segunda-feira, agosto 27, 2012

A Dança dos números

 Ipojuca Pontes

“Há três espécies de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas” – Disraeli, estadista inglês

Foi na certa pensando na utilização da estatística enquanto instrumento de análise dos fenômenos econômicos que Thomas Carlyle, o agudo historiador escocês do século XIX, afirmou ser a economia uma “ciência triste”. Com efeito, fazendo uso da estatística econômica para medição e interpretação de dados, os governos em geral conseguem passar adiante qualquer danação, até mesmo que a fome engorda, a saúde mata e o leão é manso.
Vejamos, por exemplo, os números oficiais do  desemprego no Brasil em 2012: o IBGE divulgou no começo do ano que eles rondavam a casa dos 5%. Logo em seguida, pesquisa de uma agência privada avaliou que a taxa do desemprego tinha cravado a marca de 6,3%. Todavia, em data recente, com a desaceleração do ritmo da atividade econômica, marcada pela crise industrial, alguns especialistas da área estão prevendo para o ano em curso uma taxa de desemprego na faixa de 7%.


Mas o negócio parece que não é bem assim. Segundo o último censo, o índice de desemprego em muitas cidades do país, principalmente na região nordestina, ultrapassa a casa dos 20% - taxa de deixar eufórico o manipulável povo francês (em fase de “désilusion” com o esquerdista François Hollande, recém eleito presidente com a falsa promessa de alterar o padrão de vida de 13,5% da população que vegeta desempregada abaixo da linha de pobreza). Só para dar número aos bois: 41,82% da população ativa da cidade de Campo Alegre do Fidalgo, no interior do Piauí, sobrevive desocupada, sem trabalho, morando em casebre e tomando sopa de xiquexique.
 Por outro lado, a situação dos brasileiros que estão empregados, mesmo com carteira assinada, também não parece nada cômoda. Segundo pesquisa da agência Protest – Associação do Consumidor, de São Paulo, 60% das famílias com renda mensal em torno de R$ 2.400 têm reduzidos 42% dos seus ganhos com o pagamento de dívidas e juros bancários - depois, é claro, de atraídas pelo crédito irresponsável estimulado pelo governo. No frigir dos ovos, essas famílias entram no círculo vicioso do consumo, gastam mais do que podem e se afogam num mar de dívidas, pagando anualmente sobretaxas de até 189% acima dos preços dos bens adquiridos. Neste rondó, por exemplo, uma geladeira comprada à prestação por R$ 800, no fim de doze meses ultrapassa a faixa dos R$ 2000! Quer dizer: quem sai ganhando mesmo neste saco de maldades é o próprio governo, que em geral abocanha algo em torno de 40% em cima do valor da mercadoria vendida. Daí, as sucessivas medidas oficiais de estímulo ao consumo que torna o trabalhador brasileiro escravo de um esquema diabólico.

 Todavia, apesar do estabelecimento do crédito fácil e de medidas paliativas do governo na área fiscal, a dança dos números estatísticos na era do Mensalão aponta para a queda do crescimento. É que analistas do mercado financeiro, ouvidas as pesquisas da agência Focus, diminuíram as estimativas do índice de crescimento do país para este ano: elas caíram de 1,81% para 1,71% - previsão pouco palatável, vista com enfado pela tecnoburocracia do Banco Central.
O que parece não parar de crescer são os números que medem a inflação. Segundo dados do IBGE, o IPCA (Índice Nacional de Preço ao Consumidor) aponta para o aumento do custo de vida nos últimos 30 dias: de 0,33 em julho, ele subiu para 0,39 em agosto, puxados pelo aumento de preços dos transportes, remédios, produtos de higiene pessoal, limpeza e lazer. No capítulo dos alimentos, ficaram mais caros cenoura, leite, pão, cerveja, refrigerante e a carne de frango. Só o tomate, nas feiras e supermercados, saltou de R$ 2,30 para R$ 5,00. Não será improvável que  em agosto a inflação atinja a casa dos 6%, embora a manipulação oficial dos números seja coisa de rotina: afinal, a estatística, segundo se sabe, é a primeira das ciências inexatas.
    
 Para finalizar, outra notícia desagradável: diz a ONU que o Brasil concentra hoje o maior  número de pobres da América Latina: 37 milhões. Ano passado, a mesma ONU anunciou que em 2010 o país encampava mais de 16 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Agora somos 37 milhões de pobres, considerando as famílias que vivem de salário mínimo.


Esse pessoal da ONU – que ganha em dólares e vive viajando de um lado para outro – navega no cinismo. Quem ganha dois salários mínimos, com litro de leite a R$ 2,80, é o quê? Classe média emergente?

Um comentário:

theesea disse...

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