sexta-feira, janeiro 05, 2007

DIGRESSÕES DE INÍCIO DE ANO

HUGO CALDAS

Às vezes as pessoas dizem certas coisas sem pensar, e uma vez dita, a palavra não volta e para resvalar no ridículo ou na tragédia é um tantinho assim. As armadilhas da nossa linguagem são inúmeras e perigosas. Ví certa vez pichado em um muro o protesto de uma certa ONG, logo após a matança da Candelária: "Não matem as minhas crianças. Não se mata sem motivo." Ora, vejam só! Se houver razão, pode mandar ver e sair matando adoidado, é isso?

Aliás, levantamento feito na década de 80 dá conta de que, se todas as ONGs de Pernambuco utilizassem apenas 5% do dinheiro administrado por elas em programas de valorização da criança, não haveria um só menor abandonado nas ruas do Recife. Nos meus tempos de franqueado dos Correios, uma ONG muito importante era nossa cliente e postava quase que diariamente o equivalente hoje a R$ 150,00 em folders muito bem editados e impressos em papel couché. A maioria desses impressos era para postagem internacional.

De lá para cá evoluimos, como rabo de cavalo, isto é, para baixo. Passamos a viver a situação degradante de hoje. O número de crianças nas ruas aumentou consideravelmente. O de Ong's também. A criminalidade triplicou. Não faz muito tempo um garoto de 11 anos, o auto-proclamado "Menino Aranha" (subia literalmente pelas paredes dos prédios que assaltava) foi morto à queima-roupa bem perto aqui da minha casa.

Descubro maravilhado que sou dono e feliz proprietário de uma inflação. Isso mesmo. Leio nas Folhas que existe uma tal de "Inflação dos idosos" e que a dita cuja é a menor desde o Plano Real. Beneficiada por uma alta menor de tarifas, a minha inflação (sou idoso, pois não?) fechou o ano no patamar mais baixo desde o citado plano de FHC em 1994. Não é o máximo? Contando ninguém acredita.

Voltando ao linguajar irresponsável... Vejo frequentemente na tv um comercial de uma empresa de segurança gabando-se de que é a "segurança inteligente". E existe segurança burra? Me vem à memória episódio envolvendo o dr. Sobral Pinto grande jurista, e um tenente do exército, logo no início dos anos de chumbo. Insistia o tenente que não estávamos em ditadura alguma pois o congresso funcionava livremente. Vivíamos isso sim, em uma democracia. Uma "democracia à brasileira, é bem verdade, mas uma democracia". Ao que o ilustre dr. Sobral retrucou: "Tenente, à brasileira só o perú!" Democracia não se adjetiva. É ou não é!

Algo que nunca consegui entender: Por que será que o preço dos ingressos de um espetáculo qualquer até a sexta-feira é um e fica mais caro inexplicavelmente aos sábados e domingos? Trabalha-se mais nos fins de semana? O espetáculo aumenta de tamanho? O elenco também?

Parece que o Sindicato dos Bancários de Brasília não está gostando nem se conforma com o novo marketing do Banco do Brasil, que trocou o logotipo para Banco da Maria, do José, do Mario, etc. Também detestei a ideia. Esse Do José, Da Maria, me causa náuseas. Ninguém fala assim por aqui. Certa vez, em viagem pelo sertão, encontrei lá pelas banda de Ingá uma "Barraca Do Néco". Argh! Isso é obra e graça da televisão que costuma nivelar por baixo e maltratar a nossa maneira de ser e dizer as coisas. À propósito, já notaram que qualquer repórter da Globo tem um padrão, uma musiquinha, para vomitar as noticias na nossa cara? Eles não têm texto. Têm partitura. Quem é de teatro entende o que digo. E quando os nossos nordestinos jornalistas tentam imitar o jeitão do sul, dá-se a tragédia. Lamentável! Macaqueação pura.

E finalmente mas não menos importante: Já pensaram direitinho que quando algum chefete da vida faz um elogio qualquer por um trabalho bem elaborado e dispara as seguintes palavrinhas: Muito bem, "continue assim"! Acho que aí está embutido um "porque senão...!"

Feliz Ano Novo a todos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu filho!
No dia que se tirar as crianças das ruas e fazerem jorrar agua nos sertões, não haverá mais deputados na face da terra.
Deus lhe abençoe, meu tenente.Você e toda a família com um 2007 venturoso.
Valdez

Anônimo disse...

Já fiz a corrigenda mas não vi publicado portanto, repito: Onde se lê em meu comentário sobre "DIGRESSÕES DE INÍCIO DE ANO", fazerem, leia-se fizerem.
Valdez