sexta-feira, abril 27, 2012

Preconceito Renitente

Girley Brazileiro

O Brasil cresceu rapidamente no passado recente, graças aos esforços desenvolvidos internamente e, ao mesmo tempo, aos avanços tecnológicos que se ofertam em nível mundial. As telecomunicações, os transportes aéreos, os avanços na área da saúde e da educação e, enfim, a globalização econômica foram fatores propulsores dessa transformação. Como resultante, nota-se, hoje, uma integração bem maior entre os brasileiros das diferentes regiões. Belém, Recife, Fortaleza, Salvador e Porto Alegre são metrópoles vibrantes pouco devendo aos tradicionais polos do Rio e São Paulo, guardando, é claro, as proporções de tamanho. Fico muito entusiasmado em testemunhar tudo isto.

Contudo, há coisas que você não consegue entender. Passei o fim de semana passado em São Paulo. Eu gosto muito daquela cidade. O movimento cultural, o comércio as opções gastronômicas, entre outros atrativos, fazem a minha cabeça. Morei algum tempo por lá e sei encontrar tudo que quero com facilidade. Sinto-me em casa. Mas, tem uma coisa que não consigo engolir dos paulistas, que é o preconceito que historicamente alimentam, em relação aos nordestinos. Eu pensava que o referido processo de integração podia diluir essa praga e, pelo visto, não acontece. Os paulistas adoram vir às praias do Nordeste e se refestelar nos luxuosos resortes e pratos típicos regionais. Dançam, comem e, se pudessem, não saiam das águas quentes dos mares nordestinos. Voltam com saudades. Tadinhos... Com razão, porque lá não tem nada igual ou parecido. Porém, contudo, todavia, via de regra, não conseguem abandonar as teias do preconceito. Só eles fazem tudo melhor, só eles são educados e somente eles podem dominar a cena nacional.

Não, eu não fui maltratado durante o fim de semana, quando da minha passagem pela cidade. Ao contrario, fui bem recebido por onde andei e passei bem com minha família. Minha revolta foi ao procurar – na Folha de São Paulo On line – noticias sobre o show de Paul McCartney no estádio do Arruda, no Recife, na noite anterior (sábado, 21.04.12) e dei de cara com uma reportagem lamentável, depondo contra a plateia e mesmo o ex-Beatle. O cidadão – editor assistente da Folha Ilustrada, de nome Rodrigo Levino – reduziu, com poucas palavras, o espetáculo como sendo uma coisa sem propósito, devido ao publico e o local. Afirmou que a plateia, na maior parte do tempo, se dividiu entre a apatia e a dispersão. Dessintonizada do artista, somente se ligando por três vezes durante a execução de algumas músicas clássicas do grupo britânico e, certamente, deslumbrados com a simultânea queima de fogos. Ou seja, reduziu os nordestinos a reles analfabetos culturais. Continuou dizendo que “...houve um descompasso visível que prejudicou o bom andamento do show”. E concluiu desafiando os recifenses a reaver o tempo perdido, no segundo show, realizado na noite do domingo. MacCartney fez duas apresentações no Recife, atraindo publico do Brasil inteiro, principalmente da Região Nordeste.

Aquela reportagem me deixou lamentando profundamente o insucesso que se registrava. Insatisfeito, acessei os jornais do Recife e encontrei outra forma de relato. Mesmo sendo jornais pernambucanos – que, por óbvias razões, poderiam incensar a promoção – cheguei à conclusão de que não foi bem aquilo lá divulgado pela Folha. Ao invés de apatia havia ocorrido uma sinergia coletiva, uma vibração sem tamanho e o cantor se mostrou, várias vezes, satisfeito com as reações do publico, de quase 60 mil pessoas. O editor da Folha diminuiu o publico para 40 mil. Fiquei sabendo que durante o show, McCartney ensaiou algumas palavras em português e fez tremer o Mundão do Arruda ao chamar o pernambucano de “povo arretado” e para terminar se despediu desfraldando a bela bandeira de Pernambuco (vide foto). Soube de nego que despencou no choro. Enfim, foi o maior sucesso.

Acho que a Folha de São Paulo, para ser honesta, devia ter posto uma manchete de capa noticiando o show do Recife – foi uma estreia nacional da turnê – como faz quando acontece em São Paulo. Mas, não! E sabe qual foi a capa da Folha impressa? A atriz Adriana Esteves (com foto imensa) elogiando o “bom” caráter da vilã que desempenha na novela da Globo. Tenha dó... Voltei ao site da Folha e fui ler as reações dos leitores. O tal do Levino – que está mais para leviano – editor assistente estava sendo descascado. Só não foi chamado de jornalista. Mas, foi chamado de tudo que não presta. Os depoimentos dos que assistiram ao show – pernambucanos e forasteiros, inclusive paulistas – são testemunhos do sucesso. Tenho prá mim, que uma coisa que pegou foi o fato de que McCartney teve que fazer duas apresentações no Recife, para atender a demanda do publico. Isto, até hoje, só se registra normalmente na Paulicéa tamporosa. É chato...

Agora, me digam mesmo, não é uma vergonha? Temos que lutar contra o preconceito escancarado e publicado, por quem faz a opinião publica nacional, porque sendo a Folha uma jornal lido no país inteiro, estamos roubados! Se esses dois shows fossem no Morumbi, a Folha teria pauta para uma semana. Mas, como foi no Nordeste, não se constituiu num acontecimento. Dá-lhe Recife! Abaixo os editores desonestos para com o povo brasileiro e o preconceito renitente.

Um comentário:

Hugo Caldas disse...

Liga não, Girley
Esses paulistas sempre foram superiores mesmo. Estão aí, O Quérca, o Maluf, o Ademar de Barros e o Pitta que não me deixam mentir. Hugão