sábado, maio 31, 2008

A PROPÓSITO


Hugo Caldas

Pois é isso mesmo. Não sei, nem imagino o que dirão os meus poucos e contados leitores após tomarem conhecimento dessas mal traçadas. Esse "a propósito" do título é uma referência ao caso da garotinha Isabella. É realmente estarrecedor todo o acontecimento porém, o estardalhaço formado pela midia juntamente com a ânsia da polícia em apontar culpados, tudo devidamente televisionado ad nauseam, termina por inculcar nos corações e mentes das pessoas, a priori, a culpabilidade de alguém. Deveria, acredito, haver especial cuidado para não se prejulgar e estabelecer que fulano ou sicrano passem de suspeitos a culpados. Para qualquer pessoa de inteligência mediana, soa como se todos os envolvidos nas investigações e na elaboração do competente inquérito, estivessem tirando partido da ocasião para "mostrar serviço".

Uma série de casos há tempos, sem solução a vista e eles resolvem tudo em menos de um mês! Estão querendo por ventura, evitar que tudo seja esquecido, como por exemplo, o trágico episódio do garotinho João Hélio? É isso? Só que essa precipitação pode ter um preço muito alto. Meus caros me desculpem, mas o fato é que eu não aceito a carapuça de maria-vai-com-as-outras.

Dois fatos, por exemplo, ficam a verrumar o meu miolo. Primeiro, desde o início, achei extraordinariamente anormal a frieza da mãe da garota. Ora, eu tenho 4 filhos e 4 netos. Uma netinha na idade da Isabella. Estivesse eu passando por este calvário e nas circunstâncias em que o fato se deu, em verdade vos digo, estaria absolutamente devastado. Absolutamente descrente de tudo e de todos, querendo morrer também. Mas, eu sou eu. Não posso, nem devo, tirar conclusões sobre o comportamento das outras pessoas. Quando a mãe finalmente se dignou a falar no "Fantástico" muito me causou espécie a maneira como ela se apresentou num estilo "casual chic," cabelos cuidadosamente desarrumados, forte maquiagem reforçando olheiras, colarzinho, toda produzida como se fosse para um teste da novela das oito. Não estou aqui insinuando absolutamente nada. Apenas, como disse, achei no mínimo muito estranho.

O segundo fato é bem fresquinho. Aconteceu ontem. O tenente da Polícia Militar, Fernando Neves Brás, que atendeu o caso da menina Isabella, se matou com um tiro na cabeça nesta sexta-feira (30 de maio 2008) depois de ter sido acusado de integrar uma rede de pedofilia. Estranho, não? Em qualquer país civilizado do mundo esta vertente seria também investigada. O perito Sanguinetti fala em suspeita de violência sexual. A polícia, essa, já se apressou em anunciar que o tenente estava, na hora do crime, há quilômetros de distância. Só apareceu no local muito depois. Agora pergunto: você confiaria numa entidade que tem em seu seio pessoas desse tipo?

Francamente, custo a crer que um pai, na mais sagrada acepção da palavra, seja capaz de tamanha selvageria. Mas essas aberrações existem. Na década de 70 eu tinha uma pequena casa na cidade de Gravatá. Houve um fato por todos sabido e comentado, que um agricultor havia trocado uma das suas filhas (14 anos) por um saco de 60 quilos de feijão. Precisava ele dar de comer ao restante da família, que não era pequena. Ninguém mais falou no caso, todo mundo esqueceu e botaram uma pedra em cima.

Quando cheguei ao Recife em 1959 tomei conhecimento pelas mãos de um bom amigo, d' "A Emparedada da Rua Nova," de Carneiro Vilela, ilustre escritor pernambucano.

"Em meados do século 18 o Comendador Jaime Favaes ao descobrir que sua filha única, uma das mais belas moças recifenses estava grávida, planejou e executou a eliminação do conquistador, o estudante Leandro de tal, que foi morto lá pras bandas de Jaboatão, num sítio. No bairro dos Coelhos, à beira da maré vivia um bom pedreiro e sua mãe, já bastante idosa. O pedreiro contratado para fazer um estranho serviço se recusou, mas à mira de uma pistola... Forçado, ele fez o buraco na parede do quarto da moça. Os três colocaram o corpo em pé, ainda com vida, da jovem grávida. O pedreiro levantou uma parede cobrindo tudo. Dia seguinte, foi à polícia fazer uma denuncia. Relatou todo o acontecido.

- "Você vir aqui acusar o Comendador Jaime Favaes? Ele é uma pessoa acima de qualquer suspeita!" Disse o Chefe de Polícia. Como pode comprovar as suas fantasias? Será que você não andou lendo romance policial?" E o pobre pedreiro:
- "Não é fantasia não, doutor! E eu até sou analfabeto!

