Breno Grisi
Ao ler o Recuerdo sobre a escola Santa Therezinha, a dúvida é: Rir ou chorar! A figura que o Hugo Caldas pintou de Dona Da Luz é perfeita. Ainda tenho na memória suas ameaças e algumas de D. Tércia, como por exemplo "está começando a botar as unhas de fora" e “fazendo figura com o chapéu alheio." Nesses momentos suas bochechas gordas estufavam e alguns perdigotos ejetavam-se no ar. Mas não me lembro de ter visto nenhuma ameaça física a qualquer dos alunos. Mas tinha conhecimento de que o beliscão, um castigo sutil, era comum.
No terceiro ano primário tínhamos uma professora, D. Noemia (minha mãe me disse que tinha sido colega dela na Escola Normal) que era um pouquinho complicada. Uma vez ela me manteve retido na escola até que eu conseguisse resolver um problema de matemática; eu estudava de tarde, estava ficando escuro (tinha que ir a pé até a Camilo de Holanda, perto da Maximiano Figueiredo) e comecei a chorar; e ela com ar e risinho de bruxa, aproximava-se de mim e vociferava: "Olha como ele fica vermelhinho e bonitinho quando chora, parece um camarão." Passei um bom tempo da minha vida traumatizado com problemas de matemática, principalmente na hora de provas, quando eu tinha a sensação de que não iria conseguir resolver os problemas da prova antes do tempo. Acontecimentos desse tipo na infância exercem um efeito imprevisível na vida adulta, já dizem os psicólogos.
D. Noemia costumava juntar uns 3 ou 4 de nós em frente à mesa dela para "tomar a lição" e um dos colegas, Milton Cartaxo (irmão de Divaldo Cartaxo), uma vez a caminho da escola disse-me: "eu hoje mato D. Noemia! comi um monte de batata doce, ovo, cuscuz e tomei um copão de leite". Na hora de tomar a lição, arrodeada pelos alunos-vítimas do dia e com Milton nos empurrando para ficar pertinho dela, ela começava a esfregar o nariz, com um lencinho bem-bordado e, já não mais agüentando... com o nariz vermelho e se abanando disse: "um de vocês hoje ESTÁ PODRE! Podem ir se sentar"! E Milton saía rindo e feliz com o sucesso dos peidos eficientes que tinha soltado. E minha vingança de criança tinha se perpetrado através do meu grande amigo Milton Cartaxo.
Havia folga nas quinta-feiras (e aulas no sábado) porque esse era o dia em que D. Tércia tinha que ir dar aulas de Geografia na Escola Industrial, que ainda era nas Trincheiras (próximo à balaustrada); e para isso ela pegava o bonde em frente à própria escola. Eu detestava ter que ir para a escola nos sábados, porque nas quinta-feiras não havia amigos na vizinhança para brincar.
Lembro-me perfeitamente das demonstrações de orgulho que ela tinha dos ex-alunos que se deram bem na vida. Vez ou outra ela nos apresentava um deles, inclusive o João Agripino Maia, embora na época ainda não tivesse se projetado na política nacional.
O quintal da escola era uma área proibida. Não me lembro de ter ido lá hora nenhuma. Passávamos ao lado quando queríamos ir ao "quartinho" (parecia ser proibido chamar sanitário ou banheiro).... E muitas outras venturas e desventuras ... que temos para contar, agora para os netos.
brenogrisi@yahoo.com.br
NOTA DA REDAÇÃO
Breno Machado Grisi é um paraibano de João Pessoa que nos apareceu por obra e graça das webs e internets da vida. Cursou o primário na Escola Santa Therezinha de Dona Tércia Bonavides, o secundário no Colégio Pio X. Formado em História Natural pela Universidade Federal da Bahia. Mestrado em Botânica na USP, PhD em Biologia na Universidade de Essex, Inglaterra. Pós-Doutorado em Rothamsted Experimental Station, Inglaterra. Hoje desfruta o mais doces dos ócios numa bem merecida jubilação. Nas horas vagas, que como aposentado “abundam”, continua lendo, principalmente sobre ciência, fotografando a Natureza e dialogando com os amigos através do cyberspace. Quem quiser saber mais do nosso mais novo colaborador que se digne ir à página do Google colocar o seu (his) nome e mandar ver. Boas cheganças meu caro Breno. H.C.
