segunda-feira, setembro 03, 2012

O Cônsul Trapalhão

Hugo Caldas

Final da década de 50, Aeroporto Internacional dos Guararapes. Box da Panair do Brasil.

As minhas relações com os súditos da pátria lusitana nunca foram lá muito amistosas. Não sei exatamente a razão. Talvez por me dar frouxo de riso ao ouvir o sotaque. Todo cidadão português me reporta ao estereótipo de um personagem não muito inteligente da PRK-30, antigo programa radiofônico de humor onde se apelava muito para os Manuéis e Joaquins.

O senhor cônsul de Portugal então, este me detestava por ter presenciado a minha vibração no episódio do Santa Maria, navio português seqüestrado com passageiros e tudo por rebeldes portugueses à frente o General Delgado e um espanhol chamado Soto Mayor. Era época da ditadura de Salazar de triste memória. Eu, do cais do porto, na maior animação, acenava para os rebelados que após enganarem até a 7ª Frota Americana vieram dar com os costados no Porto do Recife. Mas isto é outra história. Voltemos ao Aeroporto dos Guararapes em Recife.

Dizia eu antes de ser abruptamente interrompido por um arrebatamento que me transportou a um passado longínquo, que, mercê um pequeno incidente que teria tido conseqüências mais graves, não tivesse eu o devido jogo de cintura. O caso, eu conto!

Certa manhã me chega o Sr. Cônsul de Portugal acompanhando um músico português com mil e uma bagagens para embarque e ao se apresentar, foi logo dizendo:

- "Eu sou o Cônsul português aqui, este é o maestro Fulano de Tal... e de antemão afirmo que não pagaremos pelo excesso de bagagem."

Estupefato, pego o telefone...

- "Há um passageiro português aqui, por sinal acompanhado do Sr. Cônsul"... procuro saber do meu chefe de turma o que fazer.

- O cara trouxe autorização por escrito da agência? Não? Então cobra!

Efetivamente a cobrança foi feita e deu-se o dito pelo não dito. Pensava eu!

À tarde uma viatura da Panair do Brasil estacionou na minha porta. "O Chefe quer lhe ver, prepare-se”. Ao entrar no escritório da Direção Regional deparei-me com uma espécie de Corte Marcial. O Cônsul, mais os chefes da agência todos sentados como em sessão do júri de filme "B" americano.

O Cônsul, após relatar à sua maneira o ocorrido, arrematou...

- ..."e ainda por acinte, o seu funcionário me chamou de português..."

Relatei também a minha versão, despejando ao final...

- "e não me consta que o cavalheiro aqui presente seja coreano." Gargalhada geral e o caso foi devidamente encerrado.

Entrou por uma perna de pinto...

Um comentário:

Jorge Zaupa disse...

Ó caso só vem a ratificar...
E ainda tem gente que insiste em festejar a expulsão dos holandeses.