quarta-feira, julho 04, 2012

Tiro&Queda 4.7.12 quarta-feira

Eduardo Almeida Reis
  
Oratória – Tive amigo/irmão professor de oratória e estilística, que nunca me deu uma aula sobre o conjunto de regras que constituem a arte do bem dizer, a arte da eloquência; retórica. Detesto ouvir discursos que durem mais que 12 minutos. Até hoje não entendi por que me incumbem, em certas reuniões, de falar em nome da chefia ou de um grupo de pessoas, coisa que tem acontecido um ror de vezes.

Na manhã do meu discurso de posse na Academia Mineira de Letras tive a fortuna de ser apresentado à linda fonoaudióloga da Rede Globo, que estava em BH repassando a fala da rapaziada. Lauro Diniz pediu à belíssima profissional que repassasse o texto com o “orador”. Inda me lembro de que ela sublinhou, na primeira página, as palavras que deveriam ser enfatizadas e me ensinou a dividir a plateia em quatro partes, começando a olhar e a dirigir o meu ornejar para o quadrado inferior do lado esquerdo, prosseguindo pelos outros três pedaços.

Creio que a lição correu bem, auditório à cunha, hall idem, seis garotas de programa, que conheci na véspera, a convite, numa espécie de despedida de solteiro, no mais chique dos prostíbulos belo-horizontinos. A ideia de convidar as moças foi do amigo que promoveu a despedida, onde conheci uísques de 35 anos. Pois é: quando é chique, belo-horizontino se trata.

Apesar de vestidas para a investidura acadêmica, as moças destoavam da plateia, tanto assim que minha filha mais velha perguntou: “Pai, são garotas de programa?”. O recipiendário explicou: “São amigas do seu pai que vieram assistir à posse”.

Treinado pela fonoaudióloga da quarta maior rede de TV do mundo é covardia, mas os outros convites foram anteriores ao treinamento. Certa feita, falei em nome dos jurados, por determinação do meritíssimo juiz Bandeira Stampa, presidente do Primeiro Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. O pessoal gostaram, como diria o novo amigo do doutor Paulo Salim Maluf.

Depois, falei por ordem e conta de um tio deste menino Fernando Henrique Cardoso, o saudoso Joaquim Ignácio Cardoso, comunista histórico, que seria o primeiro na lista dos fuzilados no regime bolchevique que tentou implantar por aqui. Por quê? Ora, porque era honesto e puro de sentimentos e intenções, virtudes que não congeminam com o comunismo praticante.

Almoço de fim de ano, todo mundo ligeiramente trêbado, acho que me saí bem e consegui, na hora, a transferência de um colega que sonhava trabalhar numa agência juiz-forana. O resultado da promessa feita pelo chefe foi curioso: durante meia hora, pouco mais ou menos, o transferido vomitava e chorava sem parar.

Um sonho – A exemplo de Martin Luther King, tive um sonho no último domingo, quando a Espanha faturou a Eurocopa 2012 e vi o príncipe Don Felipe Juan Pablo Alfonso de Todos los Santos de Borbón y Grecia cumprimentando e sendo cumprimentado pelos jogadores e demais membros da seleção do país em que nasceu no ano de 1968, terceiro filho e único varão de Dom Juan Carlos I e de Dona Sofia da Grécia, os atuais Reis da Espanha. Grécia aqui tem acento e dom é com eme, porque em português.

Sonhei com a monarquia brasileira, em que o príncipe herdeiro fosse o príncipe dom Lulinha da Silva de Garanhuns de Todos los Santos, cumprimentado pelos craques da seleção de Mano Menezes depois da conquista da Copa de 2014.

Por falar em Espanha, nada mais ridículo do que a GloboNews botar um cavalheiro traduzindo para o português o discurso de Federico Franco, novo presidente do Paraguai. Se o telespectador não entende o espanhol do paraguaio, também não tem competência para entender uma só frase em português.

O mundo é uma bola – 4 de julho de 1054: chineses observam uma supernova suficientemente brilhante para ser vista durante o dia. Seus restos formam a Nebulosa do Caranguejo. Em 1776 foi publicada a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América. Em 1833, elevada à categoria de cidade a vila de Horta, nos Açores.

Em 1866 nasce o jornalista e poeta brasileiro Emílio de Menezes, muito gordo, mestre dos sonetos satíricos. Eleito para a Academia Brasileira de Letras morreu antes de tomar posse. Conta-se que cruzou com Bilac, certa feita, numa calçada estreita, quando perguntou: “Como passas, Bilac?”, ouvindo a seguinte resposta: “Já não passo”.

No episódio da ABL, consta que Emílio chegou a escrever seu discurso de posse metendo o pau nos que o antecederam, trechos arguidos pela Mesa como “aberrantes das praxes acadêmicas”. Vou tentar obter cópia do discurso, que deve ser muito divertido.

Hoje é o Dia do Operador de Telemarketing.


Ruminanças – “O homem não nasceu para ser grande. Um mínimo de grandeza já o desumaniza. Por exemplo: um ministro. Não é nada, dirão. Mas o fato de ser ministro já o empalha. É como se tivesse algodão por dentro, e não entranhas vivas” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).

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