terça-feira, julho 09, 2013

Pílulas de Vida do Dr. Ross - (chiquititas pero, cumplidoras)

Nero Cachorrão

Para ser lido ao som de "Cerejeira Rosa" - por Perez Prado e sua Orquestra
 

Hugão, eu odeio política, e toda vez que me meto por esse lodaçal, volto diminuído. É um assunto que sempre dá margem a controvérsias estéreis. A arte do possível? Mas quem determina o que é possível? Tenho estomago não, esse menino. Ando ocupado com coisas muitíssimo mais importantes, não gasto mais nem um centavo do meu tempo com essa coisa, que na verdade é uma ocupação para espíritos inferiores. Ando lendo os Apotegmas dos Padres do Deserto, e ali encontro sabedoria, honestidade, coragem e transcendência capaz de elevar-nos acima da pocilga humana. Não quero entristecer-me, a essa altura da vida, e sobretudo com os amigos queridos, que me acompanharam durante toda a longa viagem que ora termina. O Gilvan está para escrever um artigo laudatório sobre o FHC. Espero que ele nunca mo mande, porque não lerei. Há maneiras menos escrotas de faturar um troco, né não? Enfim, cada um na sua. E a minha definitivamente não é essa.

Mas o que eu mais admiro naquele mundo passado era a nossa absoluta liberdade de ir e vir, tanto em JP quanto em Recife, às vezes sozinho, de porre, altas madrugadas. Sabe de uma coisa? Toda essa parafernália que está aí, computadores, aparelhos sofisticados de exame médico, aviões a jato e o caralho a quatro, eu troco por aquela vida que a gente sabia que estava vivendo, tinha plena consciência de quem éramos e o maior respeito pelos mais velhos. E, cá pra nós, os recursos médicos eram bem escassos, mas os médicos sabiam medicina pra caralho, tanto é que curavam. Bom, não adianta a gente ficar falando, aquele mundo tá enterrado pra sempre.

O que há com esse país? Por que há no Brasil tantas vozes pra defender os escrotos? Não sei. Falava pro Gilvan de uma das últimas cartas do Lobato pra seu amigo Godofredo Rangel, já no fim da vida, em que ele relembrava suas lutas inglórias para defender o petróleo e o ferro brasileiro - e  que lhe rendeu cadeia - a inocuidade de todo o seu trabalho, a eterna ascensão das nulidades e dos patifes - para dizer que estava farto e queria ir embora. Um dos maiores homens nascidos nesta pobre terra, tão extensa e tão desfibrada. Eu também tô cansado. Cansadíssimo. Veja você, no auge das passeatas, fez-se uma pesquisa séria pra saber a preferência dos pré-candidatos ao governo do Estado aqui no Rio, e sabe quem deu na cabeça? Garotinho. Precisa falar mais alguma coisa?

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