sexta-feira, março 02, 2012

O MEC pirou de vez



Edgar Flexa Ribeiro




O educador Edgar Flexa Ribeiro escreve artigo sobre as constantes trapalhadas do Ministério da Educação (MEC). Ele critica as confusões do Enem, o emprego da norma culta da língua colocado em dúvida, o kit homofobia e a intromissão no seio das famílias.

Não há mais lugar para dúvidas: o Ministério da Educação não sabe o que é uma sala de aula, nem sabe o que é uma escola. Não conhece os professores. Não sabe a que são obrigados para cumprir o mínimo que se espera deles.

Presidente Dilma exigiu alteração do kit lançado pelo MEC

E, sem mais aquela, os convoca para lidar com um tema importante, delicado, que repercute na intimidade e nas convicções das famílias. Tema para o qual o magistério não foi preparado para trabalhar em sala de aula ao longo de sua formação.

O MEC não conhece as famílias, e nem as respeita, nem às suas convicções - certas ou erradas. Pais, mães, ambientes domésticos não importam para os educocratas. Eles sabem tudo, determinam tudo, aprovam e reprovam a seu talante idéias, medidas e providencias que flutuem a seu redor.

O MEC gosta mesmo é de pegar onda. Singrar os mares em cima de qualquer idéia simpática que lhe cruze o caminho. Não pensa, não indaga, não examina. Não ouve ninguém e parte para a ação: imprime, edita, distribui, obriga, compele e atrapalha-se a cada momento.

O MEC malbarata a esmo recursos públicos sabidamente escassos. Joga dinheiro público pela janela, em iniciativas que se destroem em pouco tempo.

É uma estrutura pública que vaga sem limites, sem propósito, sem metas, sem controle. Combater a homofobia é uma boa e bela causa. De modo geral, toda e qualquer "fobia" deve ser mantida sob controle. As fobias são o colapso da razão. Qualquer uma.

Mas elas são parte de nós, vicejam nos mesmos campos em que vivemos todos. Sentimentos arraigados, com raízes profundas naqueles que as compartilham.

Vencê-las não é tarefa de resultados imediatos. Leva tempo, exige esforço continuado. Como se atreve o MEC a distribuir material de uso em sala de aula, se ele sabe que os profissionais a quem caberá empregá-lo não foram formados para isso?

Considera os riscos, os sofrimentos, as perplexidades de crianças, jovens, pais e mães? Não, os educocratas não se preocupam com o mundo real. A causa é justa, a idéia é boa, o material está ali mesmo. Por que não produzi-lo em massa? Por que não distribuí-lo às escolas como se distribui a merenda?

E periodicamente as trapalhadas do MEC param o país. É o Enem que se embaralha todo, é o emprego da norma culta da língua que é colocado em dúvida, é a intromissão brusca no seio das famílias violando sua intimidade.

Esses despautérios todos, sobretudo este último, terminam por acirrar o que pretendia estar combatendo. Só o MEC consegue isso: dizendo que vai combater a homofobia acaba por excitá-la. Ah, esse MEC...


Edgar Flexa Ribeiro - é educador, radialista e presidente da Associação Brasileira de Educação. Fonte: http://www.interiordabahia.com.br

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