domingo, dezembro 23, 2007

É NATAL...


Vocês aí da geral, vezeiros em azucrinar a minha conhecida paciência a fim de conhecer a real identidade do Riobaldo Tatarana. Em verdade vos digo que, finalmente, após insistentes pedidos, numerosos abaixo-assinados, e algumas pressões, suspeita-se, oriundas do planalto central, o buliçoso escritor concordou em se deixar fotografar (hum, hum) e de contínuo, nos brinda com o seu inquietador frontispício à guisa de mimo natalino, anexado ao singelo texto abaixo. Feliz Natal a todos. H.C.

Riobaldo Tatarana

Havia eu proclamado aos meus quatro leitores (cinco agora, com a inclusão dessa simpaticíssima Aline) minha aversão a afastar-me, por pouco que seja, do meu tugúrio praieiro. Pois não é que paguei a língua? Minha mulher exigiu, sob a covarde ameaça de nunca mais fazer baba de moça nem cação ao coco, que fôssemos passar “as festas” no Sul, em casa dos seus parentes, pois minha longeva sogra completa aí seus quatrocentos aninhos. E lá vou eu, já sabendo o que me espera. Um jantar gordurento, presentes comprados em lojas de 2,99 e embrulhados às pressas, champanhe nacional e um calor dos infernos, além da mais absoluta hipocrisia, que é a característica principal desse período.

Nós, brasileiros, não temos absolutamente nenhum limite para o ridículo. Lembro do título de um artigo do Antônio Torres, maravilhoso cronista do início do século passado: “O ridículo como expressão nacional”. Procurem ler. E lembro também de um amigo belga, já falecido, que veio passar o Natal no Rio, e morria de rir ao ver, no calor senegalês da cidade, figuras vestidas de papai Noel, com renas e neve artificial caindo. Quem é papai noel? Não perco tempo com histórias sobre a lenda. Pergunto quem é essa figura, que ressurge a cada ano, sempre cercado de criancinhas ingênuas, levadas por pais debilóides, para tirar fotos.

A julgar por essa afeição, seria um pedófilo, disfarçado em presenteador? A julgar pelo traje berrante, pelos veadinhos cheios de guizos arrastando um trenó colorido, não ficaria melhor como símbolo do movimento gay? Dada a indisfarçável pança e a cara rechonchuda, não se ajustaria bem a uma campanha contra a obesidade? Pois bem, essa figura importada é um símbolo multibilionário, que leva milhões de papalvos em todo o mundo a espremer suas minguadas economias e acotovelar-se nas lojas em busca de presentes vulgares, que depois serão atirados para um canto qualquer.

Não pensem que eu defendo um papai Noel caboclo. Aí sim, teríamos o ridículo elevado ao cubo. Aliás, eu não estou defendendo nada, apenas exercito meu mau humor contra essa mania botocuda de imitarmos tudo que se faz no primeiro mundo.

Há gente que argumenta que essa é uma data religiosa, ou sagrada, pois comemora o nascimento de Cristo. É mesmo?! E como se faz isso? Com a glutonaria do jantar? Com a profusão de presentes? Com a hipocrisia de parentes que passam o ano a esfaquear-se mutuamente e depois se abraçam? Ora, façam-me o favor.... Mas não há mesmo termo para nossa mania de imitar tudo, principalmente o que não presta, desde que venha com aval dos ricos. Vejam como a cada ano se reforça a tal festa do Halloween, como as escolas se movimentam para fantasiar as crianças de bruxas e criar um clima satânico. Depois, nos queixamos quando os argentinos nos chamam de macaquitos. Temos essa deformação moral, essa mazela psicológica: imitar. E sufocamos imediatamente tudo que seja autenticamente popular e nacional.

Vejam o tão badalado reveillon de Copacabana. Aí pela década de 60, 70, quando lá vivia, era uma bela festa de confraternização. Após a meia noite, todo mundo descia para o calçadão, e era uma festa de todos, as pessoas se abraçavam, ofereciam champanhe umas às outras, soltavam-se pequenos rojões, todo mundo cantava, e pulava, e ria. A beira da praia ficava lotada de pequenos terreiros de umbanda, onde as pessoas iam galhofeiramente tomar passes, porque tudo era uma grande e bem-humorada brincadeira. Até que veio a prefeitura, com sua sabedoria de jumento, e resolveu “organizar” a festa. Constrói todo ano imensos palcos, onde se exibem artistas e bandas regiamente pagos, e à meia noite faz espocar uma saraivada milionária de fogos importados, que os basbaques ficam admirando com uma expressão idiota. Os pobres macumbeiros foram expulsos da areia, agora tomada por farofeiros que vêm de toda parte, com cadeiras e farnéis, “esperar os fogos”. E em poucas horas o que se vê é gente drogada, urinando por toda parte, brigas, confusão. Ó terra, ó gente!

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Hugo Caldas disse...

O comentário acima foi removido por minha humilde pessoa. Apareceu com pinta de brincadeira de quem não tem absolutamente o que fazer. Em inglês mal escrito com tudo para ser vírus ou correlato. Vade retro Satan, cantar noutra freguesia. Hugão