quinta-feira, julho 26, 2012

Tiro&Queda 26.7.12 quinta-feira


Eduardo Almeida Reis   

Vaga de garagem – Este negócio de vaga de garagem pode ser causa mortis, como temos notícia de muitas. Uma delas impressionou-me vivamente, porque conheci o assassino, um ortopedista que trabalhava na cidade próxima de nossa fazendinha fluminense e tinha apê no Rio.

Ortopedista singular, o Dr. Fulano. Jamais acertou ao encanar um braço ou uma perna. Até pelo cálculo das probabilidades, um médico deve acertar, digamos, cinco vezes em 100 braços quebrados. O Dr. Fulano não acertava uma! Nas ruas da pequena cidade encontrei dezenas de sujeitos com as pernas e os braços tortos. Bastava perguntar “Dr. Fulano?”, para o interlocutorto (brilhante neologismo para “interlocutor torto”, né?) exclamar felicíssimo: “Dr. Fulano!”. Era estimado pelos pacientes do SUS e matou o vizinho por causa de uma vaga de garagem.

Penso que os cursos de arquitetura deveriam começar por duas disciplinas: vaga de garagem e degraus. Tenho visto em BH vagas para automóveis que mal aceitam uma bicicleta, como também vi, num apart-hotel central, rampa em que o automóvel sobe, mas não tem como descer a não ser ajudado por meia dúzia de cavalheiros fortíssimos, que levantam e empurram a traseira do veículo numa das curvas. Aconteceu comigo e o apart, com a rampa, lá estão no mesmo lugar.

Degrau de escada é um negócio simples, desde que respeitados os centímetros recomendados pelo Neufert. O imbecil que projetou a escada interna aqui do Taj tinha espaço à beça e à bessa, mas conseguiu fazer degraus próprios para a senhora mãe dele.

Garagens, sabemos todos, são relativamente novas na história da arquitetura. No Rio, há prédios dos anos 50 ainda sem vagas soltas: um carro parado atrás dos outros. Como também há prédios em que as vagas “soltas” mal acomodam um Fiat 500.

Este negócio de fachada pode variar nos conformes da moda e do gosto do arquiteto, mas vaga de automóvel deve comportar carro médio com alguma folga. E tem mais uma coisa: na hipótese de o leitor contar com duas vagas e um só carro, deixando a outra para receber o veículo de eventual visita, é certo que não faltarão engraçadinhos para ocupar sua vaga. Triste país!

Virtude – Anosmia, sabemos todos, é diminuição ou perda absoluta do olfato, que pode ocorrer por lesão do nervo olfativo, obstrução das cavidades nasais, reflexo de outras doenças ou ainda sem qualquer lesão aparente. É também a maior virtude dos que pensam mexer com leite bovino, ovino ou caprino.

Se o fazendeiro vai ao estábulo, e é recomendável que vá, volta para casa com um cheiro insuportável nas calças, misto de leite azedo, urina e bosta de vaca. Pior que ele, só o cheiro dos caprinocultores, não por culpa das cabras, mas pelo insuportável cheiro dos bodes.

Ainda me lembro da tarde em que fui almoçar, a convite, num sítio chiquérrimo localizado em região de luxuosas propriedades rurais. Deu-se que um amigo importou cabras saanen da França e me convidou para o almoço em que se reuniria com os outros importadores no sítio caprichado. Almoço da melhor qualidade, bebidas finíssimas, 80 senhores e senhoras, com as respectivas proles, na sala de refeições.

Claro que evitei visitar o aprisco onde estavam as cabras e os bodes recém-chegados, porque não me interesso pelos mamíferos ruminantes do gênero Capra. Fiquei no salão dos comes e bebes. E andava animado pelo champanhe, importado da mesmíssima França, quando voltaram os heróis do tour pelo aprisco. Que dizer do cheiro de bode impregnado nas roupas dos importadores e dos seus convidados? É um pavor! Só os anósmicos e as cabras resistem aos cheiros dos bodes.

Tarde inesquecível por diversos motivos, um dos quais foi o seguinte: troquei um pneu do Opalão seis cornetas na viagem de volta. Desde então, nunca mais troquei um pneu. Recuso-me a mexer com macacos e chaves de rodas. Sou cronista. Cronistas sérios não trocam pneus.

O mundo é uma bola – 26 de julho de 1139: Afonso, então conde portucalense, é aclamado rei de Portugal e proclama a independência em relação a Leão, atual Espanha. Em 1811, dom Diogo de Souza, conde de Rio Pardo, invade o território onde hoje fica o Uruguai, terra de don Francisco Tomás de La Parrilla del Mercado, inventor do convite para almoçar depois do almoço.

Em 1856, nascimento de George Bernard Shaw, escritor e dramaturgo irlandês, Prêmio Nobel de Literatura em 1825. Li sua biografia pelo conterrâneo Frank Harris: é d’arromba!

Hoje é feriado municipal em 19 cidades brasileiras: dia de Nossa Senhora de Santana.

Ruminanças – “Você sabia que o Brasil tem um ministro da Aviação Civil? Pois é: tem...” (R. Manso Neto).

Nenhum comentário: