Eduardo Almeida Reis
Prisões – Prenderam Érika, tadinha, só porque mandou matar o pai para receber o seguro de um milhão e duzentos mil reais, do qual era beneficiária. Importância expressiva, que talvez desse para comprar o carro do filho do Eike, ainda amassado. Se consertado, o Mercedes McLaren vale mais.
Raros, raríssimos são os pais que valem R$ 1.200 mil. Daí o perigo dos seguros vultosos. Assustado com essa verdade, fui ver o valor do meu seguro, que orça pelos 200 mil reais. Dá para pagar a cremação, mas o Haroldo, proprietário do crematório, já disse que a minha é de graça.
Prenderam também um senhor de 57 anos acusado de vários estupros. Foi reconhecido na rua por uma de suas vítimas, estuprada em 1997 quando tinha 12 aninhos. Decorridos 15 anos, reconheceu o criminoso na rua e chamou a polícia. O cara tem uma cara inesquecível: é o tipo lombrosiano perfeito e acabado. Não dá para entender como podem as autoridades deixar que um cara, com aquela cara, ande solto por aí.
Antes lourinha de cabelos curtos, hoje de longos cabelos negros, Érika trabalhava numa casa de massagens na zona oeste do Rio, que ninguém sabe onde fica, mas a polícia civil mineira descobriu e trouxe a moça, hoje com 18 tatuagens. Tinha e tem uma no braço direito, que não anotei porque detesto tatuagens e tatuados. Vai ver que também tem piercing no umbigo, como tem uma porção de furos na orelha esquerda. A massagista e o estuprador logo estarão soltos, porque o país é grande e bobo.
Asneirada – De duas ou quatro patas, os burros lá vamos tocando as nossas vidas, mas os bípedes, não raras vezes, fazemos cada burrice de assustar nossos priminhos. Há séculos sem beber, resolvi me tratar à base de queijos franceses, que custam em BH mais que o dobro do preço de Bruxelas, Bélgica, país vizinho da França. Na falta de Freud, frete explica.
Na pressa com que circulo pelo supermercado, escolhi bandejetes de queijo brie: uma do Président, duas de um outro visivelmente mais cremoso, cujo nome não digo para que os leitores belo-horizontinos não esgotem os estoques, e duas de um outro de nome francês e preço igual aos demais.
Não é francês, mas de Cruzília, simpática terra sul-mineira, ressalvado o administrador de fazenda que nela fui buscar. Edentado feito o tamanduá-bandeira, magríssimo, noivo de uma fazendeira, era dos sujeitos mais burros que conheci: só perdia para o patrão que o contratou.
Terra também de fazendeiros ilustres, um dos quais, muito rico, residente em São Paulo, me disse numa exposição de gado: “Vou mandar meu avião te buscar em Juiz de Fora, sexta-feira, para passar o fim de semana lá na fazenda de Cruzília”.
Claro que não mandou seu bimotor. Comentei o fato com um amigo comum, que explicou: “Ele é muito distraído. Outro dia, esqueceu a mulher em Brasília e só percebeu à noite, em São Paulo, na hora do jantar, quando os filhos perguntaram pela mãe”.
Pois fique o leitor sabendo que o brie cruziliense custa o mesmo que os franceses e não perde para o Président, mas apanha de mil a zero do outro, cujo nome não digo.
Só impando – Impam o leitor e a leitora como impo diante da notícia de que o emergente Piscinão de Ramos pensa, mesmo, num trem-bala que ligue o Rio a Campinas.
E isso foi confirmado na mesma semana em que duas composições, trafegando nos mesmos trilhos mas em sentidos opostos, trombaram de frente em Sabará, MG. Felizmente não houve mortos, mas a trombada foi notável.
Impados ficamos todos, o leitor, a leitora e o philosopho, quando informados de que teremos o trem-bala. E o verbo impar se presta à maravilha para definir nossa situação, porque tanto significa respirar mal, ofegar, soluçar convulsivamente, como tem o significado de se mostrar repleto de alegria, não caber em si de contentamento com os feitos dos nossos políticos.
O mundo é uma bola – 21 de abril de 1506: termina com a morte de 2.000 pessoas, lançadas em fogueiras, suspeitas de praticar o judaísmo, o Massacre de Lisboa que durou três dias. Obra da Inquisição inventada pelo papa Gregório IX, depois de visitado pelo Anjo Gabriel, como sabemos desde sempre. Em 1792, enforcamento de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, no Largo da Lampadosa, no Rio. Em 1863, no Jardim de Ridván, Bagdá, Bahá’u’lláh, profeta da Fé Bahá’i, declarou Sua Missão e Seus Companheiros. Em 1960, fundação de Brasília, atual capital de um país grande e bobo.
Hoje, no Brasil, é feriado nacional, mas é também o Dia da Latinidade, do Metalúrgico, do Têxtil, da Polícia Militar, da Polícia Civil e do aniversário de Roma, que fica na Itália.
Ruminanças – “Quase todos os que sofrem de depressão não devem lutar para superar seu quadro disfórico, porque têm motivos de sobra para continuar deprimidos” (R. Manso Neto).
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