sábado, junho 02, 2012

Eu estou deprê, ou o mundo é depressor?

José Virgolino de Alencar

O artigo abaixo foi escrito em 2008. Mas, por circunstâncias, digamos, especiais, estou republicando, porquanto, ao reler, vi que pontos importantes do texto estão presentes no atual momento que estou vivendo.

Nos últimos artigos e crônicas que tenho escrito, os leitores/analistas têm identificado uma atitude ou um estado deprê, em razão de um renitente pessimismo expresso no que comento, diante do mundo atual e das perspectivas futuras para a humanidade.

Convença-se, ou não, quem quiser, mas posso assegurar que não se trata de uma problemática pessoal, situada no contexto de minha vida privada, a afetar as minhas reações íntimas, particulares.

Tenho como vitoriosa a minha trajetória de vida, pelo lado humano, pela via social, pela caminhada profissional, a formação educacional e intelectual, porque não dizer.

Nasci num sítio pobre do interior paraibano, às margens de um rio seco, passando lá os primeiros cinco anos da infância, em meio inóspito, desassistida, longe da civilização. Ao mudar para a cidade, aí teve início a jornada que me fez concluir o então curso ginasial, partir para a Capital do Estado, cursar o Liceu Paraibano, completar o curso superior, especialização e pós-graduação.

Ao entrar para os quadros da então Secretaria das Finanças estadual, em 01 de abril de 1959, nela fiz carreira funcional, prestei concurso para Auditor Fiscal, aposentei-me no cargo e continuei como Consultor Técnico da Pasta, hoje Secretaria de Estado da Receita, completando, neste mês de dezembro de 2008, 49 anos e 9 meses de Casa. Nela, fui de escriturário à chefia dos vários setores fazendários, até chegar ao cargo de Secretário de Estado das Finanças.

Paralelamente, fiz concurso para professor da Universidade Federal da Paraíba-UFPB, agora também aposentado da função. Minha esposa, funcionária concursada, é aposentada no cargo técnico de Ciências e Pesquisas Tecnológicas da Secretaria de Planejamento. Tenho uma filha Arquiteta, exercendo a profissão, e um filho concluinte do curso de Nutrição, onde é monitor e instrutor.

Nessa trajetória, nem sempre velejando em mar de rosas ou voando em céu de brigadeiro, às vezes até em céu de urubu, consegui sair das margens de um rio seco para morar às margens do Oceano Atlântico, na praia de Tambaú, ao lado do Cabo Branco, o ponto mais oriental das Américas, o primeiro a receber os raios de sol da manhã em toda a extensão do continente americano.

Vivo bem com a profissão, com a família, com o meio político e social do meu Estado, com a minha fé e minha ação pastoral na Igreja católica. Não tenho motivos pessoais para carregar angústias, dilemas existenciais ou qualquer fato perturbador que influa ou contribua com atitude negativista na vida emocional e espiritual.

Contudo, como não vivo olhando ou achando que o mundo gira em torno do meu umbigo, sendo um cidadão que pensa o mundo em todas as suas circunstâncias, políticas, econômicas, filosóficas, ideológicas, psico-sociais, religiosas, é daí que transparece um justificado pessimismo e questionamento sobre a perfeição do universo, misterioso e insondável.

Tantas injustiças, tantas desigualdades, mais atrocidades, guerras, violências, banditismo, terrorismo, rebeldias sem causa, distanciamento claro dos valores éticos, morais e espirituais, vícios, comportamentos inconvencionais na contramão do que deseja e precisa uma humanidade civilizada e harmônica, tudo isso bate na mente que pensa, que enxerga o desvirtuamento de tudo que se prega de bom, mas se pratica tudo de mau, fazendo brotar e consolidar uma visão conscientemente crítica, embora não destrutiva, porque a esperança ainda não sucumbiu.

É por aí que acho o mundo e as circunstâncias, que movem a vida coletiva, em sociedades organizadas, mais depressoras do que animadoras. Sinto-me impotente para influir e subverter essas perspectivas, conquanto creio que há muita gente boa, sábios, gênios, filósofos, pensadores, idealistas, que tem vez e voz universais capazes de dar novo rumo a esse conturbado mundo.

Como não perdi o senso, nem o juízo, acho e defendo que vale investir nos sonhos e manter vivas as esperanças.

Ainda que enfrentando ventos e procelas sacolejando a emoção, redemoinhando a mente, mas sem perder o rumo.



Um comentário:

Márcia Barcellos da Cunha disse...

Sr. José Virgolino,

De fato, não podemos nos considerar completamente felizes quando percebemos em nossa volta tanto sofrimento...Como ignorar a miséria material e moral...Qual é nosso papel junto ao próximo? Não podemos viver de maneira tão egoísta, pensando apenas em nossa tranquilidade conseguida com tanto sacrifício é verdade! Sim, o mundo é depressor pela falta de caridade, generosidade e honestidade. O senhor abordou de maneira brilhante este assunto.Realmente, é de doer a alma certas situações... Abraço. Márcia