sábado, novembro 24, 2012
O lulismo na alma do brasileiro
Por: Redação Midia@Mais
Antes que expressar uma vontade, Lula revela uma característica de certa parcela do eleitorado ao afirmar que brasileiros “não ligam para o Mensalão”.
Por mais desagradável que possa ser, é preciso admitir que muitos brasileiros permanecem desinformados a respeito do julgamento do Mensalão e – principalmente – das implicações do esquema criminoso e parcialmente abortado. Mas a gravidade do problema não acaba aí: outros brasileiros simplesmente não se importam que partidos e políticos montem esquemas de manipulação do legislativo com dinheiro público para financiar o próprio projeto de poder.
Tais brasileiros, direta ou indiretamente identificados com o “lulismo” como expressão de visão de mundo, de país e de política, estão interessados apenas em quais vantagens determinado candidato pode oferecer individualmente, ignorando os efeitos a longo prazo de suas ações ou as implicações globais de sua agenda política.
Essa parcela do eleitorado – que pode muito bem eleger e reeleger candidatos lançados por partidos mensaleiros – parece ter aceitado a relação proposta pela “moderna” esquerda brasileira, a troca entre votos e benesses para grupos localizados, convertendo o restante do país em refém dos interesses da classe política e de segmentos sociais relativamente organizados.
São desde agentes públicos de todas as espécies (muitos interessados em crescimento de privilégios e reajustes periódicos) a identificados com autoproclamadas “minorias” (garantindo através de espaço desproporcional na imprensa engajada uma “supercidadania” com “direitos” imaginários que vão se acumulando governo após governo), passando por milhões de eleitores vulgarmente desatentos à vida pública, totalmente desinformados ou “informados funcionalmente” pela mídia alinhada ao esquerdismo situacionista, e aqueles que não dão a mínima para nada que não influencie diretamente em sua rotina na relação com os governos – notadamente são os “clientes” de pacotes de vantagens oferecidos pelo Estado, tais como bolsas, descontos em serviços públicos, linhas de crédito incentivadas para o consumo de bens duráveis, etc.
Enquanto a maturidade política leva inevitavelmente a um estado constante de salvaguarda e ceticismo em relação aos políticos, brasileiros que “não ligam para o Mensalão” (conforme se vangloria Lula) mantêm-se em transe induzido, agindo em reflexo condicionado ao votar em candidatos comprometidos exatamente com aquilo que pregam estar combatendo (o privilégio, os esquemas e a proteção às grandes corporações, por exemplo).
Não é de se admirar, por exemplo, que as “conquistas sociais” defendidas perante a mídia tenham sido acompanhadas na última década por uma concentração da riqueza nas mãos de conglomerados e gigantescos grupos econômicos, prejudicando a concorrência e a competitividade na economia. São empresas que, através de empréstimos bilionários concedidos por bancos públicos, assumem empresas concorrentes, facilitando ao próprio governo o diálogo e o controle sobre um número reduzido de parceiros.
Tal fenômeno tem pouquíssimo a ver com “justiça social”, para usar uma expressão recorrente no discurso esquerdista. Mas quem liga para isso, quando os mesmos governantes concedem “facilidades” para aquele extrato “desassistido” da população, que parece em troca retribuir com votos e ignorância em relação ao esgoto político do país, do qual o Mensalão é uma simbólica mas não solitária manifestação?
Resta aos brasileiros-eleitores conscientes e informados uma preocupação com os rumos do país e da própria democracia, deparando-se dramaticamente com aquela que é talvez a maior contradição de tal regime de governo – como proceder quando a vontade da maioria contribui, direta ou indiretamente, para a deterioração da própria democracia?
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