segunda-feira, julho 23, 2012

NOVELHO - O novo que é velho


José Virgolino de Alencar

Os adeptos do Governo Lula/PT, agora sob o comando de Dilma, tentam convencer o país de que está sendo praticada uma política nova, um modelo moderno na gestão pública, uma diretriz renovada na política econômica. E ainda, de forma que chega às raias do absurdo, argumentam que é o governo da ética e da moral. Nunca se viu avaliação tão fora e tão na contramão da realidade.

O governo que tomou o poder em 2003 foi alçado na onda de um fenômeno eleitoral e de uma expectativa apoiada na esperança de que muita coisa mudaria, de que o novo ideário daria uma guinada para a esquerda socialista conciliada com a democracia liberal. Mas, até pelo arcabouço estrutural, institucional e legal vigente no país, sabia-se que isso seria impossível, inconcebível mesmo.

O governo se obrigou, ao tomar posse, respeitar a Constituição, as leis, os princípios que norteiam a democracia brasileira, com prevalência da livre iniciativa, competitividade e a exigência de manter o país inserido no contexto da globalização econômica, onde o mercado é que dá as cartas do jogo. O presidente desfez na posse o que pregara na campanha. E o sistema encarregou-se de enquadrá-lo.

Assim, na gestão orçamentária e na execução financeira, não teve e não tem como deixar de cumprir as normas da velha Lei 4.320, de março de 1964, em pleno vigor, conjugada com a Lei Complementar 101/2000(Lei de Responsabilidade Fiscal). Na política fiscal-tributária, o governo não pode fugir de outra antiga norma, a Lei 5.172/66(Código Tributário Nacional).

A estrutura da máquina administrativa pública é definida rigidamente na Constituição Federal(arts. 37, 38, 39, 40, 41 e 42) e, mesmo com emendas, não sofreu mudança na filosofia, não se alterou o modelo na essência. Nada apareceu de novo na área da educação, na saúde, na infraestrutura, aeroviária, rodoviária, ferroviária, portuária e hidroviária, a não ser o sucateamento e fossilização desses setores.

Como, então, se dizer novo em estruturas velhas, carcomidas, ultrapassadas? É um engodo, uma mentira, e esta tem pernas nanicas. A novidade foi o triste aumento dos escândalos, gestados nas entranhas da máquina pública, onde, em todos os casos, encontrou-se metido alguém importante do governo e de sua base aliada.

De Valdomiro, do mensalão, do valerioduto, do dinheiro na cueca, dos forjados empréstimos do Banco Rural, do verasduto(Caso Zuleido Veras que derrubou o ministro Rondeau), do caos aéreo, o Renangate e sua boiada virtual, até o festival de escândalos do Cachoeira, o governo esteve sempre enrolado em denúncias, em episódios suspeitos, valendo-se da surrada tropa de choque para blindar os membros mais importantes do sistema de poder.

Aliás, a história dos negócios pecuários virou mania nos aliados do governo. Além de Renan, apareceram com bois virtuais os Senadores Joaquim Roriz e Leomar Quintanilha. A pecuária dos políticos, embora ninguém veja os bois, é a mais rentável do mundo e a que tem a melhor tecnologia para criar bovinos de qualidade que faz inveja ao primeiro mundo..

O Brasil vive essa enganação e, pasmem, com a perspectiva de longeva durabilidade. É o novo com cheiro de mofo e incrivelmente imune à dedetização. Mas, para este governo, vale, pela atualidade, a frase de Eça de Queiroz, dita por um personagem de O Conde de Abranhos:
“O governo não cai, porque não é um edifício; sairá com benzina, porque é uma nódoa”.

Um comentário:

Unknown disse...

A Contradição entre os polissêmicos interesses do Povo e a arcaica ideologia política...

Penso que está na hora de atualizar nosso “consuetudinário político”... ...Devemos esquecer as ideologias de esquerda, de direita ou de centro, essas excrescências nunca poderiam ter existido muito menos permanecido e estar servindo para enunciar ideias modernas em nome da Ciência política ou da “Política Convencional”. Ora! Mas por quê?... Porque ela só representa interesses escusos de grupos com poder político, nunca os interesses lícitos e legítimos dos estratos da sociedade, que têm uma abrangência muito maior no contexto de suas necessidades individuais e coletivas.

Não podemos mais conviver com a ambiguidade dominadora dessa trilogia ideológica arcaica. Isso é muito pouco para traduzir a tendência às políticas de objetivos, que é polissêmica, pois aponta para todos os quadrantes desses interesses, constituindo-se na “Rosa das ideologias sociais”, embora formadora da contradição aos fundamentos naturais da organicidade do Estado constituído, que deve agir como regulador, não autocrático.

Enquanto essa organicidade é uma imposição para desenvolvimento e harmonia da sociedade moderna, a polissemia dos interesses é a natureza do ser antropológico interagindo na sociedade, que, embora suporte a moderação organizacional do Estado, não permite freios ao seu princípio...

Isso tudo, meu caro José Virgolino, é consequência dessa surrealistica anomalia que trato acima.

Delmar Fontoura.