na horizontal para enganar o corpo. Esqueço-me de mim por algum tempo até que o juízo volte. Sinto saudade da minha loucura, do meu pensamento vagabundo sem dono e dono dos espaços, das linhas, das entrelinhas, pensamento que me engana com mentiras que me esconde as verdades e me faz pensar que sou feliz quando, durante a noite, enlouquece e vagabundeia sem controle manipulado pelos sonhos.

Cansei de esperar. O quê? Não sei. Só sei que dentro de mim existe uma sensação de espera de algo que vai chegar, de algo que vai ser revelado, de alguma coisa que me livrará das dúvidas e dos receios. É esta espera que me mantém viva, alerta.

As noites são longas? Não sei. As luzes se apagam logo cedo e quando se reacendem revelam sonhos novos. Loucos? Todos são.

Os dias estão sempre de baioneta em riste. Vá, não vá. Pare, ande. Sonhe, não, não pode sonhar. Luzes se apagam, luzes se acendem nas frestas das portas e das janelas, iluminando o perdão apagando pecados.Um passo atrás do outro. O outro, ah! O outro.

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