terça-feira, julho 29, 2008

Aos meus filhos e amigos


Anco Márcio de Miranda Tavares

Quando eu morrer, não desesperem. Me procurem na chuva. Eu serei o pingo que molha e refresca seus rostos. Quando eu me for, não fiquem tristes. Me procurem na tempestade. Eu serei aquela brisa leve que apenas despenteia seus cabelos. Quando eu já for só lembrança, me procurem na terra. Eu serei aquele grão de areia que junto com mihares, forma a praia.

Quando eu estiver bem longe, mas longe de nunca mais voltar, me procurem na alegria. Eu serei o riso que brota de cada boca, a gargalhada que estala de cada garganta. Quando eu estiver fora, mas fora de uma vez por todas, me procurem numa rosa. Eu serei o perfume que ela exala..

Quado eu desaparecer, não fiquem tristes, nem chorem. Me procurem na noite. Eu serei a alegria que brota do coração de cada bêbado.

Quando eu me apagar para sempre, me procurem no firmamento. Eu serei aquela estrela de luz bem forte, que lhes orientará os passos. Quando eu for apenas lembrança, me procurem na floresta. Eu serei aquela pássaro cantador que acorda primeiro.

Quando eu for apenas um retrato na parede, me busquem no vento. Eu serei aquele brando, de leste, que apenas enxuga o suor dos cansados. Quando eu me for de verdade, não desesperem nem pensem que tudo está perdido.Vocês me acharão nas árvores. Eu serei aquela folha que cai, rodopiando até o chão...

Quando estiverem quase esquecendo de mim, me procurem no trovão. Eu serei o relâmpago que ilumina as trevas. Quando eu for apenas uma doce saudade, me procurem nos cemitérios. Eu serei a doce flor que ornamenta a morte. Quando eu não mais estiver nessa mundo, me busquem no transito. Eu serei o sinal que abre todas as passagens.

Quando eu virar passado, não se descabelem nem chorem. Me busquem nas Maternidades. Eu serei aquele choro inocente de cada bebê que nasce. Quando eu não mais for vivo, me busquem no meu quarto. Eu serei uma lembrança muito viva, sentada ao computador, escrevendo essas bobagens.

Me busquem nas almas das prostitutas, dos drogados, dos bêbedos que todos eles têm em si, um pouco de Deus, me procurem nos prostíbulos que lá estarei no rosto triste de cada um. Me busquem no firmamento. Alguma nuvem, em seu formato, há de lembrar o meu corpo quando vivo.

Eu não queria morrer, nem é tanto por mim, mas pra não causar-lhes dor alguma, tristeza nenhuma, nenhuma busca inútil pelos quatro cantos vazios da vazia casa. Quando eu me for, não desesperem. Eu estarei sempre perto de Deus, e pessoalmente pedirei por vocês.

www.ancomarcio.com

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