4 comentários:
Não tive o prazer de conhecer o Breno Grisi nos bancos da D. Tércia. Deve ter chegado quando eu já andava pelo Pio X "velho", eu também já velho com ele, que sempre me senti um pouco fora de moda nesse mundo. Como fui jubilado no século passado, o Breno deve ter uns dez anos a menos (poderia portanto ser meu filho, se eu fosse um pouco precoce). Mas queria fazer um pequeno reparo, quanto aos castigos físicos na escola, que ele nunca viu. Pois no meu tempo tinha um aluno, filho de algum parente ou amigo pobre da D. Tércia, que era muito distraído. Quando D. Tércia estava muito estressada, levava-o para um dos quarto, cuja porta dava para o salão de aula, e a porrada comia solta. Depois ela voltava arfando e continuava a aula. Sobre o "quartinho" (que época, meu Deus, tudo era proibido e digno de censura!), lembro que elas economizavam no papel higiênico, substituído por jornais velhos, papel de embrulho e até telegramas. Quando eu ia lá, gostava de ler aqueles telegramas do João Agripino para a família (ele era casado com uma irmão da D. Tércia, se não me engano). Havia também um pé de carambola no quintal (lembram-se, velhinhos do meu tempo?), mas quem ousava tirar unzinho que fosse? Uma vez levei amendoim cozinhado pro lanche e ela teve um ataque de nervos. Ufa! Meu comentário está maior que o artigo. Perdão, rapazes. Carlos Mello
Meu irmão Djalma Herculano (in memorian) e eu fomos educados com D.Tércia, era uma professora durona mantinha a disciplina através do medo D. Tercia, Daluz e Concita que era a mais amável. Quem estudou lá deve se lembrar de um velhinho negro filho de uma escrava da família delas, que ficava no quintal torrando café. D. Tércia também preparava os alunos pra primeira comunhão. Era realmente um ensino rígido, mas que aprendemos de verdade e fomos felizes.
Fiquei muito surpresa, ao me deparar com o nome do sr. Breno Machado Grisi. Pelo simples fato de me chamar POLLYANA MACHADO GRISI, paraibana. O sobrenome Machado, vem da família de meu pai e o Grisi, da família de meu esposo, todos da capital paraibana. Achei Uma "coincidência" incrível, pois nunca tinha visto este sobrenome em outra pessoa que não fosse em mim e em minhas filhas! Muita Luz, sr. Breno e seja muito feliz!
MORAVA PERTINHO DESSA ESCOLA, E A MAIORIA DOS MENINOS E MENINAS QUE POR AI MORAVAM ESTUDAVAM LÁ,PONCE DE LEOM, MEU SAUDOSO IRMÃO DJALMA HERCULANO ENTRE TANTOS OUTROS.EU TAMBÉM FUI PARAR LÁ POR DECRETO DE MINHA MÃE. MAS VALEU MUITO, LÁ FIZ A PRIMEIRA EUCARISTIA PORQUE D. TÉRCIA TAMBÉM ERA CATEQUISTA ONDE FIZEMOS NA IGREJA DE LOURDES,EU ERA UMA MENINA COMPORTADA , MAS MORRIA DE MEDO DELA NOS TESTES ORAIS QUE TINHAM TODA SEMANA DE GEOGRAFIA,HISTÓRIA,VERBO E A BENDITA TABUADA.EU ADORAVA A SEXTA FEIRA QUE ERA DIA DE DESENHO E DESCRIÇÃO, REDAÇÃO OU COMPOSIÇÃO. SE FOSSE POSSÍVEL GOSTARIA DE PASSAR POR TUDO NOVAMENTE TENHO ORGULHO DE TER ESTUDADO NESSA ESCOLA E TODAS AS PROFESSORAS FICARAM INESQUECÍVEIS A MINHA MEMÓRIA
Postar um comentário