Voltaire indignou-se com o estudo da História, no seu tempo, para ele nada mais do que um relato de crimes e de infortúnios. E acusou: “transformamos o passado para que fique de acordo com os nossos desígnios para o futuro”.
Tanto tempo depois a lição continua válida. Querem apagar o passado para garantir o futuro, prática, aliás, usual na alegoria do “Grande Irmão” de George Orwell e no reinado de Joseph Stalin e mesmo depois dele, na União Soviética, quando os adversários dos governantes eram simplesmente suprimidos dos livros e da imprensa. Não deixa de ser cômico o desaparecimento de Leon Trotski nas fotografias ao lado de Lênin, bem como o súbito aumento do verbete sobre o Estreito de Bering, na Enciclopédia Russa, por conta da supressão do texto anterior e longo, sobre Beria, caído em desgraça.
Fala-se da mentira sobre o mensalão não ter existido e da acusação de que tudo não passa de uma conspiração dos setores conservadores empenhados em apagar a obra do presidente Lula.
Primeiro porque os oito anos de governo do primeiro-companheiro são inapagáveis. O que ele realizou e conquistou, elevando o poder aquisitivo e a honra das massas será sempre lembrado. Como também não dá para esquecer que, à sua volta, executaram uma das maiores lambanças de toda a história da República, com a distribuição de dinheiro sujo em troca de votos nos partidos e na Câmara dos Deputados.
A História segue seu curso, agora por obra e graça do Supremo Tribunal Federal, tornando-se ridículo o manifesto encabeçado pelo PT e acolitado pelos demais partidos da base oficial, no sentido de que as elites querem destruir a obra do Lula.
Se o ex-presidente sabia ou não do escândalo, se o tinha estimulado ou não, é tema para depoimentos e livros de memória, mas apagar o passado em pleno início de Século XXI soa como piada de mau gosto.
Vale terminar o comentário como começamos, ou seja, com Voltaire. Na sua irreverência monumental, certo dia ele questionou um bispo:
“ou Deus pode evitar o mal, mas não quer, ou quer evitá-lo, mas não pode”.
Já que Marta Suplicy comparou o Lula a Deus, vale completar:
"ele não quis evitar o mensalão, podendo, ou se quis, não conseguiu"...
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