segunda-feira, julho 29, 2013

Eis o que penso

Carlos Cordeiro de Mello

Hoje resolvi aproveitar, que finalmente parou de nevar no Rio, fui dar uma volta pela Atlântica. Lá estavam os muitos grupos de jovens católicos, com suas bandeiras e sua alegria. Não se ouve uma palavra suja, não se vê um papel no chão, todos são alegres e ordeiros, mostrando que é perfeitamente possível unir as duas coisas. De repente, escuto uma barulheira desordenada, carnavalesca, de um grupo que vem em sentido contrário. São travecos, comunas, desajustados, sociopatas, com cartazes e faixas cujos dizeres traduzem bem o que lhes vai na alma: "Chupemos uns aos outros", "A mulher é dona de seu corpo e de sua x...", "Não precisamos de caridade, mas de comunismo". O grupo adota esse nome, aliás justo, "As vadias", e prega a liberdade total - uma contradição em si mesma, porque essa liberdade que apregoam significa anular a liberdade dos que são contra o amoralismo, as drogas e a libertinagem. Fico imaginando o que seria desses desordeiros, que se dizem socialistas, se fossem viver em um país como a antiga URSS, a China, Cuba (onde se pode ser preso por simples "sospecha de marijuaneria") ou a Coreia do Norte. Porque lá não é como aqui, onde se goza de plena liberdade. Lá, homossexuais, travestis, viciados, são enviados para campos de "reeducação", metidos em trabalhos forçados e fuzilados. A Revolução Russa vai fazer um século. De lá para cá, toda a horda de Stálin, Lênin, Mao, Jaruzelski, Pol Pot, Fidel, Che Guevara e aquele abantesmas norte-coreanos não foi suficiente para mostrar a esses cegos de nascença o que é o comunismo ateu - tão genocida e impiedoso quanto as ditaduras de direita, de Hitler e Mussolini a el hijo de puta Franco, Salazar, Pinochet, Lanusse e Médici. A história mostra, a quem quer ver, que a coisa mais parecida com um esquerdista radical é um direitista radical. Mudam apenas os slogans e os símbolos. O tal bando das autointituladas "vadias", vestidas a caráter, continuou sua marcha, gritando palavrões impublicáveis, e estacionou nas imediações do Forte, onde o Papa deveria chegar de helicóptero, na intenção de impedir-lhe de dirigir-se ao local de encontro dos católicos. Que tal a tolerância? Eles querem liberdade plena de palavra e ação - para eles somente. Felizmente ali é área militar, e bastou que alguns soldados do Exército armados saíssem à rua para o grupo fugir, em direção talvez ao Leblon. São arrogantes, mas covardes. Queriam talvez spray de pimenta e cassetete, para "documentar" que são perseguidos, que não há liberdade etc. Realizam dezenas de passeatas gay, com pessoas seminuas, fazem sexo público, defecam e urinam na rua, e a gente aguenta tudo calado. Quando os católicos decidem realizar sua festa, tentam impedir.  
 

Devo dizer, com honestidade: eu não sou católico. Mas não só respeito como admiro a Igreja Católica, com todos os erros (que ela reconhece) e acertos (que são muitos). O Papa Francisco encarna uma posição nova, não só do Catolicismo, mas do Cristianismo e de todos os homens e mulheres de boa vontade. No Brasil, pregou a necessidade de combater os preconceitos, a maldade, a corrupção e a intolerância. Deu grandes lições de humildade e amor, em gestos e palavras. E mostrou que está na hora de todo nós, os de boa vontade, independente de nossas crenças, nos unirmos fraternalmente sob o único pastor, Jesus Cristo, cujas palavras continuam ecoando em nossos corações: 

"Bem-aventurados os pobres em espírito, os que têm fome e sede de justiça, os mansos, os pacificadores, os misericordiosos, os que choram, os que sofrem perseguição - porque eles serão abençoados e recebidos nos céus com as palavras: "Vinde, benditos de meu Pai, porque estava nu e me vestiste, faminto, e me alimentaste, preso e me visitaste. Sim, porque quando assim fizestes a um desses pequeninos, foi a mim que o fizestes". Essas palavras nunca passarão. O próprio Mahatma Gandhi, o Iluminado - que não era cristão, mas hinduísta - disse certa vez que se um dia queimassem todos os livros sagrados de todas as religiões e ser preservasse somente o Sermão do Monte, o essencial estaria salvo.

Eis o que penso. 

7 comentários:

Anônimo disse...

Beleza, meu caro. O curioso é que Morris West, no romance As Sandálias do Pescador, imaginou um primeiro papa não italiano, vindo do outro lado da cortina de ferro e se chamaria Kiril Lakota. Anos depois surge o polonês Karol Woytila. Mas o problema é que Kiril Lakota, parece-me, não era um retrógrado com Ratzinger como eminência parda, mas o Papa Francisco.

Enfim, a coisa estava no ar e o Morris West a captou... embora em fragmentos.

Solha

Ana Arnaud disse...


Excelente texto! Penso exatamente assim.

Hugão disse...

Concordo em gênero, número e grau.
Hugão

E.Neiva disse...

Carlos, a questão do que o Francisco diz é bem mais sutil do que parece. Se, por um lado, ele é expressa o sentimento mais comum do que se entende como cristandade (como ser de uma outra forma?), ao mesmo tempo ele afirma algo sábio, como ouvi hj, que o estado laico é a garantia da liberdade religiosa. Salve o estado laico e viva a inteligência dessa compreensão que, nem sempre, se atinge com facilidade.

Virgílio Cordeiro disse...

Correta, justa e verdadeira sua reflexão. Parabens ! Virgilio

Marcus Tadeu disse...


Estimado Carlos.



Estupendo este seu texto sobre o catolicismo e a tal passeata - se é que se pode chamar "A marcha das Vadias" de passeata. Muito bom mesmo. Sinceramente, eu também achei excessiva e descabida a forma com que as pessoas acharam de protestar contra... - contra o quê? Contra a moral, esse pilar do Estado de Direito e, enfim, do próprio Direito?



Eu morei fora um tempo e devo dizer que a imagem de nosso povo, em especial das mulheres brasileiras, não é nada abonadora. Certa vez, uma amiga minha, religiosa, estava numa livraria em Roma, quando entrou um grupo de turistas brasileiros com seu proverbial estardalhaço. O livreiro aproximou-se dessa minha amiga freira sem identificar-lhe a nacionalidade e sussurrou: "Guarda la tua borsa, signora. Brasiliani!... Tutto ladro!" E a gente se acha "malandro".



Da forma mais descarada e sem nos darmos conta de que o fazemos, exploramos o mais deslavado turismo sexual no plano internacional. Nossas mulheres são oferecidas como mercadorias pelos empresários inescrupulosos do turismo e pela nossa "cultura das pernas abertas". Basta perguntar, no estrangeiro, a qualquer pessoa se ela já veio ao Brasil e sua resposta será sempre desejosa de conhecer nossa terra... no carnaval!



E é incrível que partidos políticos se empenhem em detonar a imagem da mulher brasileira dessa forma descabida e baixa, a troco de fazer uma crítica muito mal feita à Igreja, sem se dar conta - ou nem fazendo conta disso - que o maior insultado não foi a Igreja Católica, mas nós mesmos.



Quanto à questão das ditaduras, nem me fale. E ainda chamam esses regimes ridículos de democracia. É coisa de a gente resgatar as palavras de Caetano Veloso, em "Podres poderes":



"Será que nunca faremos senão confirmar

a incompetência da América católica
que sempre precisará de ridículos tiranos?
será, será que será, que será, que será
será que essa minha estúpida retórica
terá que soar, terá que se ouvir por mais zil anos?"



É isso aí, meu caro.

Parabéns mais uma vez.



Marcus Tadeu

Mary Caldas disse...

Carlinhos, meu amigo

Muito bom o texto sobre o Papa Francisco ele é realmente um iluminado! A sua trajetória na Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, foi melhor, maior e mais bela do que imaginávamos.

Tudo seria tão bom e simples, bastaria apenas seguir a máxima de Jesus: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito e amarás o teu próximo como a ti mesmo."
Toda a lei e os profetas estão contidos nestes dois mandamentos. (Mateus, 22:34 a 40.)

Abraço fraterno, Mary