sábado, junho 23, 2012

Viva a resistência?

Vítima do Terrorismo

Por: Redação Midia@Mais

Esquerdistas têm comparado a guerrilha brasileira à Resistência Francesa para justificar não ouvir os “dois lados” durante a Comissão da Verdade. Mas será que essa comparação procede?

Tornar iguais coisas desiguais tem sido um recurso retórico da esquerda ao longo dos anos. “Os resistentes franceses também fizeram atos violentos contra colaboradores do Exército alemão durante a Segunda Guerra, e nem por isso alguém teve a ideia estúpida de criminalizar suas ações”, escreve Vladimir Safatle, professor da USP, em sua coluna na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/44262-toda-violacao-sera-castigada.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/44262-toda-violacao-sera-castigada.shtml).

Comparar os terroristas brasileiros da época do regime militar aos românticos partisans da 2ª Guerra pode acuar os defensores de uma Comissão da Verdade que apure, também, os crimes cometidos por aqueles. Se a Resistência podia conspirar e matar em nome da liberdade, por que não nossos guerrilheiros?

O raciocínio, entretanto, não se sustenta – ou se “sustenta” com a mesma “solidez” dos que imaginam poder comparar Guantánamo às prisões cubanas dos comunistas ou às iraquianas de Saddam Hussein. Vejamos:

A Resistência Francesa lutava contra um invasor externo (no caso, contra a Alemanha nazista). A guerrilha brasileira, contra um grupo de militares brasileiros que defendia a soberania nacional.

A Resistência Francesa queria expulsar o invasor estrangeiro. A guerrilha brasileira queria tomar o poder para implantar um outro regime (socialista).

A Resistência Francesa só passou a existir depois da guerra e da invasão estrangeira. A guerrilha brasileira, ao contrário, já se agrupava e tramava antes do início do regime militar.

A Resistência Francesa tinha uma composição ideológica heterogênea (seu maior símbolo e líder foi o militar Charles de Gaulle, que não era esquerdista), embora pudesse ter entre seus membros comunistas também. A guerrilha brasileira era composta somente por extremistas de esquerda (socialistas de diferentes vertentes).

A Resistência Francesa trabalhava pelo próprio país. A guerrilha brasileira fazia parte do movimento socialista internacional, recebendo treinamento e comandos variados de nações estrangeiras (Cuba, China, URSS).

A Resistência Francesa era legitimada pela maior parte dos franceses (intimidados pela presença do invasor estrangeiro). A guerrilha brasileira, por sua vez, era vista com desconfiança, repulsa, temor ou simplesmente indiferença pela população brasileira da época.

A Resistência Francesa envolveu e mobilizou secretamente variados representantes da sociedade francesa: patrões, homens da igreja, militares e aristocratas, além de universitários, jornalistas, engenheiros, pessoas das classes média e alta, assim como pequenos artesãos e operários. Mesmo grandes indústrias francesas estiveram envolvidas em suas atividades [*]. A guerrilha brasileira, ao contrário, teve alcance limitado a um pequeno grupo muito mais homogêneo, composto basicamente por estudantes, intelectuais e militantes habituais da extrema esquerda.

A Resistência Francesa trabalhava em um ambiente de guerra mundial, impossibilitada de qualquer movimentação de caráter político. A guerrilha brasileira, por sua vez, agia pelo terror enquanto outras forças e lideranças atuavam no campo político, dentro e fora do país.

A França estava, enfim, envolvida em uma guerra de proporções nunca antes imaginadas. O Brasil não estava em guerra nos anos 1960/1970.

E a comparação mais extravagante: a Resistência Francesa lutava contra os nazistas, um dos grupos ideológicos mais perigosos, cruéis e bem articulados da história da humanidade, capazes das piores atrocidades em nome de seu projeto de poder e transformação mundial. A guerrilha brasileira, longe disso, lutava contra um pequeno grupo de militares nacionalistas levado a agir e interferir na história brasileira com o nítido objetivo de impedir que o país mergulhasse no caos de uma ditadura comunista ou de uma revolução “popular” com consequências imprevisíveis (embora a História demonstre que praticamente todas as revoluções de cunho socialista levem inevitavelmente a banhos de sangue, massacres e tiranias duradouras).

