sábado, novembro 17, 2012

O BAÚ DO ANÃO, ENTRE MANAUS E VITÓRIA

W. J. Solha


 Despachava cem exemplares de meu Sobre 50 Livros, que acabo de editar pela Ideia, quando Ronaldo Monte – psicanalista, autor do romance Memória do Fogo, uma das obras que comento nessa minha coletânea– entrou na agência dos Correios. “Ô – eu disse -  fique logo com seu exemplar de meu mais novo trabalho!” E ele: “Fique, também, com o meu!”
Foi como vi pela primeira vez O Baú do Anão.
No dia seguinte – com esse livro na mão – parti de João Pessoa pra assistir ao Era uma vez eu, Verônica – do Marcelo Gomes – de que sou um dos atores, no Festival Internacional de Cinema de Manaus – sessão que aconteceria em 6 de novembro -, numa emoção que reviveria na pré-estreia nacional dele, no Rio, na noite seguinte, e de novo, dois dias depois, no encerramento do festival de Vitória, no Espírito Santo. 
Assim, O Baú do Anão fez minhas delícias no hotel Caesar Business, na Amazônia, enquanto minha mulher se vestia e se maquiava, continuou a proeza no hotel Sheraton, de Vitória, em iguais circunstâncias, ante a vasta vidraça do décimo-terceiro andar, em que uma panorâmica espetacular começava, à direita, por uma ponte que parecia um aqueduto romano cheio de carros com as luzes acesas, e se estendia para a esquerda, até belíssima baía centrada numa ilha que se comunicava com o continente por uma ponte japonesa, ladeada de dois rochedos  de jardim zen. E a leitura  continuou em Copacabana, enquanto eu esperava a  pré-estreia nacional do filme, e – na noite seguinte – a da estreia de minha sobrinha, Eliane Giardini, na peça Édipo Rei, em que ela faria uma fabulosa Jocasta.
Caramba, o livro do Ronaldo Monte é incrível,  pois não senti, em momento algum, descer de nível! Teatro Amazonas, com teto neoclássico consagrando Carlos Gomes, ilustre lustre, ouro e veludo por toda parte? O encontro das águas, em que Negro e Solimões, num preconceito de cor estúpido – ou estupendo – não se misturam? Sófocles? O que importa, se o que importa é arte? A de um romance? Não: O Baú do Anão é um livro engenhoso, em que brevidade é  a regra. Crônica conto? É texto de primeira qualidade. Frequentemente surrealista. Ô, Caramba: no meio disso tudo, eu e Ione fomos ao Centro Cultural do Banco do Brasil, na Primeiro de Março, do Rio, pra ver a sensacional mostra de impressionistas, em que as estrelas eram Van Gogh e Gauguin, Cézanne, Corot, Renoir e Pissarro,  mas que acabou por me enlevar – talvez pela surpresa - pelos autores que não conhecia. Paisagens comoventes pela técnica e beleza, retratos impressionantes pela verdade. Mas O Baú do Anão persistia como fonte de interesse, preenchendo à altura todos os vazios, na  semana louca. Chego a pensar que o que mais me socorreu, nesses interstícios, foi o psicanalista a serviço do escritor  Ronaldo Monte.


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