quarta-feira, agosto 29, 2012

QUEM É LEWANDOWSKI

Clemente Rosas

Os brasileiros de boa fé que foram agradavelmente surpreendidos com o voto do Ministro Lewandowski, acompanhando o Ministro-Relator Joaquim Barbosa, em relação ao primeiro grupo de réus, no julgamento do “mensalão” pelo STF, quedam-se agora perplexos.  O senhor Ministro-Revisor, diante de situação semelhante e, sob alguns aspectos, até mais escandalosa (pois envolve a esposa de um deputado federal), declarou inocente o segundo grupo de acusados.  Haverá réplica do Relator, o Lewandowski insiste na tréplica, e, no momento em que escrevo, começa-se a temer pelo resultado do julgamento, que poderá ser motivo de profunda frustração nacional.  Continuaremos com a triste imagem do país em que só os pobres vão para a cadeia?

Mas, pensando melhor, não se poderia esperar outra coisa, ao menos desse ministro, cuja personalidade pode ser bem avaliada pela sua conversa, via computador, com a Ministra Carmen Lúcia, em plena sessão do STF, quando o então Procurador Geral da República Antônio Fernando de Souza fazia a sustentação oral de sua denúncia, neste mesmo processo.  Isso ocorreu há cinco anos, e o diálogo foi captado pela lente de um fotógrafo e publicado em vários jornais do país, inclusive neste (JC, 24.08.2007, pág. 3).  Reproduzo aqui apenas alguns trechos, pois há coisas que não temos o direito de esquecer.

Lewandowski: - “Carmen, impressiona a sustentação do PGR”. Carmen Lúcia:...”acho que seria conveniente...que a gente se encontrasse no final do dia...para ver o sentimento que...está dominando toda a comunidade”.  Lewandowski: “Não sei não, mas mudar à última hora é complicado”.  Carmen Lúcia: ...”Mas a quadrilha, vai ser fogo negar”.  Lewandowski:...”o termo quadrilha está empregado na acepção vulgar”.  Carmen Lúcia: “Sim, mas teremos de negar os indícios de que eles se associaram”...  Lewandowski (ao seu assessor Davi): “A sustentação do PGR impressiona”... Davi (o assessor): “Posso, porém, minutar o voto em sentido contrário”...

Para os que tomam conhecimento desse vergonhoso colóquio eletrônico, a imagem menos gravosa que fica é a de um juiz que não alcança a dimensão mais nobre da função judicante, e acomoda seu voto a questões paroquiais. Não cede à “nudez forte” da verdade, nem ao supremo valor da Justiça: apenas a conveniências.  E essa atitude transparece agora no tom que adota em seus pronunciamentos, variando entre o cínico e o irônico, em contraste com a pureza d’alma do ilustre Ministro-Relator.

E a nós, que diante do quadro esboçado corremos o risco de, na inesquecível expressão de Rui Barbosa, “desanimar da virtude, rir-nos da honra e ter vergonha de ser honestos”, o que resta?  Apenas consolar-nos com a máxima de Aparício Torelly, o  “Barão de Itararé”, pioneiro do humorismo inteligente no Brasil: “De onde menos se espera, daí é que não vem nada mesmo”.

Clemente Rosas é consultor de empresas.

Um comentário:

VIRGOLINO disse...

Parabéns a Clemente Rosas por nos fazer lembrar do episódio, à época bastante divulgado, que mostra a posição suspeita do Ministro Lewandowski, agora confirmada no seu voto de revisor.

Não tenham dúvidas: os meliantes do PT e dos fortes aliados do governo serão inocentados, caindo os trovões da corrupção sobre as costas de secretárias, assessores, a chamada pequena raia do problema.