quarta-feira, junho 13, 2012

Inverno tem cheiro de naftalina em Pernambuco

Téta Barbosa

Sabe quando o verão tem cheiro de protetor solar ou a primavera cheiro de jasmim (seguido pelo gosto de antialérgico)? Pronto, em Pernambuco o inverno tem cheiro de naftalina.

Isso porque, sem noção, como só os nordestinos (eu incluída) conseguem ser no quesito frio, é só nublar para sacarmos, como armas num duelo de bangue-bangue, echarpes, botas e casacos. Itens do guarda-roupa que, cansados de esperar aquela viagem para a Europa, pulam dos armários para as ruas, ainda com aquele inconfundível cheirinho de mofo.

Isso se deve a uma carência histórica responsável por uma síndrome gravíssima: a abstinência de inverno. Porque viver num país tropical e bonito por natureza é ótimo. Mas todo dia, cansa.

É como seu prato favorito. Você pode amar lasanha, mas vai comer lasanha todo santo dia para sentir o drama. Na hora que aparecer um feijão com arroz na sua frente, você vai traçá-lo como se fosse uma iguaria importada.

Assim é nosso desejo por inverno.

Em casos mais graves da síndrome acima citada, é possível encontrar pessoas usando luvas. Juro, alguns casos já foram registrados.

Uma característica dos enfermos desta condição é o êxodo urbano. Lá vamos nós, de mala e cuia, subir a serra com destino a Gravatá, Triunfo ou Garanhuns no intuito de sentir uma agradável e congelante temperatura média de 18 graus.

Apesar dos textos desta cronista que vos escreve serem repletos de ironias, sentir frio com 18 graus não é piada. É a mais verdadeira das sensações da Suíça Brasileira, como é carinhosamente chamada a cidade de Garanhuns.

Em casos raríssimos, a temperatura chega, no meio da madrugada, a 10 ou 9 graus. O que faz todo mundo ficar acordado só para saber como é sentir frio.

E assim, nos esbaldamos com os rituais do inverno: fondue de queijo, vinho, chocolate quente. Não acendemos lareira puramente por falta de madeira de reflorestamento, disponível nos hotéis e pousadas das cidades serranas do Estado. Não fosse isso, ia ter muita casa pegando fogo.

Para sentir frio no Recife a tática é outra: ir para um Shopping. Isso porque esses estabelecimentos comerciais diminuem a temperatura do ar-condicionado central para que, imagino, o quase frio incentive a venda das coleções de inverno.

Então, entre vitrines e manequins, é possível imaginar que no Recife faz frio. Claro que a sensação passa assim que você sai pela porta principal do mall.

E seguimos nos divertindo com o nosso não-inverno, porque um povo que não ri de si próprio, nunca poderá ser levado a sério.



Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e alhures. Escreve sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela tem um blog - www.batidasalvetodos.com.br

Um comentário:

Márcia Barcellos da Cunha disse...

Téta,
Parabéns! Divertido seu texto.É o que acontece mesmo.E quando alguma garota usa roupas de inverno misturas com ítens de verão?Um belo par de botas cano longo com bermuda bem curtinha... Abraço. Márcia