Um grupo de surfistas se reuniu, recentemente, para protestar contra os tubarões. “I Love My Legs” dizia o cartaz do moço vestido com bermuda de tactel e malha colada no corpo. Sou a favor de protestos, algum deles, mas neste caso, imagino que os tubarões não receberam o recado. Sabe como é tubarão, larga a escola antes de completar a alfabetização e não consegue nem ler os dizeres do surfista. Se tivesse pelo menos completado o ensino médio, saberia que não é de bom tom sair por aí arrancando a perna dos outros.
“Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta: usem o filtro solar!”. Não quero roubar o holofote de Pedro Bial, mas se for ao Recife, o conselho é: não entre no mar.
Dito isto e posto de lado as nossas mágoas (que não são poucas) com o bicho pré-histórico, o tubarão parece que desta vez vem para colocar Recife na calçada da fama americana. A Marvel (editora de histórias em quadrinho da Disney) acaba de anunciar, lá pelas bandas gringas, a criação de uma nova mutante para a vigésima edição da revista Wolverine and the X-men. A personagem novata se chama Iara e mora, pasmem, no Nordeste do Brasil. Mais exatamente no Recife, cidade pequena, porém decente, como dizia meu avô. Da Mangue Town para o mundo, a moça come peixe cru e se transforma na Shark Girl (tradução simultânea: garota tubarão) quando fica com raiva, fazendo a linha Incrível Hulk.
Iara, ao contrário dos seus amigos cartilaginosos que largaram a escola, deve ter frequentado muito as aulinhas de inglês porque, apesar de nascida e criada em Boa Viagem Beach, fala um inglês de dar gosto.
Se a fama da cidade-tubarão vai aplacar a raiva dos surfistas, não posso garantir. Mas deve deixar os empresários da rede hoteleira felizes. Seremos visitados, não mais por branquelos europeus em busca de sol e água salgada, mas por milhares de fãs dos quadrinhos. Já imagino os leitores com suas câmeras high tech fazendo poses em frente às placas de “Perigo. Área sujeita a ataque de tubarão”. Claro que, ao lado das placas, barraquinhas padronizadas estarão vendendo souvenirs da Shark Girl nordestina. Serviremos bolinhos de tubalhau nos mais requintados restaurantes enquanto o guia turístico distribui barbatanas de plástico para as crianças do grupo.
Seremos uma cidade turística novamente porque, quem não tem cão, caça com tubarão!
Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa aqui e alhures. Escreve sobre modismos, modernidades e curiosidades: http://www.batidasalvetodos.com.br/
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