quinta-feira, março 29, 2012

Tiro&Queda





Eduardo Almeida Reis



Midiáticas
– Você sabia que o Hospital Albert Einstein fica na zona sul de São Paulo? Se não sabia, console-se comigo, mas agora sabemos graças ao noticiário radiofônico sobre a cirurgia a que foi submetida a apresentadora Hebe Camargo.

De uns tempos a esta parte, a imbecilidade cardeal (ponto cardeal: cada uma das quatro direções da rosa dos ventos correspondentes ao norte, ao sul, ao leste e ao oeste) tomou conta da mídia brasileira, com ênfase para a falada, ninguém sabe por quê.

Não há notícia sobre Belo Horizonte que não especifique se o fato ocorreu na zona norte, zona oeste, zona sul ou zona leste, como se isso enriquecesse a notícia, esclarecesse o fato, adiantasse alguma coisa. Se o roubo, a trombada, a agressão – se o fato ocorreu no centrão, na Savassi, em Lourdes ou em Venda Nova, tudo bem: a especificação do local ajuda o ouvinte a entender a notícia, sem que entenda como puderam ocorrer os crimes. Mas zona leste, zona sul, zona oeste, zona norte, senhoras e senhores radialistas, tenham a santa paciência!

Dizer o quê? – Nada pior do que ficar naquele “diadema retrós”: escrevo, não escrevo, será que escrevo, dizer o quê? O tema primum da entrada do outono foi o acidente em que Thor, filho do Eike, atropelou e matou um ciclista na BR-040.

Eike é o sujeito mais odiado do Brasil, país em que ser rico é crime e ele é um dos mais ricos do mundo, o sétimo, salvo engano. Matérias impressas, comentários radiofônicos, reportagens televisivas sobre o acidente. Nos dois táxis que tomei logo no primeiro dia outonal, os motoristas só falavam do acidente. Presumo que o leitor também tenha falado, ainda que somente com os seus botões.

A esmagadora maioria dos âncoras das rádios e tevês não tem raiva do Eike, tem ódio mortal, porque a inveja é uma m., di-lo o plástico dos para-brisas. Por isso, resolvi defender o jovem Thor de Oliveira Fuhrken Batista, até saber que seu pai contratou o advogado Márcio Thomaz Bastos para defender o menino. Desisto. Não suporto o ex-ministo de Lula da Silva.

Errores – Há pessoas que deveriam se comportar de uma forma e contrariam o desejável: muitos políticos têm a obrigação de ser honestos, sem que o sejam.

Com as palavras acontece a mesma coisa. Escrevi caixa toráxica, porque fica no tórax, mas o correto é torácica. Diz o Google, nas 105 mil entradas para “toráxica”, que o certo é torácica, mas o erro tem sido anotado até em textos médicos. Errei, sim, manchei o meu nome, como anotou ilustre montes-clarense professor de português. Dou a mão à palmatória e não se fala mais nisso, ok?

Antes, porém, quero dizer que o Aulete/digital tem toráxico com a indicação “ver torácico”. Ora, bolas, quando o sujeito está atrasado de costura e encontra toráxico num dicionário respeitado, o erro é perdoável.

Dilema atroz – Com o iPad 2 custando agora mil e duzentos reais, pensei comprar um deles em dez prestações de R$ 120, mas esbarrei num problema de solução dificílima: não faço a mais mínima ideia da serventia de um iPad 2. Um amigo me disse: “O iPad resolveu todos os meus problemas. Agora, posso ler os jornais na fazenda”.

Acontece que já não tenho fazenda nem sou diretor de dois grandes jornais. Assino os dois em que escrevo e os recebo em casa. Consultada, minha orientadora informática diz que o iPad 2 não terá a menor serventia para mim, a não ser para doar a um neto. Já seria belo investimento, considerando que o neto mais velho está estudando informática.

A orientadora informa que, para mim, talvez fosse mais interessante, ou menos desinteressante, um Samsung. Nesse dilema, termino o quarto charuto do dia e vou ao leito. Pela atenção, muitíssimo obrigado.

O mundo é uma bola – 29 de março de 1867: o Reino Unido anexa o Punjab, “Terra dos Cinco Rios”, região do subcontinente indiano dividida entre a Índia e o Paquistão. Gregos, persas, árabes, turcos, mongóis, afegãos, balúchis e siques precederam os britânicos no domínio da região em que 90% dos habitantes se expressam em panjabi.

Em 1934 Albert Einstein perde a cidadania alemã. Em 1998, inauguração da Ponte Vasco da Gama sobre o Rio Tejo: é muito bonita. Em 1875 nasceu o português Antônio Pereira Inácio, que emigrou para o Brasil e fundou o Grupo Votorantim, onde pontifica seu neto Antônio Ermírio de Moraes.

Ruminanças – “Não há nada mais relapso do que a memória. Atrevo-me mesmo a dizer que a memória é uma vigarista, uma emérita falsificadora de fatos e de figuras” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).

Nenhum comentário: