quinta-feira, abril 26, 2012

Tiro&Queda

 


Eduardo Almeida Reis
    

Esporte espetacular – As tevês estão refertas, o que significa dizer que estão cheias de esportes idiotas, com ênfase para o curling, o MMA e o rúgbi, aportuguesamento de rugby, team  sport in which players run with an oval ball, pass it laterally from hand to hand, and kick it.

Em matéria de esporte inteligente, nenhum se compara ao KFK, o KURO FU KO, que o terrorismo da moderna medicina, para variar, diz que mata em pouquíssimo tempo. É o tipo do esporte fantástico, porque você pode praticar sozinho, não envolve disputa, hostilidade, aquele negócio do tênis em que o sujeito procura jogar a bolinha na parte da quadra em que o outro jogador não está.

Famoso empresário mineiro ficou riquíssimo jogando tênis, justamente porque despacha a bolinha em condições de ser rebatida pelo outro “atleta”, por acaso comprador dos aparelhos produzidos pelo empresário. Vencendo a partida, o comprador, todo prosa, quintuplica as encomendas.

O KURO FU KO não dá ibope televisivo, motivo pelo qual nunca foi transmitido pelas emissoras que perdem horas com o curling, com o rúgbi e com a imbecilidade suprema do MMA. No país do BBB, KFK tem raríssimos adeptos, um dos quais é o philosopho que assina este belo suelto.

Pensei deixar o leitor curioso a respeito do KFK, mas seria maldade explicá-lo em nossa edição de amanhã. Portanto, aí vai: KO, com os pontinhos que não cabem no nome do esporte, é abreviatura de nocaute. FU são as duas primeiras letras de fundilhos, parte das calças ou dos bermudões que corresponde ao assento. KURO deve ser japonês pronunciando couro. Portanto, o esporte consiste em levar o assento a nocaute sobre o couro da bela poltrona da sala.

Revolta – Começo a quarta-feira lendo, como sempre, a crônica do Fernando Brant. Na Semana Santa encontrei-o de bermudão e chinelos, na última página do nosso caderno de Cultura, furioso com um templo, acho que evangélico, existente perto de sua casa. O dinâmico pastor tem alto-falantes que inviabilizam a existência dos que moram na Cachoeirinha, bairro pacato de BH, distante das estripulias goianas e brasilienses do empresário Carlinhos Cachoeira. Isso mesmo: o referido cidadão tem sido citado como “empresário do bicho”, qualificação que me parece deliciosa.

Careca e barbudo, o físico e escritor britânico Oliver Joseph Lodge (1851-1940), doutor em ciências no ano de 1887, foi parar no túmulo com a pecha de inventor do alto-falante. É aparelho de utilidade em raríssimos casos e de imbecilidade sonora na esmagadora maioria das ocasiões, fixo ou portátil, que tanto serve para os grevistas chatearem a humanidade com as suas reivindicações, como também serve para que muitas igrejas infernizem as vidas dos seus vizinhos.

Que fazer com um pastor que chateia Fernando Rocha Brant? Claro que sei e o leitor também sabe, mas não podemos dizer nem escrever porque seríamos processados, não pelo pastor, mas pela Justiça do Piscinão de Ramos. Pouco adiantaria Fernando mudar-se para outro bairro belo-horizontino, porque os templos abundam como abunda a pita, grande erva rosulada da família das agaváceas. Em favor da erva seja dito que abunda sem alto-falantes.

Sou mais ou menos vizinho do prédio mais feio da igreja católica em todo o planeta, mais feio ainda que a igreja projetada pelo Gaudí em Barcelona. Felizmente, não tem alto-falantes, o que não impede que a praça onde foi construída viva cheia de professores em greve e que numa praça próxima abundem eletricitários reivindicando supostos direitos através de alto-falantes.

Propaganda – O comercial radiofônico vai ao ar diversas vezes por dia: “Você oferece a ele o que há de melhor: a melhor alimentação, a melhor caminha...”. Nunca prestei atenção ao resto do comercial para não ficar saudoso dos meus casamentos. Pareceu-me claro, lógico e evidente que para oferecer a ele o que há de melhor, a locutora só podia pensar no marido, no deus do lar, que merece o que há de melhor, seja na alimentação, seja na caminha.

Mas, porém, todavia, contudo, dia desses ouvi o comercial até ao mais amargo fim. Sabem o leitor e a leitora quem é o “ele” da propaganda? Se não sabiam, fiquem sabendo: o cachorro, o cão/cidadão. Fiquei furioso.

O mundo é uma bola – 26 de abril de 1500: frei Henrique de Coimbra, OFM, celebra a primeira missa no Brasil. Em 1986, acidente nuclear em Chernobil. Em 2009, canonização de dom Nuno Álvares Pereira, nobre guerreiro português, que andou matando espanhóis a montões e a mancheias.

Em 1564, nascimento de William Shakespeare, isto é, uma das datas de seu nascimento. Parece que o Bardo nasceu uma porção de vezes.

Ruminanças – “Ditadura na Síria em guerra-civil: 10 mil mortes/ano; homicídios no Brasil democrático em 2008: 50.113. Pode?” (R. Manso Neto).

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