sexta-feira, junho 13, 2008

Os verdadeiros predadores.


Germano Romero

Num programa do canal Discovery, o repórter referia-se a um grupo de animais chamando-lhes de predadores. Predação é a qualidade de quem destrói. Assim sendo, os homens seriam os predadores campeões, pensei.

Caminhando hoje cedo pela beira-mar da praia de Carapibus, vi uma "maria-farinha" correndo da areia e se esbaldando nas espumas de uma onda que acabara de se espalhar. Um grupo de bem-te-vis fazia uma alegre algazarra em cima de um coqueiro. Como estava bonita a manhã, com aquele sol dourando tudo! Então lembrei do programa da Discovery.

A diferença do predador irracional para o predador-homem é que o animal mata p'ra comer, sobreviver, de forma equilibrada e de acordo com a cadeia alimentar. Já o animal dito racional – um conceito bastante discutível – mata por matar, por ambição, por diversão, por vingança, por ciúme e por maldade também. Mata até si próprio. E ainda destrói a natureza, que lhe dá de comer...

Mais à frente me deparo com vários peixinhos mortos por cima dos sargaços. Os pescadores de rede escolheram os peixes que lhes interessavam, e deixaram os miúdos morrerem à míngua. Custava nada reconduzi-los ao habitat, para continuarem a viver e, um dia, ficarem interessantes? Que falta de visão, que burrice, que maldade!...

Adiante, nova e ainda mais desagradável surpresa. Pois não é que alguns pescadores que usam molinete e praticam a pesca muito mais por prazer do que necessidade, têm a mania de sacudir fora os baiacus que fisgam sem querer... Como o peixe não serve de alimento, pois dizem que eles têm uma glândula com um veneno perigoso, e só quem é expert sabe retirá-la, jogam-no na areia ao invés de devolvê-lo ao mar. Uma estupidez. Decerto os insensíveis e malvados egoístas suspeitam que pondo-os de volta ao mar, eles tornarão a morder as suas iscas frustrando-os novamente.

Aí está a diferença. O bicho predador só come o outro quando está com fome. Satisfeito, não faz mal a ninguém. Vive em harmonia com a natureza, não procura acumular riquezas, nem polui o ambiente. O homem maltrata os animais que lhes servem, prendem-nos em zoológicos, circos e gaiolas, judiam deles por simples sadismo, como nas vaquejadas e rodeios.

Continuei a caminhada. O sol subia, ainda morno. Adiante comecei a ver, entre os sargaços, os bagulhos que os predadores racionais costumam jogar na praia. Depósitos de margarina, sacos de Pippo's, garrafas plásticas, latas de cerveja, piolas.

Os bem-te-vis não sujam a praia. As marias-farinhas e os espia-marés também não. Muito menos os peixes. Por que a gaivota que bica uma sardinha, num belo vôo rasante, simplesmente para se alimentar, estaria sendo predadora? Nenhum animal está em extinção por causa de seus irmãos irracionais, e sim por culpa de seus irmãos racionais. Estes sim, são os verdadeiros predadores.

2 comentários:

Anônimo disse...

É isso mesmo, caro cronista. Já o filósofo cristão Teillard de Chardin mostrava a grande sabedoria da natureza, ao propiciar que as gaivotas se alimentassem de centenas de tartaruguinhas que saíam do ovo para o mar, e assim garantiam o equilíbrio da natureza, evitando uma superpopulação de tartarugas, que arruinaria esse equilíbrio. Às vezes fico pensando na frase do cineasta Ingmar Bergman: o homem é um macaco com câncer no cérebro. Abrs Carlos Mello

Jandira disse...

Concordo com vocês, muitos espécimes de Homo sapiens tem se comportado como irracionais, ou melhor, racionais destruidores, porque têm consciência do que estão fazendo e continuam a fazer. São desumanos! E ainda, tentam justificar as suas ações destrutivas: se os automóveis poluem? A agricultura e a pecuária também poluem e, ainda, devastam as floresta, por que eu não posso poluir e devastar? Esta é uma lógica absurda! Insana! Então se fulano têm o direito de matar eu também tenho? Esta é a lógica inversa da vida! cada um deveria fazer a sua parte para preservar a vida e não para destruí-la! Não dá para entender como pessoas ligadas a religiões venerem práticas destrutivas, que põem em riscos vidas! Pois, além dos problemas ambientais, que muitos estão pouco se lixando, pode-se observar efeitos locais imediatos à saúde das pessoas. As pessoas asmáticas nesse período junino sofrem crises sérias que podem levá-las a óbito. Mas, isso não importa para as pessoas que querem manter uma tradição cultural. Acho que está havendo uma inversão de valores na nossa sociedade. Uma fogueira pode até não fazer muita diferença, mas todos acham que têm direito de ascender a sua. E o direito de respirar ar puro, como fica?