quarta-feira, outubro 24, 2012

Íntimo, úmido e abestalhado

Miniartigo do jornalista José Maria Leal Paes

O estado brasileiro é uma vasta rede de corrupção. Uma vasta rede de delitos, portanto. Não há instituição a salvo da lama. Um ou outro integrante dessa monumental quadrilha, concursado ou não, se salva pela honradez. Onde, porém, está solarmente exposto esse homem? . O decente se encolhe enquanto a patifaria se expande. O prazer individual e imediato é o único bem possível, princípio e fim da vida moral no território do poder cheio de arrogância, soberba, pose e podridão. . É impossível crer que o estado seja a expressão da sociedade brasileira. Se admitirmos que é, declaremos, de vez, com ou sem náusea, que o crime nos satisfaz, que o canalha nos compraz. . Na sucessão de delitos diários - [ indiferentes a um Judiciário que se degrada ante as câmeras, ao vivo, em cores, em rede nacional ] - que nos afrontam, a farra das passagens aéreas do Senado e da Câmara guarda dimensão bicameral, também: as câmaras do prazer e do cinismo desses senhores com mandato. Nelas, câmaras, se escreve a história do grande otário: o povo que os elege. Os fatos sugerem a existência de um nexo sexual entre as mesas diretoras (de Câmara e Senado) e as camas (das mulheres, namoradas e amantes). Nesse prostíbulo, o contribuinte comparece como o lencinho íntimo, úmido e abestalhado.

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