domingo, junho 15, 2008

Excentricidades


Hugo Caldas

Amigos. Ando muito desencantado com Pindorama. Envergonhado talvez seja a palavra certa. Tudo acontece para nos fazer de bobos. Me dá ansias de vômito ver o noticiário da televisão. Como mentem despudoradamente esses espiroquetas. Essa canalha passa 20 anos dizendo que... Deixa pra lá. Vocês já sabem. Não quero chover no molhado. Tomei a decisão de me isolar, pelo menos por enquanto, do que acontece. Seguirei o conselho de um bom amigo que sugeriu comprássemos creolina que é o que resolve "neste país". De vez em quando é sempre bom umas excentricidades para nos manter em pé. Me lembrei que o Estadão, o JB e outros jornais, à época da ditadura, publicavam receitas de bolo na primeira página. Sigo o exemplo. Espero que gostem do texto abaixo.

Você sabe, por acaso como se diz "Natal", na Indonésia? Não sabe? Pois bem, é "Natal", mesmo. E "Sapato" hein, mas dessa vez no Sri Lanka? Quase que acerta: "Sapattu". Mas se vosmicê estiver a fim de um limão para uma caipirinha, lá no Quênia ou na Tanzânia, não precisa dançar numa perna só: É só pedir um "Limau". E se estiver em um restaurante na Índia e alguém lhe oferecer um suco de "Brinjal", pode tomar sem susto o seu suquinho de "Berinjela".

Coisa muito boa quando se visita certos lugares estranhos é descobrir que os nossos avozinhos portugueses estiveram por lá antes e deixaram alguma coisa como lembrança, geralmente uma palavra ou outra. Antes deles, as palavras não costumavam ir tão longe. As navegações portuguesas realmente marcaram o início do turismo etimológico.

Porém nem todas as palavras, se dão bem em viagens.

Algumas delas mudam completamente de significação. Por exemplo, na Itália, você liga a TV e aparece um comercial de amaciante de roupas. Beleza, que eles são bons em comerciais. Tudo bem. A questão se apresenta quando o comercial italiano de amaciante de roupas é entrecortado pela palavra "Mórbido". Um bebê aparece lindão no meio de roupas e toalhas fofinhas, e uma voz em background: "Mórbido”. Um ursinho de pelúcia aparece no maior abraço com uma garotinha e a voz lá: "Mórbido". Só depois de muito matutar é que você finalmente se dá conta de que "Mórbido" em italiano significa "Macio".

Mas, voltando um pouco à Indonésia:

Há uma historieta que diz muito bem sobre casos afins. Certa vez nos cafundós da Indonésia, recém chegado a um hotel, Pablo Neruda o poeta chileno e diplomata precisou de tinta para recarregar sua caneta tinteiro. Passou por maus bocados porque ninguém entendia, ele muito menos, que usava todas a palavras que pudessem dar a conotação desejada: Ink, Paint, Encre, etc. Em meio àquele caos, um dos atendentes da recepção teve a feliz idéia de dizer: "É tinta" o que o senhor precisa?

Em 1972 o Brasil comemorou o Sesquicentenário da Independência. Para coroar as festividades os homens inventaram uma Minicopa de futebol com vários convidados. Recife foi sede de jogos. Para aqui foram designadas as seleções da Irlanda e da Romênia.

Tarde de domingo Arrudão lotado, jogo definitivo entre as duas equipes. Eis que entram em campo os dois times. Mas, com a mesma cor de uniforme. Não pode. Fora de cogitação. Decidiram então no cara ou coroa quem deveria usar outro padrão. A Romênia perdeu e teve que jogar com um padrão emprestado pelo Santa. Perdeu na escolha, mas ganhou na simpatia da torcida cem por cento descarada de todo o público. Para o estádio, era a Irlanda contra o Santa Cruz. Todas as vezes em que a Romênia pegava na bola o estádio vinha abaixo. Venceram por 3 x 1. À noite, na televisão muita gente, inclusive eu, conseguia entender o que os craques romenos diziam. Pouca gente se dá conta que o romeno é uma língua latina, parecidíssima com o português.

Certa vez, no aeroporto dos Guararapes, estava eu despachando um vôo da Panair do Brasil para a Europa, quando me surge do nada, uma senhora cinqüentona, muito bonita, vestindo um belo "Sari" com passaporte das Nações Unidas. Pensei alto: "Ah, meu Deus, esta senhora é hindú. Deve falar inglês, ou não sei o que fazer". De imediato ela me diz: "Por que você não tenta o português"?! Era natural de Goa, antiga colônia lusitana.

Mas nada é tão esquisito quanto o fato de que, "Push" queira dizer "Empurre" em inglês. Desse jeito o Brasil nunca que vai se inserir no mundo globalizado. Vê se pode dizer "Push" quando quer dizer "Empurre"! Fim da picada. E ninguém toma uma providência?

Mas, relato-vos pequeno e singelo incidente que me aconteceu na Venezuela (pré-Chavez, por supuesto) quando num restaurante pedi como sobremesa, uma porção de abacate com açúcar. Queriam me repatriar, linchar, enfim aplicar o castigo supremo porque lá, abacate se come é na salada misturado com tomates cebolas alfaces, beterrabas e coisas e loisas. E sem um pingo de açúcar. Pode?

hucaldas@gmail.com

2 comentários:

Anônimo disse...

A propósito de seu comentáio, Hugo, na capital uruguaia, em 1990, pedi "pipueca" a um garçon que quase me agrediu, pois, ao nosso redor, todos (era um grupo de excursionistas) riam muito. Um paulistano solidário veio em meu socorro, e, para meu filho, que solicitara a iguaria, foi providenciada "popcorn". Que mico, meu caro!

Anônimo disse...

Hugão
Gostei da sua coluna de "Excentricidades" fonéticas. Então, só pra mostrar a minha "erudição", ficou faltando voce dizer que essas palavrinhas que nos deixam confusos, porque se parecem com as nossas mas querem dizer muitas vezes outra coisa (como prego, em italiano, que quer dizer por favor e o brasileiro fica dizendo per favore, crente que está abafando), se chamam "cognatos". Sou ou não sou também "excêntrica"? Ósculos e amplexos Aline