Os nazistas, adversários dos resistentes franceses, mataram milhões de pessoas, das mais variadas formas, incluindo-se especialmente aquelas utilizadas nos campos de concentração. Perseguiram, torturam e assassinaram segundo etnias e orientações religiosas. Os militares brasileiros, adversários dos terroristas brasileiros, teriam sido responsáveis pelo desaparecimento ou morte de cerca de 400 pessoas. Mas os próprios guerrilheiros brasileiros da época mataram cerca de metade desse número. A se aceitar a analogia de Safatle e procurando manter certa proporcionalidade, deveríamos considerar os judeus culpados pela morte de alguns milhões de nazistas em contraposição, o que realmente jamais aconteceu (nem nos delírios dos esquerdistas brasileiros ou dos neonazistas de qualquer parte do mundo).

Guerrilheiros brasileiros, iguais aos partisans da 2ª Guerra? Talvez nos melhores sonhos idealizados dos esquerdistas brasileiros a respeito do regime militar. Mas, honestamente, não, muito obrigado, tal comparação não procede e não pode ser usada para perdoar e esquecer os crimes cometidos pela guerrilha brasileira.

[*] http://pt.wikipedia.org/wiki/Resist%C3%AAncia_francesa

Um comentário:

Unknown disse...

A propósito dos movimentos da Comissão da Verdade:

Mistificação para Mitificar Verdades e Mentiras...

O que está por trás dessa página de nossa história política?...

Infelizmente o “Regime de Exceção Militar de 1964” ainda comemorará seu centenário sem que venhamos dar luz ao que esteve por trás dessa triste página de nossa história, pois os Petistas não permitem que essas “feridas” cicatrizem; que paire verdade sobre as verdades e mentiras e muito menos querem saber em que contextos ocorreram suas causas e consequências... Só estimulam o extremismo de paixões e sentimentos de revanchismo, pela “derrota” ou pela “conquista” que não houveram... ...pois sabemos que só houve perdas...

Por que não buscam respostas para as seguintes indagações:

- Em nome do que os militares tomaram o poder em 64?
- Se foram tão maus, como afirmam, o foram por quê?
- Indagações que não fazem:

- Por que só bem mais tarde surgiram as torturas?
- Por que só editaram o AI - 5 em 13 de dezembro de l968?
- Por que a história do Regime Militar registra a existência da “linha Dura”?
- A existência da “linha Dura” não é o contraponto de outra “linha”?
- Quem se insurgiu contra quem nessa “obliteração”?
- Existia ou não a “razão” que os Militares alegavam para o Novo Regime?

- Comparados aos “supostos agentes do mal”, contra os quais afirmam terem se insurgido, quem cometeu mais erros de gestão ou roubou mais dos Cofres Públicos?

- Se têm notícia de que algum militar, presidente ou não, tenha aumentado seu patrimônio desproporcionalmente ao seu “Soldo” durante os 24 anos que estiveram no poder?

- E Lula, Dilma, Dirceu, Palocci, Sarney, Collor, Renan e outros tantos, exemplos de dignidade e ética ilibada, em oito anos quanto aumentaram seus patrimônios?

E não me venham com a “estória das torturas”, que, embora descabidas, ocorreram em tempos de exceção em contrapartida ao “Terrorismo” de então, pois eu argumentarei indagando: em nome do que, uma e somente uma tortura, a de Celso Daniel, praticada em tempo de paz, foi tão covarde e cruel comparada a todas, que alegam terem sido praticadas pelos militares em tempos de exceção...

Que senso de justiça é esse através do qual querem punir “aqueles” e isentarem “esses”?

Se “aqueles” maus, há um tempo, ensarilharam suas armas nos quartéis, por que “estes” justos não ensarilham seus espíritos nos cordéis?

Por que o personalismo maniqueísta de um lado enuncia “heróis e vilões” quando sabemos que não houve... ...colocam o real na nebulosidade da dúvida ao continuarem avivando essas “feridas” e negando verdade sobre as verdades e mentiras, que se confundem na covardia do anonimato, mas por quê? Eu respondo! Porque, nesse caso, nem as supostas “verdades e mentiras são nobres”, pois, entre elas, existem falsos sentimentos tanto de júbilo quanto de dor, “rescaldo” de uma batalha entre irmãos da qual não resultaram vencedores, muito menos vencidos, mas que já está gravada como uma mácula em nossa história...

Ora gente! Chega de mistificação com essa tentativa de mitificar verdades e mentiras de nossa história, que ainda estão vivas em nossa memória...




Delmar Fontoura




Do: http://jpfontoura.blogspot.com/