Por fim o que dizer sobre "O Caso Serrambí?" Mais perto de nós! Duas mocinhas assassinadas em 2003 e que até hoje, 5 anos se passaram e nada de solução, embora todo mundo saiba quem são os assassinos! É a justiça de Pindorama.

O pai e a madrasta de Isabella vão negar até o fim, vão alegar inocência e mais uma vez vão insistir na versão de que uma terceira pessoa cometeu o crime. Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista bradava aos 4 ventos que "uma mentira repetida mil vezes se torna verdade". Quando forem a julgamento daqui a no mínimo 3 ou 4 anos já todo mundo esqueceu de tudo.

Abaixo, vocês encontram alguns casos famosos e insolúveis deste malfadado país. Confiram. Lembrava de alguns. Outros, pesquisei.

OS MISTÉRIOS INSOLÚVEIS DESTE PAÍS.

O linchamento de Chapecó
Década de 50. Chapecó, pequeno município do estado de Santa Catarina entra para a história por conta dos bárbaros acontecimentos ali ocorridos e que culminaram com a morte de quatro rapazes que estavam presos, acusados de terem incendiado a igreja da cidade. Nada ainda havia sido provado. Uma noite um bando armado composto por umas 50 pessoas invadiu a velha cadeia, atiraram nos presos arrastaram seus corpos para o meio da rua e tocaram fogo. Tudo insuflado por Frei Liberato, vigário da cidade. O delegado faz vista grossa. Consumado o fato o padre sumiu e os colonos pagaram com a vida pelo que não haviam feito. Ficou tudo por isso mesmo. Até hoje a cidade tenta esquecer o funesto acontecimento.

O crime do Sacopã
Foi um crime que dominou os noticiários por um longo tempo, permanecendo na mídia por vários anos. Em 2006, ainda se especulava sobre o caso. As pessoas tendem a julgar de acordo com a realidade que a mídia apresenta (no maior carnaval) e que, via de regra, não reflete a verdade. Na noite de 7 de abril de 1952, um Citroen negro foi deixado na Rua Sacopã, na Fonte da Saudade, Rio de Janeiro. Dentro dele o corpo de um sujeito chamado Afrânio, funcionário do Banco do Brasil. Personagem bastante conhecida pelos golpes aplicados nas meninas do High Society carioca. O azar de Afrânio foi se envolver com a garota errada. Ela era gente da alta. Tinha boas relações com os poderosos de então. Esses tais poderosos acionaram seus contatos no governo de Getulio Vargas e a polícia secreta deu cabo do Don Juan. O bode expiatório da trama acabou sendo o namorado da tal garota, o Tenente Bandeira, da Aeronáutica, que não tinha nada a ver com a história e pegou 15 anos de prisão. Conseguiu sair após sete, graças ao esforço do advogado Tenório Cavalcanti, O Homem da Capa Preta, à época deputado federal.

A Fera da Penha
Neyde Maria Lopes conheceu Antonio Couto Araújo e apaixonou-se. Por meses eles se encontraram. Eis que ela acabou descobrindo por um amigo que Antônio era casado e pai de duas crianças. Sabendo disto, ela o coloca de encontro a parede exigindo que ele abandonasse a esposa e filhas para viver com ela. Vendo então que Antônio não deixaria sua família, Neyde traça a vingança definitiva. No dia 30 de junho de 1960, Neyde telefona para a escola onde Taninha (a filha caçula de 4 anos) estudava e, dizendo-se Nilza, (a mãe) falou que não poderia ir pegar a filha e por isso mandaria uma amiga apanhá-la. E foi exatamente o que aconteceu. Neyde ficou andando sem rumo com Taninha, por fim entrou numa farmácia e comprou um litro de álcool. Por volta das 20 horas, ela conduziu a garotinha para um galpão nos fundos do Matadouro da Penha. Lá ela executou a menina com um tiro na cabeça e pôs fogo em seu pequeno cadáver, antes de ir embora na maior tranqüilidade. Presa, foi condenada a 33 anos de prisão, mas após cumprir apenas 15, por bom comportamento, ganhou a liberdade. Dizem que hoje "A Fera da Penha" vive em um modesto apartamento em um subúrbio do Rio de Janeiro.

