Carlos Chagas
Anuncia-se para amanhã a divulgação, pela presidente Dilma, de cinco sugestões para constarem do plebiscito a ser realizado sobre a reforma política. Serão perguntas simples que o Congresso endossará ou não no decreto legislativo de convocação dessa nova consulta popular. Algo como “deve haver financiamento público das campanhas e proibição de doações empresariais?” Ou “aceita a votação em listas partidárias para deputado?” E outras.
A grande questão está em que o plebiscito é uma bobagem, se proposto como resposta do governo e do Congresso para a rebelião verificada nas ruas. Não há um jovem, sequer, preocupado com a reforma política ou que tenha feito dela motivo para suas reivindicações. Os manifestantes querem passagens mais baratas nos transportes coletivos, melhor educação e saúde públicas, fim da corrupção, cadeia para os corruptos, emprego para todos e coisas correlatas.
Com todo o respeito, a presidente Dilma vem se conduzindo bem diante dos protestos populares, conversa como jamais conversou com políticos e segmentos sociais, mas pisou no tomate ao propor, primeiro, uma Assembléia Constituinte exclusiva, e, como meia-sola ou remendo, o plebiscito. Para não ser derrotada duas vezes, já que a nação inteira rejeitou a idéia inicial, ela agora bate o pé na segunda.
Seria um risco dos diabos a convocação da Constituinte exclusiva para a reforma política, porque ninguém garante que seus integrantes não viessem a reduzir o mandato presidencial, estabelecer o parlamentarismo ou até o Império. O plebiscito também constitui um perigo, pois se um parlamentar conseguir incluir nas perguntas o fim da reeleição, para vigência imediata, e se os eleitores concordarem, como ficará o segundo mandato de Dilma?
Há quem suponha nessa operação artificial em curso manobra pueril para a presidente reforçar o PT. Como ela e o partido não andam propriamente bem de relacionamento, parece difícil, a menos que por trás das cortinas se encontre o dedo do Lula. O ex-presidente, agora, classifica como “barbeiragem” a proposta da Constituinte exclusiva, esquecido de ter sido ele a levantá-la, conseguindo convencer Dilma Rousseff em seus tempos de chefe da Casa Civil.
Em suma, encontram-se o governo e o Congresso praticando a arte de enxugar gelo e ensacar fumaça. No fundo, o plebiscito é uma grande bobagem.
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