HUGO CALDAS
Ora, ora meu caros. Ultimamente as ideias me andam ruminando o miolo. Será que o relato de fatos que aconteceram com esse locutor que vos fala vale mesmo a pena? Não deveria, eu como cidadão, ciente dos meus direitos e deveres, comentar o que anda a acontecer neste meu Brasil varonil?! O fato é que já existe gente muito boa nesse mister. Viram o artigo do José Nêumanne no O Estadão, dia 7 do corrente? Pois é! Forçoso será lê-lo se ainda não o fizeram. Leiam e se toquem com o que está acontecendo "neste país de caminhadas sólidas - o que vem a ser isso, criatura de Deus - na busca do Ponto G das negociações". Enquanto isso, cobrado, volto ao batente.
Início da década de oitenta. Chegava pela primeira vez a Caracas para participação na Expo-Brasil que iria começar a acontecer no início da semana seguinte. Ainda no aeroporto verifico a situação da minha reserva de hotel (Caracas Hilton - a viúva pagava) e não é que um misto de surpresa e decepção me aguardava! Surpresa porque descobri que niguém entrava ou saía do hotel. Os poucos que tiveram essa prerrogativa eram revistados várias vezes. Advinhem a razão! Quem estava "hospedado" no Hilton era ninguém menos que o Eden Pastora, ele mesmo, o Comandante Zero. Usava o hotel como hospital. Cuidava de feridas adquiridas na guerrilha ou sei lá onde.
Acompanhei com o mais vivo entusiasmo a tomada da Assembleia Nacional de Manágua. Torci pela derrota do Somoza. Minha mulher à época grávida, juntou-se na admiração e o resultado é que demos o nome de Eden ao bruguelo que nasceu. Evidentemente sem o Pastora, para poupá-lo de encrencas mais tarde no colégio.
E agora essa desfeita?!
Tive que sair em peregrinação a fim de encontrar alojamento numa Caracas desconhecida e em plena noite. Ainda bem que de bar em bar, descobri uma cerveja muito saborosa.
"Polar - la cerveza popular". Sobre cervejas havia uma coisa engraçada quando eu fazia o pedido, "desculpe, mas só temos gelada", era a resposta. Lá eles tomam à temperatura ambiente. Geladinha, a Polar era um sonho. Divago.
Surpresa agradável foi encontar a cara de amigos por lá. Os biotipos se assemelham bastante. Era comum ver Elpidio, Serafim, Anco, Guy Joseph em plena Venezuela. Bom lembrar que era uma Venezuela pré-Chavez, o Bufão. Comemorava-se a vitória da Revolução e a TV mostrava intermináveis documentários.
A convivência com o povo venezuelano foi bastante enriquecedora. Muito aprendi. Principalmente reparando os equívocos da história que nos são impostos. Lá existe uma avenida chamada Marechal Solano Lopez. O próprio, o que foi morto miseravelmente pelo cabo Chico Diabo na Batalha de Cerro Corá, Paraguai. Grande cartaz "en tierras venezolanas". Agora, o vexame maior ficou por conta do "General Lima". Eu não tinha a menor ideia de quem se tratava. José Inacio de Abreu e Lima, o "General das Massas", brasileiro, pernambucano, um sujeito adorado como heroi pelo povo venezuelano como "El Segundo de Simon Bolivar". Forçoso era reconhecer a mancada e ter que concordar com as pessoas. Eu ignorava completamente a brilhante figura. Hoje, quando vejo a avidez hipócrita de tantos querendo ser donos e idealizadores da Refinaria de petróleo "Abreu e Lima" acho engraçado se não fosse trágico. Essa refinaria já era comentada e dada como certa em Caracas no ano da graça de 1982.
Voltei mais uma vez a Caracas. Convivi com sua bela música e conheci seus artistas e compositores. Existe um senhor cantor compositor, da importância de um Tom Jobim chamado Simon Diaz. Tenho vários discos dele. Um primor. Não me atreveria a uma terceira viagem ao simpático país. Pelo menos, não agora. Com o maluco do Bush querendo tocar fogo no mundo e o cretino do Chavez a cutucar o diabo com vara curta....
É uma pena. Adorei a Venezuela. E a Polar, "La Cerveza Popular".
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