quinta-feira, maio 09, 2013

A “facebookização” da realidade

Felipe Atxa

Nem todo problema pode ser resolvido no ambiente virtual, e certos assuntos precisam de operadores mais maduros que os adolescentes tardios que mandam e desmandam na rede mundial.

O poder da vontade da geração geek com óculos esquisitos e roupas que não combinam continua restrito basicamente ao ambiente virtual. As redes sociais e as relações construídas por elas continuam sendo basicamente simulação – quando deixam de sê-lo abandonam também a sua essência.

Negócios bilionários como o Facebook e o Twitter podem oferecer recortes da realidade, mas não constituem a realidade em sua totalidade. Por mais que se queira, são reflexos do mundo real, e não o oposto. São mundos simulados, personagens simulados, conexões simuladas.

A romantização em torno do mundo virtual tem criado a falsa impressão de que tudo pode ser resolvido através da intermediação dos ambientes que existem na internet, mas não fazem sombra discernível no mundo exterior. Pessoas reais são avatares? Não, elas não são avatares: são bem mais que isso.

Enquanto a simulação plenamente possível das redes sociais resume-se à fofoquinha de escritório ou à paquera entre os sexos (ou dentro deles), a experiência parece plenamente realizada. Quando, no entanto, a ambição zuckerberguiana pretende pular da tela dos computadores e influenciar na realidade mais cruel, sanguínea, pulsante, o resultado é não raro, patético.

Assim que o atroz ditador norte-coreano Kim Jong-il deu lugar a seu filho Kim Jong-um, um jovem crescido dentro das tendências de simulação típicas da era virtual, a mesma comunidade mundial que controla as redes sociais e informalmente “dita tendências” de comportamento por meio de viralizações e mobilizações digitais pretendeu transformá-lo num avatar, num selo, numa marca d’água, num anime que pudesse imediatamente ser incorporado a essa cultura de simulação dos Facebooks e Twitters, em fenômeno parecido ao da efígie de Che Guevara.

O ápice do movimento foi quando Jong-um foi eleito satiricamente o “homem mais sexy do mundo”: : http://www.theonion.com/articles/kim-jongun-named-the-onions-sexiest-man-alive-for,30379/.

Será que as gerações anteriores teriam eleito Hitler ou Stalin os mais sedutores de sua época? Possivelmente não: não havia tanto tempo para bancar o engraçadinho.

Agora que Jong-um aponta mísseis na direção dos países livres (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/os-insanos-coreia-do-norte-pede-a-paises-que-deixem-embaixadas/, a risadinha irônica converte-se em sorriso amarelo.

Não, nem tudo é simulação, nem todo problema pode ser resolvido no ambiente virtual, nem toda solução pode ser viralizada. É possível que convidar Jong-um para uma batalha naval on line não demova-o de sua sandice nuclear. Milhões de norte-coreanos oprimidos não serão libertados com perfis de Facebook. Avatares não vencem guerras contra a Gestapo. Certos assuntos precisam de operadores mais maduros que os adolescentes tardios que mandam e desmandam na rede mundial.

Portal Mídia@Mais

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