quinta-feira, maio 31, 2012

Tiro&Queda 31.5.12 quinta-feira

  Eduardo Almeida Reis
   
Escrever – Acompanhei pela tevê pequenos trechos da entrevista dada pelo jornalista e escritor José Castello ao Roberto D’Ávila, que tisnou sua biografia no tempo em que andou a reboque do engenheiro Leonel de Moura Brizola, hoje representado no ministério do Trabalho pelo jovem Brizola Neto, sobrinho da inesquecível Neuzinha, que nos deixou em abril de 2011.

Castello diz que não é crítico literário, mas faz críticas semanais para o maior jornal do Rio e dá oficinas de literatura para incontáveis alunos. Nascido no Rio em 1951, José Guimarães Castello Branco mora hoje em Curitiba, sinal de que gosta de frio. Claro que não entendi nadinha da silva dos trechos que vi na tevê, porque literatura é um negócio assaz complicado.

Só sei uma coisa: escrever é muito gostoso. Só existe uma atividade melhor, que notória pudicícia me impede de dizer. Conto-lhes um caso, só um, ocorrido na manhã do dia em que componho estas bem-traçadas. Compromisso no centro exigia banho às 10h30 e táxi para chegar na hora aprazada.

Fiz a besteira de começar um suelto por volta das 10h, o assunto espichou e se transformou em crônica de 550 palavras. Fui ao banho às 11h, desesperado, e cheguei com atraso de meia-hora ao encontro marcado. Salvou-me o fato de ser o amigo  cidadão brasileiro: atrasou-se 45 minutos e chegou ao local do encontro achando que seu atraso foi perfeitamente normal.

Daí o conselho que dou aos leitores, sem ares de “oficina de literatura”: escrevam. A atividade é divertidíssima, podendo, às vezes, divertir os seus leitores, o que não impede que as cadelas nos xinguem.

Mudança – De mala e cuia, vou-me pro Bairro Santa Mônica, de Belo Horizonte, assim que descobrir aonde fica. Motivo: descobri que tem uma Rua Ministro Oliveira Salazar. Presumo que seja o professor António de Oliveira Salazar (Vimieiro, Santa Comba Dão, 28.4.1889 – Lisboa, 27.7.1970), catedrático da Universidade de Coimbra, alfabetizado, incorruptível, condutor da política de Portugal num período dificílimo da história europeia, chamado “ditador” pelos tolos que não sabem o que é uma ditadura hitlerista, stalinista, maoísta, polpotista & companhia ilimitada.

Onde estão os mortos pelos 41 anos de salazarismo. Cunhal, Soares e a besta daquele general com voz de zebrinha da tevê emergiram das quatro décadas de Estado Novo gozando perfeita saúde.

No tempo de antigamente, escrevi um livrinho que começava assim: “Ao contrário do que se possa imaginar, o primeiro-ministro de Portugal nos idos de 1140 não era o Sr. Dr. Oliveira Salazar; era o Sr. Dom Afonso Henriques, filho de dona Tareja e sobrinho de dona Urraca”. Almocei na cidade, excedi-me nos chopes e despachei um exemplar, via Correios, para o próprio Salazar. Duas ou três semanas depois, recebo em meu apartamento carioca, num conjunto de prédios que tinha dezenas de porteiros capitaneados por um português, envelope timbrado: “Governo de Portugal – Conselho de Ministros – Gabinete da Presidência”. Dentro dele, ainda em papel timbrado, carta assinada por um assessor de Salazar: “Em nome do Presidente do Conselho de Ministros, agradeço o livro que vossa excelência quis ter a gentileza de enviar-lhe”. Mostrei o papel ao porteiro-em-chefe. A partir daquele dia, sempre que passava pela portaria central, o digno português não se limitava a cumprimentar-me: batia continência em posição de sentido. Fora combatente em África.

Alguém já parou para pensar num governante que não rouba e não deixa roubarem? Teve oposição, é claro, mas em países conhecidos nossos seria morto a pauladas como se fosse um dos ratos, dos milhões que infestam o Prado, bairro belo-horizontino.

Sou dos raros salazaristas brasileiros e tenho um amigo, nascido nos Açores, advogado em Minas, que também é fã do professor de Coimbra. Não fosse o doutor António, Portugal teria sumido do mapa europeu por volta de 1940 e meu caríssimo confrade Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza não faria incursões anuais a Lisboa, ao Porto e à sua querida Ponte de Lima, terra dos Malheiros avoengos até hoje referta de Malheiros.

Como o leitor já deve ter notado, adoro o adjetivo referto. Vem do latim refertus,a,um ‘cheio, atulhado’. É pouco usado pela galera mais que referta de imbecis.

O mundo é uma bola – 31 de maio de 1850: fundação de Juiz de Fora, a Manchester Mineira, terra de gente que não gosta dos belo-horizontinos e vice-versa ao contrário. Em 2003, último voo de um Concorde da Air France. Em 2009, um Airbus A330 do voo Air France 447 cai no Atlântico matando 238 pessoas. Em 1469 nascia dom Manuel I, de Portugal, responsável pelo descobrimento oficial de um país grande e bobo. Em 1923 veio ao mundo Rainier III, príncipe de Mônaco, que teve o bom gosto de se casar com Grace Kelly. Em 1948 nasceu Marília Gabriela Baston de Toledo Cochrane, irmã de Mariza de Macedo-Soares, gente finíssima, minha boa amiga.

Hoje é o Dia Mundial sem Tabaco.

Ruminanças – “Não gosto de não gostar dos outros” (Júnia Figueiredo).

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