domingo, setembro 16, 2012

TROCA DE PRESENTES

VALDEZ JUVAL

RIO DO SUL DA MATA NORTE.
Nome tão grande para uma cidade tão pequena!
Problemas políticos e graças a um “democrático” “referendum” popular.
O povo quis. Por gozação ou não, este é o novo nome da vila de SÔ.

E quem tivesse nascido em SÔ ou fosse nascer em RIO DO SUL DA MATA NORTE, teria que esperar o que iriam decidir os gramáticos e os legisladores da nação, como seria escrita e pronunciada a sua descendência.
SOENSE ninguém seria mais.

Agora era lei. Tão precipitada que nem se incomodaram com os “conformes”.
Dizem que a eleição estava próxima e o lugarejo não poderia perder a oportunidade para também ter o seu prefeito, o vice, os 45 secretários “administrando” as várias pastas que seriam criadas, os funcionários municipais, sem esquecer os que seriam contratados com um mínimo de escolaridade para fazerem os serviços dos serventuários e a gloriosa câmara de vereadores com seus assessores. Os candidatos já haviam estabelecido que teriam que se reunir uma vez por semana, de preferência na sexta feira à noite se não coincidisse com feriado pois ninguém suportaria trabalhar em dia de festa.

Chegou muito dinheiro de fora para que este pleito fosse realizado. Um repórter de um jornal do município vizinho tomou conhecimento que o nome da nova cidade foi acordado para atender a aspiração do Coronel Bento cuja fazenda se chamava RIO SUL e também o Coronel Chico a quem pertencia a propriedade MATA NORTE.

Os Coronéis eram inimigos políticos mas tanto eles como o povo viviam cordialmente pois se dependiam mutuamente. Os “riosulmatanortense” se é assim que vão se chamar, estavam mais unidos que antes, embora já desfraldando suas bandeirolas declaratórias da preferência eleitoral. Cor azul para coronel Chico e amarela para os adeptos do Coronel Bento. Por enquanto nada de briga. Nem mesmo entre os coronéis e os seus capangas.

Quanto a cidade, quase de uma rua só. Sempre crescendo pelas pontas. Mais ou menos na metade, de um lado, fizeram uma espécie de ruela que dava acesso ao puteiro pois não haveria outra forma de não se espalhar esta espécie de moradia.

O pequeno comércio era a parte principal da nova cidade. Os proprietários do setor foram construindo sobradinhos em cima das lojas para servirem de moradia.

Manoel “Boa Pinta” era barbeiro e resolveu instalar na sua barbearia um serviço de atendimento às madames do lugar que se interessavam em cuidar das unhas e dos cabelos. Ficou famoso de repente. Clientela boa e ele dominando o ambiente. Não era casado. Se fazia de ”bicha” para não despertar ciumeira nos maridos da cidade. Era um tipo meio galã fazendo jus ao apelido. Era a casa mais frequentada de SÔ.

Outra Loja importante que ficava de frente com o Salão de Beleza era a de Seu Justino, negociante de tecido e calçados. Também fizera o seu sobrado sobre a Loja, onde morava com a mulher e um casal de filhos.

À noite, era costume dos habitantes levarem suas cadeiras para a improvisada calçada e lá iam se formando pequenos grupos para “papos” e comentários.
Não chegava ao lugar, sinal de TV e de celular. Com muita descarga ainda se ouviam as ondas AM de rádio.

A população somente tomava conhecimento das notícias do mundo no dia seguinte quando circulava um jornal editado na vizinhança.

Em uma certa noite, no “Café SÔ-çaite”, mais frequentado por homens, Manoel Boa Pinta saboreava um refresco quando entra Seu Justino e, de “sopetão”, num repente inesperado, pergunta para o Manoel:

- Ô vizinho! Quando é seu aniversário?.

- Em maio. Por que?

- É que eu vou te dar uma cortina de presente pra você colocar no quarto. Não aguento mais ver você e sua esposa trepando em plena luz do dia!

Ai o "Boa Pinta" perguntou:

- E o seu, quando é?

- Em Setembro, por que?

- Vou te dar um binóculo para você ver direito de quem é a esposa!...

Não há necessidade de se comentar mais nada.
A estória termina aqui.

(Crônica baseada no rico anedotário brasileiro. Autoria anônima)
Brasil, setembro,2012

2 comentários:

Nevinha disse...

Ave Maria, que coisa mais feia !!!!!!!!

Maria da Paz disse...

Nevinha, minha inocente, pura e doce Nevinha. Valdez só escreveu uma palavrinha de nada, nadica (trepando). Nos dias de hoje, lemos essa e outras palavras do gênero em jornais, portais e revistas. Meus netos, de 8 e 10 anos, dizem coisas piores, aprendidas na escola e na TV. Garanto que voce assiste as novelas e o seriado Gabriela. E acha bom !!! Valdez é um homem de 81 anos, promotor aposentado, culto e, apenas contribuiu com o blog, apresentando essa historinha que eu achei interessante e sorri bastante. Conta outra, Valdez. Olinda, 16/09/2012.