O Caso dos Irmãos Naves
Considerado o maior erro judiciário do Brasil, e um dos maiores do mundo; acontecido na cidade mineira de Araguari, região do triângulo mineiro, lá pelos idos de 1937. Os irmãos Naves, Sebastião, com 32 anos e Joaquim, 25, trabalhadores que negociavam com a compra e venda de cereais, vida pacata, muito trabalho. Eram sócios de Benedito Caetano, filho de um fazendeiro da redondeza. Os negócios não iam muito bem mas eles conseguem comprar boa quantidade de arroz e vender, ficando o sócio Benedito Caetano como fiel depositário do dinheiro. Na madrugada de 29 de novembro de 1937, Benedito Pereira Caetano, resolve desaparecer levando consigo todo o dinheiro, fruto da venda dos negócios com arroz. Joaquim e Sebastião procuram, em tudo que é canto e nada. Na manhã de 22 de dezembro de 1937, assume a Delegacia de Araguari, um tal Tenente Vieira, personagem sinistro e destinado a ser o causador do mais vergonhoso erro judiciário brasileiro. Autoritário, desconhece todo o processo legal, e logo no início das investigações já conclui serem os irmãos Naves os responsáveis pela morte de Benedito, decretando a prisão dos dois. Infindáveis torturas e sevícias sofrem os irmãos Naves. Confessam! São condenados a 25 anos e 6 meses de reclusão. Joaquim Naves morre indigente, doente, em agosto de 1948. Sebastião Naves ganha liberdade condicional em julho de 1952. Por artes do tinhoso "o morto" reaparece vivinho da silva, após viver por todo esse tempo em terras distantes. Sebastião vê e não acredita. Calcula, os anos de prisão, e não acredita. Benedito jura inocência. De nada sabia. Toda sua família morrera em um acidente de avião. Agora, é outra a realidade. A mesmíssima população que, insuflada pelo Tenente Vieira, acreditou piamente na culpa dos irmãos Naves, neste instante ameaça linchar o desaparecido Benedito. Em 1953 a justiça mineira faz nova revisão criminal, diante do erro judiciário. Em 1960, vinte e dois anos depois de iniciado o martírio, o Supremo Tribunal Federal, conferiu a Sebastião Naves e aos herdeiros de Joaquim Naves o direito a indenização.

Leopoldo Heitor e Dana de Teffé
Dana de Teffé foi uma cidadã tcheca, que veio para o Brasil, depois de passar por vários países, supostamente fugindo da sanha nazista. Aqui casou-se com o diplomata Manuel de Teffé de quem herdou o nome e a fortuna. Se separou logo após o casório e contratou como advogado, para cuidar de seus interesses financeiros, Leopoldo Heitor, que tinha fama de mulherengo e adorava os holofotes da midia. Fez inclusive aparições rumorosas no caso do Sacopã. Certo dia decidiram ir à São Paulo pela Via Dutra. Durante a viagem Dana desapareceu e seu corpo nunca mais foi encontrado. Heitor alegou terem sido assaltados e Dana seqüestrada. Não convenceu e foi preso, julgado e condenado. Fugiu e foi recapturado anos mais tarde. Novamente julgado, foi absolvido. O motivo da absolvição foi justamente a ausência do corpo, para se provar o homicídio.

É ou não é Brasil!? Por essas e por outras, não me ufano deste país. Nem um pouco!

hucaldas@gmail.com

3 comentários:

Anônimo disse...

O comportamento da mãe da menina, como você diz, é estranho, demasiado estranho, Hugo, como também o é o do pai e o da madrasta. Aliás, nesse caso, estranheza é o que jamais faltará.

Anônimo disse...

Seu Hugo, meu primeiro comentário aqui no blog do sr. será um tanto...polêmico!
Esses casos televisionados,que costumam chocar a população, eu tenho a tendência a me manter alheia. No máximo assistir como um seriado de investigação de segunda categoria, pois sei que o veredicto raramente é confiável.
Digo isso pois me revolto como a maioria dos indiremante envolvidos, como a mídia e os investigadores, tentam tirar proveito.
Além do fato de que isso ocontece aos montes, mas só são levados em conta, na grande maioria das vezes, casos que atingem famílias econômicamente favorecidas.
E outra vertente do meu pensamento, dessa vez um olhar de biólogo, é que na natureza os indivíduos apenas agem de forma a aumentar as probabilidades de sucesso de sua espécie e, em casos mais específicos, o seu próprio sucesso!
Os humanos tendem a querer se abster do extinto, mas ele existe tanto no Homo sapiens sapiens como em qualquer outro animal. Apenas temos o poder de controlá-lo (ainda assim limitadamente) e avaliar se ele é positivo ou negativo em cada situação. Não estou, com isso, dizendo que sou uma pessoa fria e que não me atingem barbaridades como essas citadas pelo senhor. Apenas digo que isso tudo é parte integrante do todo!
Isso pode resultar em muitas discussões pra chacoalhar os domingos!
por enquanto, fico por aqui, pois já falei demais!

Beijão

shethas disse...

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