sexta-feira, agosto 10, 2007

APRECIAÇÀO DA OBRA LITERÁRIA DE DJANIRA SILVA

Por iniciativa da União Brasileira de Escritores, a obra literária da acadêmica Djanira Silva foi homenageada dentro do projeto "A Cultura e a Arte em Pernambuco" no último dia 06 de agosto, na Livraria Cultura - Paço Alfândega. O texto que se segue é de autoria de um dos escritores escalados para a devida e justíssima homenagem. HC


LUIZ GONZAGA LOPES


Ao iniciar esta apreciação sobre a Obra Literária de DJANIRA SILVA, faço-o felicitando a mim mesmo pela ventura que me foi proporcionada de ler diversos livros dessa extraordinária Escritora.

Para fazê-lo, começo repetindo algumas palavras usadas por mim, quando escrevi a contracapa de seu último livro, um ótimo paradidático que na pia batismal recebeu o título de Do Quintal Para o Mundo.

Foram estas as minhas palavras: “Quando cheguei à última página do livro A Magia da Serra, como que movido pela magia do texto, senti-me encantado. Este foi o meu primeiro contato, o marco inicial com a obra literária de DJANIRA SILVA. A partir daí tornei-me leitor obrigatório dessa premiadíssima escritora. E nada mais me surpreendeu vindo dela, cada livro seu revelou-se uma obra de primeira grandeza. Só uma inteligência viva e versátil como a de Djanira seria capaz de engendrar tantas estórias, e com tanta perfeição, que chegam a deixar o leitor em dúvida se as situações apresentadas são imaginadas ou vividas. Constata-se isso no premiado O Olho do Girassol, no brilhante Pecados de Areia, no magistral Memórias do Vento, no delicioso A Maldição do Serviço Doméstico, no poético Em Ponto Morto . . . “

Já ouvi da boca de seguidores de algumas religiões, a afirmação de que as pessoas morrem e tornam a encarnar em épocas futuras. A ser verdade essa assertiva, na geração passada eu devo ter nascido e vivido em uma cidade pequena, dessas onde a gente conhece todos os viventes, desde o barbeiro até o farmacêutico, desde o padre até dono da mercearia, desde o professor até o sargento delegado de polícia, e assim por diante, sem esquecer o bêbado, o mentiroso e o doido — figuras fundamentais em urbe pequena que se dá a respeito.

A prova disso é que, sem haver nascido, ou mesmo vivido em uma cidade com estas características, escrevi um livro sobre o dia-a-dia de uma comunidade diminuta, A Cidade do Homem-Só.

Se alguém cometer a imprudência de fazer um paralelo entre o meu escrito e o belo texto de A MAGIA DA SERRA, logo sentirá que tudo quanto relatei não passa de pura imaginação. Já sobre a narrativa de DJANIRA, poderá dizer, com segurança, que se trata de pedaços da vida, pois representa a mais autêntica literatura de costumes. Além disso, tem a força indiscutível da História, representa a fotografia social de uma época. As páginas são reveladoras de nomes de ruas, de logradouros, de instituições, de personalidades, de pessoas comuns e até de doidos como Machadinho e Adelina, esta sempre “enfeitada com flores de papel crepom e as bochechas pintadas de vermelho”. DJANIRA registra ainda, em suas memórias, a presença de Pé de Bode, outro doido, que pedia comida chorando porque estava com fome, e depois chorava porque estava de barriga cheia. Todos esses tipos, acontecimentos e situações foram presenciados ou até vividos por DJANIRA.

Li e reli tudo. Li e reli porque muito me agradou. De fato, o livro é uma beleza.

Em seguida, veio Memórias do Vento. Para comentar este trabalho, uso aqui, não as minhas palavras, mas as palavras da Autora: “Numa noite de insônia, conversando com o vento, prometi-lhe escrever suas memórias”. Com seu espírito de elevado humor, DJANIRA passou a perna no vento, e ao invés de contar as memórias dele, escreveu as próprias. Começou com as Memórias do Olhar, em que narra o início de tudo: sua chegada ao mundo. Seguem-se capítulos para agradar a todos os gostos, desde os mais poéticos até aqueles em que a Autora soltou todo o seu poder de humor, merecendo destaque O Boletim de Ocorrências, A Trama, e Liberdade Vigiada, entre outros. Após concluir a leitura desse magnífico trabalho, cheguei a pensar não haver mais espaço para crescimento literário de DJANIRA SILVA. Puro engano de minha parte, pois logo surgiu Pecados de Areia. Com esse livro, a Autora se superou, surpreendeu os leitores ao mostrar toda a fertilidade de sua imaginação, sua capacidade de criação. A leitura de Pecados de Areia leva o leitor a afirmar: DJANIRA não se esgota.

A exemplo de como me aconteceu com outro livro que muito me marcou (Habemus Panem, de Ana Maria César), no decorrer da leitura de Pecados de Areia surgiram-me dúvidas sobre o conteúdo da obra. Fiquei sem saber se se tratava de memórias, de reminiscências, de autobiografia ou, puramente, de fantasias engendradas pela fértil imaginação da Autora. O Aurélio tirou-me as dúvidas, pois além de encampar tudo, deixou-me ciente de que em qualquer das suposições o livro é completo.

Tenho para mim que um bom livro é aquele que se nega a ser arquivado na estante, deve enfrentar sol e chuva para ser objeto de novas apreciações. Este é o caso de Pecados de Areia. Daí porque passei adiante o exemplar que havia em meu poder. Paradoxalmente gostei tanto, que resolvi não guardá-lo comigo. Passei-o às mãos de meu filho Tércio, residente em Birmingham, nos Ee.Uu., que posteriormente enviou-o a outro filho meu, Márcio, em Cincinnatti, também nos Ee.Uu. Depois de lido, Márcio fez o livro continuar circulando. Há poucos dias surpreendi-me ao visitar um amigo, o cardiologista Guilherme Marim, na cidade de San Diego, na Califórnia. Com ele estava o livro.

Não sei o que agrada mais nos textos escritos por Djanira: se o conteúdo de cada obra, se o estilo inconfundível como escreve, se a linguagem pura, de frases bem elaboradas e enxutas. Tudo isso, em meio a uma simplicidade de causar inveja, fatores que levam o leitor a ficar preso ao texto, da primeira à última página.

Para finalizar, surge-me uma dúvida: quem merece os parabéns? Nós ou DJANIRA?

Um comentário:

Hugo Caldas disse...

LULA, Meu caro
Diga lá pro seu amigo de San Diego que pode enviar o livro pra mim.
Grato. Hugo