sexta-feira, julho 20, 2012

Replay - Voo 3054 da TAM - A tragédia


José Virgolino de Alencar
   
Há 5 anos, um jato da TAM espatifou-se no Aeroporto de Congonhas, matando 229 pessoas. A apuração, como soe ocorrer no Brasil, não chegou a nada, o Aeroporto não recebeu nenhuma melhoria, em que pese as promessas, já não mais pelo acidente, mas pela demagogia que cerca a realização da Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016. De 2007 para cá, o que aumentou no Brasil foi a corrupção e a bandalheira, com as investigações permanecendo no mesmo diapasão: blindagem dos corruptos, empurrando a sujeira para debaixo do tapete. Vale, então, a pena relembrar, com a republicação do artigo que escrevi na época da tragédia, no Blog da Maria Helena, da Globo.com, e mostrar que o Brasil, em termos de seriedade, não mudou nada. Ou mudou do nada para a coisa nenhuma.

Vôo 3054 - um acidente anunciado

O acidente do voo 3054, da TAM, é resultado da convergência de muitos fatores, entre os quais destacam-se o apagão aéreo e a trágica situação do Brasil, pilotado por um comandante que voa num buraco negro, sem saber que botão apertar, portanto, sem rumo ou rumo a um grande desastre.

Além da corrupção que causa verdadeira infecção generalizada no organismo nacional, contribui para o caos a subserviência do Governo ao capital financeiro, nacional e internacional, que exige, a todo custo, o “superávit primário” nas contas públicas e para isso são desviados os recursos da educação, da saúde, da previdência, da segurança e da infraestrutura viária, portuária, ferroviária, hidroviária, aeroviária, bem como da folha de salários dos servidores públicos.
A máquina pública virou aquela placa de mel que as abelhas constroem e o formigueiro da corrupção vem, se lambuza, e come tudo, enquanto a população fica chupando o dedo. A bandalheira atingiu dimensão tal que vulgarizou-se, está se transformando em fato comum, normal, ameaçando de ser coisa generalizadamente aceita pela inércia, que provoca a apatia, a indiferença, fazendo a festa dos quadrilheiros.
A cara-de-pau, a sem-cerimônia, a sem-vergonhice e o faz-de-conta que se é sério levam os meliantes a exibirem sorrisos e sarcasmos diante das câmeras de TV, confiados na impunidade, a novíssima figura jurídica tornada jurisprudência pelos neo-donos do Poder.
Mais de 200 brasileiros morreram pela criminosa omissão do Governo quanto ao destino do setor aéreo e de seus usuários. Foi uma tragédia anunciada, porque não faltou aviso de que aquela pista de Congonhas não oferecia condições para funcionamento. Aliás, é o próprio aeroporto que não tem mais condições de funcionar no local onde fica, densamente habitado, sendo o aeroporto mais movimentado da América Latina, operando com 50% acima de sua capacidade. É uma bomba no centro da capital paulista.
Não deram atenção aos avisos e deu no que deu, e é de se esperar mais tristes ocorrências, pela leniência, ineficiência, conveniência e indiferença do comando da nação, comando este que flutua nas benesses do Poder, cego ao mundo em sua volta.
Vôos 1907 e 3054, duas histórias para os macabros anais da aviação brasileira, ligadas pelo elo da irresponsabilidade e da incompetência, caos aprofundado pela escavação dos dutos da propina e da rapinagem dos cofres públicos.
Para as almas ceifadas no vôo 3054: Requiescat in pace, nos braços do Senhor.
Mas, a vontade era desejar: Requiescat in profundis, para os responsáveis pela tragédia.

José Virgolino de Alencar em 19/07/2007

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