sexta-feira, junho 21, 2013

DELÍCIAS DA GAFIEIRA

Carlos Cordeiro de Mello

Na gafieira Dancing Brasil segue o baile calmamente, com deputados e senadores dando volta uns nos outros e todos a uma em nós, otários pagadores de impostos. Mas eis, porém que de repente alguém de cara foi no chão. Quem? O discurso petista. Habituados a enfiar a máscara de éticos neles mesmos e de corruptos nos outros, e confiantes no “deitado eternamente em berço esplêndido” (ah hino profético!), a Nomenklatura achou que podia continuar serrando de cima, enganando todo mundo e rindo na nossa cara. E armou mais essa: uma passeata monstro “contra o aumento do preço das passagens” – na verdade, um torpedo contra o Geraldo Alckmin, que não quer largar o governo do Estado mais rico da Federação.

Só que existe a velha história do aprendiz de feiticeiro. E o velho sonho bolchevista de enganar sempre todo mundo com promessas de melhores dias para os despossuídos começou a fazer água. É que os novos pobres (nouveaux pauvres fica mais chique, não?), a ex-classe média, que foi expropriada de seus vencimentos para possibilitar o pagamento das inúmeras bolsas disso e daquilo distribuídas pelo PT, cansou do papel de “otário beleza”, e decidiu engrossar o caldo. E aí vem aquela velha história do aprendiz de feiticeiro. Os petelhos, que sempre souberam muito bem jogar pedra nos outros, agora têm de aguentar vaias e palavras de ordem que eles mesmos cunharam ao longo de décadas de preparação para a tomada do poder.

O pôquer da política brasileira, já dizia Antônio Callado, é pesado. Assim que a coisa virou pro lado do prefeito de S. Paulo, os estrategistas políticos logo se apressaram a fixar a máscara de fedapê no Alckmin e preservar o seu prefeito. Quem viu o programa “Roda Viva” de ontem (segunda-feira), com dois quadros bem treinados – uma moça e um rapaz, ambos bem feinhos e mal vestidos, como compete a militantes de esquerda – acabaram deixando claro que a intenção deles era contra o governador, já que o prefeito da Capital “se propôs a dialogar”. É impressionante a cara de pau desses horrendos espécimes da política nacional, sempre prontos a passar um atestado de imbecilidade no povo brasileiro, que  afirmam defender.

Agora, tá aí o bode. Ninguém sabe direito o que está acontecendo, nem quem é quem nesse imbróglio. De uma coisa já sabemos, e isso serve para aquietar as raposas do PT: logo, logo, as passeatas vão cansar, o povo volta a sua apatia globalizada, e a oposição (qual?), que de tanto evitar a marca de “direitista” acabou sem cara, volta ao seu rosnar anódino, ao qual ninguém presta mais atenção. E a nossa gafieira volta a dançar calmamente, com deputados e senadores etc. E o povo volta a berrar nos estádios maravilhosos, ou nas igrejas que prometem de tudo (pagando-se previamente os emolumentos), ou nas praias e bailes funk. Sei desde já que quem vier a ler este artigo vai me chamar de pessimista, negativista, “velho do Restelo” e direitista. Como já vivi muito tempo, tive oportunidade de ser tachado ora de comunista, ora de direitista, então para mim tanto faz. De forma que minha única esperança é, na próxima encarnação, voltar como uma ostra perdida no fundo do oceano. 

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